As baleias representaram o primeiro “pé no breque” global ao insaciável apetite dos seres humanos pelos “frutos” do mundo natural. Pela primeira vez (isso na década de 1980) o mundo inteiro ouviu a mensagem básica: estamos destruindo tudo. Vamos desistir de certas espécies em perigo e optar por outras mais abundantes para evitar a extinção? Pela sua gentileza e pelo tamanho, as baleias foram ótimos modelos iniciais para esta atitude.
E na época eu já ouvia gente dizendo “fuck the whales”. Partia de pessoas que provavelmente nunca comeram carne de baleia na vida, mas se orgulhavam dessa atitude distante, niilista, “pós-moderna”. Danem-se as baleias.
Esses pessoas não muito sensíveis eram minoria absoluta na época. O fim da caça à baleia parecia inevitável com o isolamento do Japão na sua teimosa política predatória. Parecia que pela primeira vez os seres humanos como um todo desistiriam por vontade própria de matar toda uma espécie de animais. Um salto de civilidade, uma expansão de consciência inédita na História. A Era de Aquário, enfim.
Que nada. Em 2010 a Comissão Internacional da Baleia está reunida em Agadir, no Marrocos, negociando justamente a liberação da caça. O Japão não só permanece inundando os mares de sangue todos os anos como “comprou” o voto de vários governos para que o apoiem. A “civilizada” Noruega já é fornecedora de carne para os japoneses. Islândia e Coreia do Sul já preparam seus canhões.
A ideia no congresso da CIB é negociar que a caça seja ao mesmo tempo liberada, mas controlada. Três entidades ambientalistas internacionais (Greenpeace, Pew Charitable Trust e WWF) até aceitam um acordo desse tipo com limitações: caça proibida às espécies mais ameaçadas e fim do massacre nos mares antárticos, onde as baleias se alimentam. O mais provável é que um acordo desse tipo abra as portas para uma matança muito mais generalizada, e agora dentro da lei. Fuck the whales.