Por Patricia Tai (da Redação)
Um fotógrafo da National Geographic foi preso no dia 28 de junho ao ser pego voando de paraglider sobre um local que funciona como fazenda de criação de bovinos e matadouro em Kansas, para tirar fotos. As informações são da Care2.
A especialidade do renomado fotógrafo George Steinmetz é a fotografia aérea.
Fixado em um paraglider, ele captura imagens impressionantes desde paisagens de desertos até savanas africanas. Não era por acaso que ele estava sobrevoando no dia 28 de junho, uma fazenda de confinamento de animais em Kansas: ele tentava obter imagens para um atual projeto sobre questões alimentares.
Steinmetz e seu assistente Wei Zhang não tinham permissão do proprietário da fazenda para lançar seu paraglider sobre o local.
Um funcionário da fazenda notou o paraglider sobrevoando a propriedade, assim como o veículo desconhecido estacionado nas proximidades, e alertou a polícia. Steinmetz e Zhang moveram-se para outro local, mas foram presos mesmo assim.
As autoridades levaram os dois sob custódia. Eles ficaram presos por algum tempo e foram liberados após pagarem uma fiança de 270 dólares.
“Nós temos uma obrigação para com o proprietário da fazenda, uma vez que eles adentraram na propriedade sem permissão e isso foi claro”, disse o delegado Kevin Bascue ao NorthJersey.com.
A Associação de Criação de Gado de Kansas (Kansas Livestock Association – KLA) acredita que esta seja uma questão “de segurança alimentar”.
Todd Domer, porta-voz da KLA, disse ao Hutch News que uma situação como esta envolve questões de biosegurança. “Qualquer atividade não autorizada e suspeita nesse sentido deve ser informada às autoridades locais”, disse ele.
Até agora, este caso não foi caracterizado como “ag-gag”, embora os rumores sobre as circunstâncias causam esta impressão.
O termo “ag-gag” foi cunhado pelo jornalista culinário pró-vegetarianismo Mark Bittman e não tem tradução para o Português, mas pode ser entendido como “mordaça”. As leis “ag-gag” são, portanto, as que criminalizam quaisquer registros em foto ou vídeo que tenham como objetivo a investigação da produção de comida, especialmente a carne, em locais não autorizados. O assunto foi pauta de uma matéria publicada na ANDA em abril deste ano.
Em 1990, Kansas aprovou a primeira lei “ag-gag”, conhecida como “Kansas Farm Animal and Field Crop and Research Facilites Protection”. Entre outras coisas, a lei proíbe indivíduos de tirarem fotos ou filmarem dentro de instalações que criam animais para consumo humano e que não sejam abertas ao público.
A primeira alegada tentativa de violação desta lei ocorreu no início deste ano em Utah. A ativista Amy Meyer foi presa e acusada de violação por ter usado seu celular para filmar uma vaca sendo movida por um trator dentro de um matadouro.
Conforme publicado pelo jornalista e ativista Will Potter no blog independente Green Is The New Red:
“Amy Meyer queria ver o matadouro por si mesma. Ela tinha ouvido falar que quem passava nas proximidades podia ver os animais, então ela se dirigiu ao matadouro Dale Smith Meatpacking, em Draper City, Utah, e a partir da estrada, ela podia ver através da cerca de arame farpado. Pilhas de chifres estavam espalhados pelo imóvel. Vacas lutavam com os trabalhadores que tentavam levá-las para um edifício. E uma cena em particular a fez parar.
“Uma vaca viva que parecia estar doente ou ferida sendo levada do local em um trator”, disse Amy, “como se ela fosse nada mais do que escombros”.
Enquanto testemunhou isso, Amy fez o que a maioria de nós faria na era dos smartphones e YouTube: ela gravou.
Amy foi surpreendida por um funcionário do matadouro e foi presa. Após muito clamor público, as autoridades retiraram as acusações”.
Assista à entrevista com Will Potter falando sobre o caso de Amy Meyer no YouTube:
Segundo a reportagem, a possibilidade de Steinmetz ser acusado de contravenção desta lei é questionável, pois ao voar sobre a instalação, ele não “entrou” na propriedade. A questão de saber quão longe acima do chão da propriedade a distância estará dentro da legalidade permanece indefinida.
De acordo com um artigo publicado sobre este incidente no Slate.com, o governo federal considera a área acima de 500 pés (152 metros) como espaço aéreo trafegável em áreas descongestionadas. Indiscutivelmente, isso significa que a propriedade privada do espaço aéreo “provavelmente estende-se entre 24 e 150 metros acima do chão”. Este fator pode ser o que explica a acusação contra Steinmetz e Zhang não ter sido incluída na alegação de invasão ou “ag-gag”.
Um procurador do gabinete da prefeitura do condado emitiu uma declaração em um comunicado, esclarecendo a natureza das acusações neste caso, em que dizia:
“Muita discussão se seguiu a respeito da prisão do Sr. Steinmetz e seu assistente com relação ao direito de uso do espaço aéreo e de tirar fotografias. As acusações de maneira alguma são relacionadas a estas duas questões, e sim ao direito dos proprietários à privacidade e ao controle de suas instalações”.
Não está claro o que o futuro reserva para George Steinmetz. Ele comentou em uma entrevista há algum tempo que ele havia sido preso uma vez, enquanto tentava tirar fotos aéreas, portanto isso deve ser um território familiar a ele.
A National Geographic divulgou em um comunicado que a empresa acredita que Steinmetz não tenha burlado a lei, e que está aguardando maiores informações. Se o assunto requerer ação legal, a instituição informou que irá prover defesa jurídica para ele e seu assistente.
Assine a petição contra as leis “ag-gag”.