A ciência tem conhecimento de que baleias conseguem se comunicar através dos sons. Agora, um estudo publicado em 18 de dezembro no periódico científico Proceedings of the Royal Society B revela o que é “dito” nas vocalizações de filhotes de baleias-jubarte (Megaptera novaeangliae).
Segundo os cientistas, a pesquisa evidenciou pela primeira vez que os filhotes pedem leite para suas mães através de sons, apresentando também vocalizações específicas quando estão brincando e se deslocando pelo oceano.
“O filhote faz diferentes chamados sociais, como grunhidos longos e baixos, gritos curtos e gemidos agudos, mas quando se trata de mamar, os chamados geralmente são sons curtos e de baixa frequência, lembrando latidos ou arrotos”, explica Maevatiana Nokoloina Ratsimbazafindranahaka, líder do estudo, ao site IFLScience.
A pesquisa foi realizada pela equipe de comunicações acústicas do Instituto de Neurociência Paris-Saclay, na França, em conjunto com a Universidade de Antananarivo, em Madagascar, na África. E contou ainda com a organização Cétamada, em Madagascar.
Para obter os resultados, os pesquisadores acoplaram nas baleias etiquetas multissensoriais, que estavam equipadas com câmeras. Através dos vídeos capturados, os pesquisadores conseguiram coletar dados de áudio, de aceleração e de profundidade. Veja o que foi filmado no vídeo abaixo:
Com isso, foi possível descobrir que alguns ruídos eram emitidos pelas baleias durante a realização de algumas tarefas específicas. Os pesquisadores classificaram as atividades que seriam realizadas ou que estavam sendo comunicadas entre as baleias a partir dos sons emitidos.
“Na maioria das vezes, não há nada óbvio acontecendo externamente quando o filhote começa a fazer esses sons [que lembram arrotos e latidos]. Ele normalmente não mostra sinais posturais ou táteis, como dar uma cabeçada na mãe, o que você vê em alguns mamíferos terrestres”, diz Ratsimbazafindranahaka.
“Em vez disso, o filhote apenas vocaliza e lentamente se move para a posição abaixo da mãe, perto das glândulas mamárias. Se ele estiver realmente com fome, ele provavelmente chama com mais insistência ou com mais frequência”, acrescenta a pesquisadora.
As sessões de amamentação foram associadas principalmente a dois conjuntos de chamadas de baixa frequência correspondentes aos sons de arroto, latido e resfolegamento. Já as sessões de brincadeiras na superfície apresentaram chamadas de frequência média com sons semelhantes a gritos e outros tipos de chamadas.
Para a equipe, essas evidências sinalizam como a comunicação entre a mãe e o filhote contribui com o desenvolvimento da baleia jovem. “Embora nossa pesquisa certamente forneça novas visões sobre como os filhotes usam suas vocalizações, um passo para fortalecer essas descobertas seria conduzir experimentos de reprodução”, afirma Ratsimbazafindranahaka.
Para realizar esses testes, a equipe acredita que é necessário bloquear solicitações feitas pelos filhotes para identificar se as mães conseguem diferenciar entre as diferentes “vozes” das crias.
Apesar de ainda existirem muitas dúvidas sobre o comportamento desses animais, a preservação sonora dos oceanos é importante para manter o ecossistema marinho. “Isso enfatiza a necessidade de considerar o impacto do ruído antes de planejar quaisquer atividades que possam gerar som nos oceanos”, ressalta
Ratsimbazafindranahaka. “Imagine estar em um barulhento barco de observação de baleias que mascara esses sinais de baixa frequência – a mãe pode não ouvir seu filhote faminto”.
Fonte: Galileu