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MÉTODO CRUEL

Flexibilização na China é avanço, mas não basta: testes em animais precisam ser proibidos

País afrouxou exigências para importação de cosméticos, mas ainda permite testes em animais em diversas categorias

13 de abril de 2025
Júlia Zanluchi
3 min. de leitura
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Foto: Canva

A flexibilização das exigências para testes em animais na China marca um avanço significativo na regulamentação da indústria cosmética global. Pela primeira vez, o país permitirá a comercialização de certos cosméticos importados sem a obrigatoriedade de testes em animais — uma medida que beneficia marcas cruelty-free e reflete mudanças no perfil do consumidor chinês. No entanto, a conquista é apenas parcial: enquanto a prática não for completamente proibida, o sofrimento de milhares de animais continuará sendo legitimado em nome da beleza.

A flexibilização, implementada por meio de alterações regulatórias promovidas pela Administração Geral de Supervisão de Qualidade, Inspeção e Quarentena (AQSIQ) e pela Administração Geral de Supervisão de Alimentos e Medicamentos (SFDA), permite que cosméticos considerados “comuns” — como shampoos, blushes e perfumes — sejam comercializados na China sem a exigência de testes em animais. Para isso, as marcas precisam apresentar certificações de Boas Práticas de Fabricação (GMP) e avaliações de segurança. A mudança abriu uma nova porta para empresas cruelty-free, como a australiana BWX, que agora vislumbram a possibilidade de expandir suas operações sem violar seus princípios éticos.

Apesar de ser um avanço, a nova regulamentação ainda mantém brechas inaceitáveis. Produtos classificados como “especiais” — como protetores solares, antitranspirantes e itens voltados para o público infantil — continuam sujeitos à testagem animal. Além disso, os critérios burocráticos exigidos, como a emissão de certificados por autoridades do país de origem, podem excluir empresas menores ou de países sem um sistema regulamentado, tornando a inclusão desigual.

Testar cosméticos em animais é uma prática obsoleta, cientificamente desnecessária e eticamente indefensável. Existem atualmente métodos alternativos validados internacionalmente — como testes in vitro, uso de tecidos artificiais e modelagens computacionais — que oferecem resultados seguros e confiáveis, sem infligir sofrimento a seres sencientes.

Organizações como a Cruelty Free International vêm desempenhando um papel importante na negociação e implementação dessas mudanças. Porém, enquanto os testes continuarem sendo uma exigência, ainda que parcial, não é possível afirmar que a indústria caminha verdadeiramente para um futuro ético. É necessário ir além da flexibilização: é preciso proibir.

A decisão chinesa pode, sim, servir de inspiração para outros países que também se debruçam sobre suas próprias legislações e buscam se posicionar diante de uma demanda crescente por transparência e responsabilidade. Mas para que essa transformação seja real, ela precisa ser radical em seu compromisso com os direitos animais.

A mudança só será completa quando todos os tipos de cosméticos, em todos os mercados, forem absolutamente livres de crueldade — não como uma concessão, mas como uma obrigação legal e moral.

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