EnglishEspañolPortuguês

MEIO AMBIENTE

Florestas tropicais, uma lenta adaptação às mudanças climáticas

Pesquisa feita por mais de 100 cientistas de diferentes países, incluindo brasileiros, mostra que as árvores têm reações distintas às mudanças climáticas. Fatores como espessura das folhas e da casca influenciam fortemente na resiliência

7 de março de 2025
Isabella Almeida
5 min. de leitura
A-
A+
Foto: Ilustração | Freepik

As florestas tropicais, vitais para a regulação do clima mundial e para preservação da biodiversidade, enfrentam sérios desafios de adaptação às mudanças climáticas. Um estudo publicado, na revista Science, revela que as florestas tropicais das Américas não estão se ajustando às alterações climáticas no mesmo ritmo em que elas acontecem, o que levanta sérias preocupações sobre sua resiliência a longo prazo. A pesquisa multidisciplinar envolveu mais de 100 cientistas, incluindo estudiosos brasileiros, com o objetivo de analisar dados de 415 parcelas florestais que se estendem do México ao sul do Brasil.

Ao avaliar mais de 250 mil árvores, os pesquisadores analisaram como diferentes espécies têm respondido às mudanças de temperatura e padrões de chuva nas últimas décadas. O estudo mostrou que, embora o clima esteja mudando rapidamente, as florestas tropicais não estão acompanhando esse ritmo, o que pode comprometer a capacidade de adaptação e aumentar a vulnerabilidade.

O estudo revelou que as diferentes espécies de árvores reagem de formas distintas. Algumas mostram uma adaptação bem-sucedida, enquanto outras estão lutando para sobreviver. Fatores, como a espessura das folhas, a densidade da madeira e a capacidade de tolerar a seca influenciam diretamente nessa resiliência. Aquelas com maior resistência a mudanças climáticas, como as que são mais tolerantes à seca ou com folhagem mais grossa, têm mais chances de prosperar diante do aquecimento global.

Diferenças

Além disso, os cientistas verificaram que as florestas, localizadas em regiões de maior altitude, estão se adaptando mais rapidamente do que as matas de planície. A maior variabilidade climática nessas áreas elevadas parece ser um fator que acelera o processo de adaptação, contrastando com as áreas planas, onde o ajuste é mais lento.

Outro aspecto identificado na pesquisa foi que as árvores mais jovens apresentam mudanças mais visíveis em resposta às variações climáticas. No entanto, a composição geral da floresta permanece praticamente inalterada. Esse fenômeno indica que, embora algumas modificações possam estar ocorrendo individualmente de cada espécime da vegetação, o impacto geral nas florestas ainda é pequeno e insuficiente para garantir adaptação a longo prazo.

Conforme Simone Vieira, professora da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e coautora da pesquisa, para planejar o futuro, é preciso saber o que está acontecendo no presente e como as florestas  da América do Sul respondem às mudanças climáticas. “O clima está mudando. A gente observa um aumento na temperatura e uma mudança no padrão de precipitação. Não só no padrão, mas temos previsões que indicam que, por exemplo, até 2100, teremos uma diminuição de 20% na precipitação, com um aumento de até 4°C na temperatura”, afirmou ao Correio.

“Estamos provocando mudanças e esperávamos que a composição das espécies mudasse mais rapidamente, ou que as características das espécies mudassem. Mas o que estamos observando é que essa velocidade de mudança está sendo bem lenta. Uma grande parte das árvores, têm mais de 200, 300, ou até mais de mil anos. Então, essa estrutura e comunidade se estabeleceram há muito tempo, e as mudanças ocorrerão de forma lenta. Estamos observando isso com nossos dados: a mudança está sendo muito lenta”, completou a especialista.

    Você viu?

    Ir para o topo