Segundo o G1 Mato Grosso, o dentista e fotógrafo nas horas vagas Ernane Junior, 39 anos, está concorrendo no Wildlife Photografher of the Year graças a um registro que fez em 2020 de uma onça-pintada suja de cinzas em área de queimada no Pantanal. Seu trabalho está representando o Brasil e o Mato Grosso em uma das premiações mais relevantes de fotografia do mundo.
O dentista várzea-grandense contou ao portal que costuma ir no pantanal do Mato Grosso nos fins de semana para fotografar a região, e quando fez o registro, que concorre na premiação já nas fases finais, ele retornava de viagem em um barco pelo rio Três Irmãos, no Parque Estadual Encontro das Águas, na região do Porto Jofre, quando quase de noite viu uma “onça preta” e pediu para voltar para a fotografar. “Na hora eu estranhei, porque sei que no nosso pantanal mato-grossense não tem dessa espécie”, relatou.
Ernane diz que a onça-pintada estava coberta de cinzas em uma região bastante prejudicada pelas queimadas do Pantanal, um dos piores desastres já vistos na região. 2020, ano que ele fotografou o animal, foi o pior desde a década de 1990 em relação a focos de incêndio registrados na área, segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). Para Ernane, fotografar o animal era essencial.
O dentista já viajou para a parte do Pantanal que fica no Mato Grosso aproximadamente 300 vezes, sendo que destas visitas, 50 foram realizadas apenas em 2020, devido à pandemia e às queimadas na região. Ele visita a área com sua câmera desde 2009.
Ele já foi para África, Chile, EUA, mas tinha convicção que se fosse reconhecido em premiações por algum de seus trabalhos, esses seriam registros do pantanal. “Sempre falei que se fosse ganhar alguma coisa, seria pelo pantanal mato-grossense”, fala.
Em 2021, ele e pantaneiros se surpreenderam com a aparição de quatro onças-pintadas fêmeas, com dois filhotes cada. Ernane conta que momentos inusitados como esse são avisados pelos locais, como quando acontecem eventos anormais tipo a concentração de jacarés ou de pássaros em uma árvore durante a lua cheia.
Pantanal em chamas
Um estudo feito por 30 pesquisadores de órgãos públicos, de universidades e de organizações não-governamentais especula que pelo menos 17 milhões de animais vertebrados morreram devido aos focos de incêndio do Pantanal, que ocorreram em 2020.
O estudo indica que as mudanças climáticas promovidas pelas ações humanas têm afetado a frequência, a duração e a intensidade das secas na região. As queimadas que vem ocorrendo constantes no ecossistema podem comprometer os ciclos vitais de mantimento do Pantanal, que normalmente é frágil em períodos sem chuva. As dinâmicas de fogo são esperadas no ecossistema, porém não no nível que vem acontecendo.
As perdas são irreparáveis para um ecossistema tão biodiverso como o Pantanal, que conta com 2 mil espécies de plantas, 269 peixes, 131 répteis, 57 anfíbios, 580 aves e pelo menos 174 mamíferos. Não se sabe o número de invertebrados.