Muitos animais selvagens chamam a atenção pela docilidade, por parecerem não se importar com o contato humano, como os pandas ou coalas. Mas, se esses animais forem salvos da extinção, eles poderiam virar animais domésticos? Segundo a médica veterinária e doutora em psicologia Ceres Berger Faraco, que estuda o comportamento dos animais, mesmo que esses animais sejam passíveis de domesticação, não devem ser retirados de seu habitat natural.
Segundo Ceres, primeiro temos que diferenciar os termos “domesticar” e “amansar”. O segundo se refere a um animal selvagem que está domado pelo ser humano, como ocorre em casos isolados, mas a domesticação envolve toda a espécie por diversas gerações. Mesmo os animais amansados têm problemas de comportamento e podem ser imprevisíveis.”Para a domesticação manter-se, deverá ser forçosamente caracterizada por um processo contínuo, constante e renovado sem cessar. Isto é que irá impedir o retorno dos animais ao estado selvagem. Este processo é focado na espécie e não no indivíduo”, diz a veterinária.
A especialista afirma ainda que a tentativa de domesticar uma espécie acarreta outros problemas a esses animais. “O panda e o coala, embora seu reconhecimento como símbolos de animais dóceis e potencialmente domesticáveis, pertencem a espécies de vida selvagem. Neste sentido, não podemos esquecer as consequências inexoráveis da retirada do ambiente selvagem, tais como estresse, alterações comportamentais por resposta às mudanças de habitat e a impossibilidade de expressar seu comportamento natural.
“Ceres explica que os animais precisam ter assegurado seu ambiente natural – física e socialmente – para ter atendidas suas necessidades e manifestarem seu comportamento típico. “Além disto, é sabido que o estresse devido a manipulação humana pode desencadear agressões inesperadas, e isto ocorre, mesmo em animais reconhecidamente dóceis como os pandas e coalas.
No caso dos coalas por exemplo, apesar de sua aparência infantil, sua docilidade e fragilidade existe a possibilidade de tornarem-se agressivos quando famintos ou por defesa já que são muito territoriais.”Segundo a veterinária, forçar um animal a conviver com o homem pode acabar com muitos problemas e acabar com seu bem estar.
“O resultado é o sofrimento e a evidência de alterações comportamentais – estereotipias. Para os animais de vida selvagem o espaço e o ambiente físico e social empobrecido são fatores de maus-tratos e incompatíveis com uma vida normal.”Por fim, a especialista afirma que o que devemos fazer é observar esses animais em seu habitat natural, e não forçar uma aproximação. “Admirar animais plenamente sadios a distância é não optar pela convivência forçada com animais que serão sempre uma sombra do que poderiam ser.”
Fonte: Terra