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Floresta amazônica é a última esperança para salvar as antas

11 de maio de 2015
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Anta-brasileira, espécie ameaçada de extinção (Foto: Mauro Galetti)
Anta-brasileira, espécie ameaçada de extinção (Foto: Mauro Galetti)

Mais da metade das espécies de grandes herbívoros – acima de 100 quilos – de três regiões do mundo correm o risco de desaparecer. A informação é de um estudo, publicado no começo de maio na revista Science Advances, que analisou 74 espécies. Pelo menos 44 delas são consideradas em risco de extinção, como rinocerontes, zebras, gorilas e elefantes. E uma dessas espécies está nas florestas do Brasil: a anta (Tapirus terrestris), já classificada como vulnerável ao desaparecimento pela União Internacional para a Conservação da Natureza e dos Recursos Naturais.
Essa espécie, também conhecida como anta-brasileira, é o maior herbívoro da América do Sul e pode ser visto em regiões da Mata Atlântica, Cerrado e na Amazônia. Apesar dessa distribuição, são nas florestas amazônicas que há mais chances de preservarmos a existência da espécie. Mauro Galetti, professor de ecologia da Universidade do Estado de São Paulo (Unesp) e coautor do estudo, afirma que as antas, como todos os herbívoros, precisam de um espaço amplo para encontrar alimentos, se locomover, socializar com outros indivíduos da espécie e reproduzir. “A Amazônia ainda é uma região com vastas extensões de matas preservadas, ideais para o bem-estar das antas. Seu papel então é resguardar esse grande herbívoro”, diz. A Mata Atlântica, bioma do qual restam apenas alguns fragmentos descontínuos de florestas, não é mais um lugar seguro as esses animais, segundo o professor.
O estudo aponta que um dos principais fatores para o declínio das populações de herbívoros é a caça em larga escala para aproveitamento da carne. Na Amazônia, esse também é um problema para as antas, ainda que a prática seja proibida por lei. Sua carne, que é tradicionalmente apreciada por povos indígenas, hoje também é alvo de desejo de moradores de cidades da região. Como têm uma reprodução lenta – a gestação dura certa de 400 dias –, a reposição delas na natureza é mais difícil.
O desaparecimento das antas geraria efeitos colaterais nos ecossistemas e na vida dos seres humanos, como o estudo aponta. Esses grandes herbívoros são responsáveis por serviços ambientais cruciais para a biodiversidade. A anta é um dos poucos animais que conseguem comer frutos de palmeiras, que são grandes e de casca rígida – como o buriti. Como não são digeridas, as sementes do buriti saem nas fezes da anta e conseguem brotar pelas matas, resultando em novas árvores. As antas, portanto, são importantes dispersores de sementes e cultivadores árvores.
A cadeia alimentar e a segurança das espécies também estariam ameaçadas não fosse a presença das antas pelas florestas. Elas competem com roedores por sementes e frutos e, sem antas ao redor, os roedores teriam muito mais alimentos à disposição e sua população cresceria sem controle. Ao mesmo tempo, as antas são as presas dos animais carnívoros, como a onça. Se não existissem mais na natureza, essas onças teriam menos oferta de alimento e também estariam com sua sobrevivência em xeque.
A anta é a última espécie representante de um grupo de mamíferos que já foi muito comum na América do Sul: os megamamíferos. Todos os outros, como a preguiça-gigante e o tatu-gigante, foram extintos nos últimos 10 mil anos. Esses animais de grande porte que desapareceram com o avanço da humanidade são chamados de megafauna. Cientistas acreditam que as causas podem ser tanto a presença dos seres humanos, disputando espaço com esses animais, quanto uma mudança no padrão do clima. “A América do Sul era o local dos grandes mamíferos, como a África é hoje. Por isso, é ainda mais importante que preservemos a última espécie que temos aqui ”, diz Galetti.
A história da descoberta recente de uma nova espécie de anta ilustra os riscos que esses animais sofrem atualmente no Brasil. A identificação da Tapirus kabomani, conhecida como anta-pretinha, foi feita em 2013. Ela é encontrada na divisa de Rondônia e Amazonas, em uma região que hoje está prestes a ser explorada para mineração. “Sabemos poucas informações sobre a anta-pretinha. E infelizmente, já descobrimos que ela corre risco de ser extinta antes mesmo de ser bem estudada”, afirma Galetti.
Fonte: Revista Época

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