Fotógrafo brasileiro com experiência em clicar imagens subaquáticas e animais marinhos, Daniel Botelho participou de uma expedição de dez dias ao Polo Norte, no início do mês de junho, e retornou ao Brasil há cerca de uma semana. Ele fotografou icebergs, paisagens de gelo e grupos de baleias narval – animais naturais do Ártico, conhecidos pelo macho possuir uma presa parecida com um “chifre”, que é, na verdade, um dente de marfim que se projeta por até três metros da cabeça. O cetáceo, segundo a União Internacional para Conservação da Natureza (IUCN), também é conhecido como “baleia-unicórnio”.
“É um animal raro de ser fotografado”, disse Botelho. A viagem começou em Ottawa, no Canadá, e seguiu para um povoado remoto no norte do país chamado Arctic Bay. De lá, o fotógrafo seguiu de trenó por dois dias até chegar ao acampamento do grupo da expedição, que foi montado em uma região congelada do oceano.
O grupo explorou regiões de neve próximas à beira do mar, onde o gelo é fino e rachaduras formam-se com facilidade. As temperaturas fora da água chegavam a 30 ºC negativos, conta Botelho. “Nosso acampamento-base ficava recuado desse limite. Às vezes eram centenas de metros de gelo partido a partir de um certo ponto, que nos impediam de prosseguir. Isso foi uma das maiores dificuldades”, relata.
Roupas especiais, máscaras, luvas e equipamento de mergulho foram usados por Botelho, além de aparelhagem de fotografia preparada para imagens dentro do mar. “Eu pensava: ‘vou ficar com dor, vou queimar o rosto, mas eu sei que a vantagem de estar ali é interagir o máximo de tempo com o animal [baleia narval], para ele se acostumar à minha presença'”, afirma o fotógrafo.
Tanto esforço foi recompensado: Botelho chegou a nadar cerca de um quilômetro para longe do grupo, de expedição em um dos dias em que entrou na água, próximo ao local onde imaginava que as “baleias-unicórnio” estariam. O dia estava escuro, o clima era terrível, conta ele. Mesmo assim, uma baleia macho passou pelo explorador e se deixou fotografar.
Depois de algumas imagens, o fotógrafo decidiu nadar de volta para próximo de onde estava o grupo da expedição. “Aconteceu uma das coisas mais incríveis. Eu olho para o lado, sinto um cutucão na perta esquerda, é uma narval fêmea me cutucando, perto”, conta. Ele disse ter ficado chocado com o contato tão próximo do animal, que o seguiu. “Foi um momento muito especial”, relata.
“[O Ártico] É um ambiente lindo, singular, mas ao mesmo tempo um lugar onde é possível morrer facilmente” devido ao frio e às condições adversas, explica o fotógrafo. Ele ressalta que é a primeira vez que viaja à região do Polo Norte. Botelho chegou a ficar quatro horas dentro da água para fazer imagens de icebergs. O território, diz ele, é “maravilhosamente mortal”.
Fonte: G1