EnglishEspañolPortuguês

REFLEXÃO

Filme ‘Eating Our Way to Extinction’ vai mudar seus hábitos alimentares para sempre

‘Eating Our Way to Extinction’ explica como uma dieta baseada em vegetais pode melhorar o problema climático.

3 de novembro de 2021
Charlotte Pointing (Livekindly) | Traduzido por Gustavo Prado
7 min. de leitura
A-
A+
Foto: Divulgação

“Se o Planeta Terra pudesse manifestar-se em um ser humano, seria a Kate Winslet,” disse Otto Brockway, diretor do novo documentário chamado Eating Our Way to Extinction. A ganhadora do Oscar, conhecida e adorada por seus papéis em ‘blockbusters’ como Titanic (1997) e O Amor Não Tira Férias (2006), é a narradora do longa-metragem de Brockway. O filme foca na conexão que existe entre a crise climática e a nossa alimentação.

Winslet é acompanhada pelo investidor bilionário, e vegano, Sir Richard Branson, pela bióloga marinha Sylvia Earle, pelo filantropo Tony Robbins, e por alguns dos mais respeitados cientistas, médicos e estudiosos do mundo. Juntos, eles levam os espectadores à uma profunda e comovente jornada cinematográfica (filmada pelo irmão de Brockway, Ludo), repleta de “ciência sólida” e fatos chocantes que chegam à inegável verdade: a pecuária intensiva está destruindo o planeta, e consequentemente, o futuro de todos nós.

Nós estamos mesmo nos aproximando da extinção por causa de nossa alimentação?

A pecuária é a principal causa do desmatamento no mundo, e contribui para a poluição da água, para a degradação do solo, para a formação das zonas mortas nos oceanos, e emite 14.5% de todos os gases do efeito estufa presentes na atmosfera, de acordo com as Nações Unidas. O cenário é desolador, mas nós podemos reverter este processo. Eating Our Way to Extinction tem a intenção de servir como um alerta para o público, demonstrando que existe um verdadeiro poder em alterar nossos hábitos alimentares.

É uma bela mensagem reforçada por múltiplos estudos científicos. Um relatório ambiental de 2020 determinou que a diminuição de apenas 10% da pecuária intensiva poderia salvar 2.7 bilhões de árvores. Dois anos antes, a maior análise já feita do sistema de produção alimentício descobriu que a alimentação à base de plantas é o modo mais eficiente de combater a mudança climática. (O autor deste estudo, Dr. Joseph Poore da Universidade de Oxford, também aparece em Eating Our Way to Extinction.)

Nós conversamos com Brockway sobre sua inspiração para a criação deste filme, sobre o poder da mudança gradual para um mundo mais verde e sobre sua crença em documentários como uma forma de transformar o modo das pessoas pensarem e agirem.

Todos nós estamos cientes da crise climática, mas qual foi o ímpeto que o levou a fazer este filme? Por que Eating Our Way to Extinction pareceu necessário para você neste momento?

Brockway: No final das contas, acredito que a ideia nasceu de uma profunda frustração. É algo que vem crescendo dentro de mim há muitos anos. As provas científicas são tão reais, mas mesmo assim, quando é necessário agir para mudar a política em geral e os hábitos das pessoas, há uma profunda falta de iniciativa. Eu acho que sempre vi documentários como uma das mais poderosas maneiras de estimular mudanças sociais positivas.

E por que o foco nos hábitos alimentares?

Brockway: Para mim, tudo se resume à ciência. Eu gosto de fazer filmes, mas no fundo sou um cientista. É meu hobby. E a ciência neste caso é muito forte. Cientistas da Universidade de Oxford dizem que, em países desenvolvidos, nós precisamos reduzir nosso consumo diário de carnes e laticínios em 80% dentro dos próximos anos, se queremos que o aumento da temperatura global não exceda os 1.5 graus celsius. Eu acredito que esses estudiosos estão frustrados, pois estão vendo sua mensagem ser tratada com descaso. Eu também estou.

Você acha que, ao se tratar da dieta das pessoas, a abordagem “tudo ou nada” é mais eficaz, ou existem maiores benefícios em uma mudança gradual?

