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ALIADAS

Florestas Marinhas no norte de Portugal ajudam a combater mudanças climáticas

Investigação do CIIMAR-up concluiu que a pequena área de 5.100 hectares é capaz de captar uma quantidade considerável de Carbono Azul.

12 de setembro de 2025
Eunice Sousa
4 min. de leitura
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Foto: Sílvia Chemello

Um estudo pioneiro liderado por investigadores do Centro Interdisciplinar de Investigação Marinha e Ambiental da Universidade do Porto (CIIMAR-UP) e do Centro de Ciências Marinhas e Ambientais (MARE) permitiu identificar as florestas de algas marinhas na costa norte de Portugal como aliadas estratégias na captura e armazenamento de carbono.

O estudo, publicado na prestigiada revista Scientific Reportsrevela que as florestas de algas marinhas (algas kelp) desempenham um papel crucial na captura e armazenamento de carbono, oferecendo uma poderosa ferramenta natural para mitigar os efeitos das mudanças climáticas. Este trabalho focou-se no estudo das florestas marinhas da costa norte de Portugal, em especial nas espécies Laminaria hyperborea e Saccorhiza polyschides, as duas espécies predominantes nesta zona do país.

A investigação, liderada pelo investigador Francisco Arenas do CIIMAR e João Franco do MARE, e com contributo de uma equipa de investigadores de ambos os centros, teve como objetivo quantificar pela primeira vez o stock de carbono armazenado por estes habitats no norte de Portugal.

As florestas Marinhas do Norte de Portugal

As florestas de kelp são habitats formados por grandes algas castanhas que desempenham um papel crucial na manutenção da biodiversidade e na produtividade marinha local.

“Estes habitats são frequentes na costa norte de Portugal onde existem condições únicas para o seu desenvolvimento, e que representam a última fronteira a sul para algumas das espécies que aqui se encontram” explica Francisco Arenas, líder da investigação, que contou com financiamento no âmbito do programa BlueGrowth das EAA Grants.

No entanto, estes habitats são altamente vulneráveis às alterações climáticas. “Já foi detetado um processo de tropicalização nas águas portuguesas que coloca em risco a biodiversidade associada, e os serviços ecológicos que estas florestas fornecem, entre eles, a capacidade para capturar e armazenar carbono, o chamado Carbono Azul, contribuindo para a mitigação das alterações climáticas”, acrescenta o investigador

Resultados impressionantes

O estudo em questão quantificou pela primeira vez o stock de carbono armazenado por estes habitats no norte de Portugal através de medições realizadas no terreno, incluindo extensão, biomassa, crescimento e teor de carbono. “Foi a primeira avaliação do valor do carbono azul associado às florestas de kelps em Portugal”, refere o líder do estudo e investigador do CIIMAR.

Os resultados agora publicados no artigo Potential blue carbon in the fringe of Southern European Kelp forests mostram que estas florestas armazenam cerca de 16,48 gigagramas (Gg) de carbono numa área de 5100 hectares, equivalente a mais de 5.000 campos de futebol.

Apesar de cobrirem uma área relativamente pequena face à dimensão do planeta, estas florestas de kelp demonstram uma eficiência de captura de carbono por metro quadrado comparável ou superior a habitats mais extensos. Este valor corresponde a 14% do carbono azul até agora inventariado para Portugal, cujas estimativas anteriores se restringiam a sapais e pradarias marinhas.

Aliadas fundamentais no Carbono Azul

Graças à sua elevada produtividade, estima-se que estes habitats consigam sequestrar e exportar cerca de um terço do carbono capturado anualmente por todos os habitats vegetais marinhos do país. Esta taxa excecional de sequestro de carbono evidencia o papel essencial, e até agora largamente subvalorizado, das florestas de kelp na mitigação das alterações climáticas.

Segundo Francisco Arenas, estas florestas marinhas são “frequentemente desconhecidas e subvalorizadas, apesar de possuírem um valor ecológico e económico de extrema importância na costa norte de Portugal”. Estes habitats são fundamentais quer pela sua capacidade de mitigar alterações climáticas, mas também enquanto promotores da biodiversidade local, fornecendo abrigo, alimento e áreas de reprodução para inúmeras espécies marinhas.

A importância de conservar estes habitats

O estudo recomenda ainda políticas específicas para a monitorização, conservação e eventual restauro dessas áreas, reforçando sua importância não apenas como sumidouros de carbono, mas também como habitats vitais para a saúde dos oceanos.

Face à crise climática da atualidade, os cientistas defendem que a inclusão das florestas de kelp nas políticas de conservação marinha e de carbono azul seja uma prioridade, tanto a nível nacional quanto global.

“Com a Lei de Restauro da Natureza da União Europeia em fase inicial de implementação, torna-se premente desenvolver e implementar técnicas de restauro ecológico eficazes, particularmente em habitats que apresentam elevada vulnerabilidade, mas também alto potencial de provisão de serviços do ecossistema como é o caso das florestas marinhas” remata Francisco Arenas.

Fonte: Universidade do Porto

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