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AQUECIMENTO GLOBAL

Florestas tropicais da Austrália estão emitindo mais carbono do que absorvendo, alerta estudo

Pela primeira vez, uma floresta tropical atua menos como sumidouro de carbono e mais como fonte emissora em um período de tempo de décadas, dizem pesquisadores

17 de outubro de 2025
Renata Turbiani
5 min. de leitura
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Mirante Walu Wugirriga, Parque Nacional Rio Daintree, Queensland, Austrália. Foto: Getty Images

Durante décadas, as florestas tropicais foram consideradas umas das maiores aliadas do planeta contra a crise climática, atuando como grandes sumidouros de carbono – absorvem mais CO2 do que liberam. Mas uma nova pesquisa publicada na revista Nature mostra que essa dinâmica começou a mudar na Oceania.

Na Austrália, devido às temperaturas cada vez mais extremas e às condições mais secas, as árvores de florestas tropicais de Queensland estão emitindo mais carbono do que absorvendo. O estudo baseou-se em um conjunto único de dados florestais que remonta a 1971, incluindo registros de aproximadamente 11.000 árvores em 20 áreas florestais. Além disso, considerou o carbono armazenado acima do solo em troncos e galhos de árvores, mas não os ganhos e perdas abaixo do solo, provenientes do solo e das raízes.

“Sabemos que os trópicos úmidos da Austrália ocupam um espaço climático um pouco mais quente e seco do que as florestas tropicais de outros continentes e, portanto, podem servir como um análogo futuro para o que as florestas tropicais experimentarão em outras partes do mundo”, disse a autora principal Hannah Carle, da Universidade de Western Sydney, citada pelo The Guardian.

David Karoly, professor emérito da Universidade de Melbourne e especialista em ciência das mudanças climáticas, salientou que “é a primeira vez que este ponto de inflexão da mudança de um sumidouro de carbono para uma fonte de carbono em florestas tropicais foi identificado claramente – não apenas por um ano, mas por 20 anos”.

Ele, que não estava envolvido na pesquisa, acrescentou que, em escala global, a parcela de dióxido de carbono absorvida por florestas, árvores e plantas tem sido bastante estável nos últimos 20 a 30 anos, o que foi assumido como algo que continuaria de acordo com muitos modelos e políticas climáticas.

Ainda segundo o especialista, se mudanças semelhantes forem observadas em outras florestas tropicais, as projeções climáticas poderiam subestimar o aquecimento global no futuro.

Outro ponto, ele apontou, é que a capacidade reduzida das florestas tropicais de absorver carbono extra tornaria os cortes de emissões “muito mais difíceis” e exigiria uma transição ainda mais rápida para o abandono dos combustíveis fósseis .

A professora Adrienne Nicotra, da Universidade Nacional Australiana, coautora do estudo, complementou que ainda não se sabe se as florestas tropicais da Austrália seriam um prenúncio de outras florestas tropicais no mundo, e que mais pesquisas são necessárias.

Floresta Amazônica

Na Amazônia — maior floresta tropical da Terra — o desmatamento está comprometendo o papel da floresta em absorver dióxido de carbono da atmosfera, transformando-a também em uma fonte do gás de efeito estufa.

É o que revelou um estudo de 2021 do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) publicado na revista britânica Nature. Os pesquisadores recolheram em torno de 8 mil amostras de ar em nove anos de estudo em torno de quatro localidades da Amazônia, representando cada região da floresta.

As áreas mais desmatadas, com taxa superior a 30%, apresentaram uma estação seca mais quente, mais longa e com maior estresse hídrico. Mais grave: essas áreas do bioma mais desmatadas apresentaram uma emissão de carbono 10 vezes maior do que regiões com desmatamento inferior a 20%.

Pesquisador do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon), Paulo Barreto destacou na época que diversas medidas começaram a surgir nos últimos anos para tentar controlar as queimadas e destruição das florestas. Eliminar o mercado de carne ilegal – de pecuaristas que não cumprem as leis e destroem as florestas para construir áreas de criação de animais – e aumentar a fiscalização do crédito para a agricultura são medidas urgentes, são ações de imenso valor para a Amazônia, segundo ele. “O aumento da fiscalização vai garantir que cidadãos que estejam na ilegalidade percam o direito ao benefício, dificultando atuações prejudiciais ao bioma amazônico”.

Fonte: Um só Planeta

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