Brockway: Eu definitivamente acho que existem benefícios no flexitarianismo, e a mudança gradual pode eventualmente nos colocar no caminho certo, porém também acredito que estamos em um ponto no qual mudanças drásticas na alimentação do ser humano serão necessárias. Nós ultrapassamos todos os limites da ecologia do planeta, e alguns elementos já podem estar além da salvação, como é o caso do permafrost no ártico.

Com programas de incentivo, como por exemplo “A segunda-feira sem carne”, podemos fazer uma grande diferença, mas mesmo que o mundo inteiro adote atos como esse, ainda não será suficiente.

Quando se trata da indústria alimentícia e seu impacto ambiental, quem realmente é o responsável?

Brockway: Eu não gosto de responsabilizar uma única pessoa ou mesmo um grupo de pessoas, pois acredito que todos nós somos um pouco culpados em tudo isso. O ser humano se alimenta de carne há milhares de anos, e é parte de nossa cultura. Os políticos, os governos e as grandes empresas são responsáveis, é claro, mas nós, indivíduos, também dividimos essa responsabilidade. Todos temos que nos perguntar: eu quero dar um fim aos piores efeitos do aquecimento global fazendo uma simples mudança na minha alimentação?

Assim como especialistas e celebridades participaram do filme, também há a forte presença de povos indígenas, que muitas vezes acabam sentindo os efeitos do aquecimento global em uma escala maior. Por que você achou importante incluí-los no documentário?

Brockway: Por milhares de anos, muitos povos indígenas viveram em harmonia com o planeta Terra. Eles possuem uma sensibilidade extraordinária quando se trata de mudanças nos ritmos naturais do globo, e por essa razão nós acreditamos que seria emocionante escutar o ponto de vista deles sobre como estes ritmos alteraram-se com o passar do tempo.

Um momento bastante memorável para mim foi quando estávamos filmando uma tribo em Taiwan, e o avô da família disse ao neto que ele iria ter que se tornar muito forte para sobreviver ao que está por vir. Ele realmente acredita que, no ritmo em que as coisas estão se alterando no planeta, muitas pessoas não irão sobreviver nos anos e décadas que estão por vir. Isso foi, igualmente, assustador e emocionante de ouvir.

Existem muitos documentários abordando o tema do aquecimento global, e todos causam um grande impacto. Por que você acha que esse método de comunicar esse tipo de informação ao público é tão eficiente?

Brockway: Como seres humanos, nós gostamos de ouvir histórias. Isso é facilmente percebido pelo crescimento exponencial do Netflix, e de outros serviços de streaming de filmes, nos últimos anos. Por isso eu acredito que esta ferramenta de contar histórias pode inspirar milhões de pessoas, e abrir os olhos delas para coisas que passaram despercebidas. Existem inúmeros indivíduos que se preocupam e que amam este planeta. Eles têm bom senso e entendem a crise que estamos enfrentando, no entanto, devido à falta de informação, não perceberam ainda como nossos hábitos alimentares são péssimos.

O que você quer que os espectadores sintam após assistirem ao filme?

Brockway: Nós queremos direcionar os espectadores à uma conexão experiencial com as belezas deste planeta; através da música e das belas imagens que meu irmão, Ludo, capturou. A experiência deve ser comovente e lembrar a todos que somos abençoados de pertencer a um mundo tão incrível e rico como o nosso. Esperamos que, com isto, as pessoas sintam-se dispostas a mudar para melhor.

Qual foi a maior lição que você tirou da filmagem deste documentário?

Brockway: Eu aprendi que, do ponto de vista científico, não conseguiremos salvar a civilização como a conhecemos hoje. Os limites ecológicos do planeta foram ultrapassados. Mesmo que consigamos a mudança total para uma economia verde, e paremos de ingerir produtos de origem animal, a perda da biodiversidade e todo o carbono na atmosfera trarão, inevitavelmente, grandes mudanças. E essas mudanças provavelmente não serão positivas. Eu não estou muito esperançoso neste sentido.

Contudo, já existe uma tendência para uma mudança em massa em direção a uma economia verde, e um estilo de vida sem produtos de origem animal. Então eu tenho esperança de que vamos conseguir salvar ao menos uma parte da civilização. Talvez possamos construir um novo mundo a partir das cinzas deste aqui.

A estreia do filme no Reino Unido e nos EUA foi no dia 16/09. Para mais informações sobre o documentário Eating Our Way to Extinction, clique aqui: https://eating2extinction.com/.

    Você viu?

    Ir para o topo