Desnutridos e em meio a fezes, cães e gatos passavam por condições de extrema negligência e crueldade na “fábrica de filhotes”, no Riacho Fundo. A Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF) resgatou 125 animais após denúncias de maus-tratos e exploração comercial irregular no local. De acordo com Jonatas Silva, delegado-chefe da Delegacia de Repressão aos Crimes Contra os Animais (DRCA), os bichos viviam em um verdadeiro “filme de terror”.
“Ali era uma fábrica de animais. Você pode ver, eles eram tratados e descartados como objetos mesmo. Quando não serviam mais para nada, ficavam em algumas baias sem alimentação. Era o caso daqueles Goldens [Retriever] e diversos outros animais”, conta o delegado. Além da apreensão dos animais, houve seis pessoas presas em flagrante na última quarta-feira (12/2), mas todas foram soltas após audiência de custódia. Também foi aplicada uma multa.
Segundo a PCDF, foram identificadas várias baias e canis imundos, com cães da raça spitz alemão, pastor belga e golden retriever, mantidos em condições degradantes – cercados por fezes secas, sem água, sem alimentação e expostos a doenças. O local comercializava filhotes em plataformas de venda usando os mesmos preços encontrados em canis regulamentados. No entanto, o espaço tratava os animais como descartáveis após não servirem mais para a reprodução.
Segundo Jonatas Silva, as instalações eram precárias, com baias e recintos cheios de excrementos, sem água potável e sem comida. Havia pilhas de fezes dentro das casinhas de plástico nos gatis, indicando a falta de limpeza e higiene. Os filhotes foram encontrados em diversos locais inadequados, como quartos escuros e caixas de papelão, todos desprovidos de cuidados básicos.
“Isso mostra para as pessoas que, por trás de um filhote bonitinho, pode ter muito sangue, sofrimento e mortes. Nós precisamos abrir as nossas mentes para adoção, em vez de só comprar. Tem muitos animais em abrigos precisando de uma oportunidade de ter uma família”, aponta.
Animais resgatados na “fábrica de filhotes”
Dentro das residências na propriedade, foram encontrados cães trancados em cômodos escuros e úmidos, sem ventilação adequada, além de filhotes presos em gaiolas cobertas por panos, impedindo a entrada de luz. Além dos cães, também foram encontrados gatos magros e debilitados, em ambientes insalubres.
Um dos casos mais graves envolveu uma gata presa dentro de um compartimento fechado com arame, junto de seus quatro filhotes recém-nascidos. O animal, extremamente debilitado por não ter acesso a água e alimento há vários dias, não tinha forças para se levantar ou se alimentar. Isso comprometia diretamente a sobrevivência dos filhotes.
Os animais foram resgatados às pressas e encaminhados a um hospital veterinário para atendimento emergencial. Após os cuidados iniciais, foram apreendidos e deixados em depósito com uma ONG, que acompanhará o processo de recuperação. A operação da PCDF contou com o apoio do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama).
A fiscalização também encontrou equinos em estado de extrema magreza, apresentando ferimentos graves nas patas e pelo corpo. Um filhote de cavalo mal conseguia caminhar devido a uma lesão severa.
Mais à frente, um búfalo foi localizado deitado ao solo, visivelmente desnutrido e debilitado, amarrado cruelmente pelo focinho com uma corda que restringia seus movimentos e o impedia de acessar água e alimento.
“O búfalo estava deitado, fraco, extremamente magro e judiado. Hoje, ele está num lar temporário, graças a Deus, e eu vou fazer uma visita para verificar se ele está engordando, está pegando peso”, afirma o delegado.
As equipes resgataram ainda dois exemplares de araras e inúmeras calopsitas em situação de abandono, sem acesso a água ou comida. Algumas calopsitas já estavam mortas dentro do recinto.
Processo de adoção e recuperação dos animais
Os animais resgatados apresentavam diversas condições de saúde graves devido ao tratamento inadequado. Muitos tinham a doença do carrapato, insuficiência renal, piometra e outros problemas; alguns necessitavam de transfusão de sangue. A falta de higiene e os maus-tratos contribuíram para o desenvolvimento de doenças que colocam em risco a vida dos animais.
Os animais foram apreendidos e estão sob os cuidados do projeto Adoção São Francisco, que custeia o tratamento médico e busca lares temporários para eles. Eles só terão um destino definitivo mediante decisão judicial. Há esperança de que sejam disponibilizados para adoção.