Um filhote de cachorro que teve 50% do corpo queimado após cair em uma bacia com água quente luta para sobreviver em Santos, no litoral do estado de São Paulo. Fêmea, a cadelinha foi resgatada e está internada em estado grave. A família que a tutelava alega que procurou atendimento veterinário, mas cuidava dos ferimentos em casa por não ter condições financeiras de pagar internação. As entidades que prestaram socorro ao animal acreditam que houve negligência por parte das tutoras.
Responsável pela ONG Patinhas que Brilham, Angela de Jesus Bandeira, de 56 anos, disse que uma das antigas tutoras do filhote pediu ajuda à entidade através de um aplicativo de envio de mensagem. “Ela relatou que havia uma bacia com água quente no chão e a cachorrinha caiu dentro. Pensando na dor do animal, só fui ajudar o mais rápido possível, mas, claro que pensamos como isso ocorreu e as faltas de cuidados”, afirmou ao G1.
Enquanto buscava o filhote na quarta-feira (4), Angela já deixou a consulta agendada em uma clínica veterinária. “Mas vimos que não era caso de consulta e sim de internação, então entrei em contato com a ONG Viva Bicho para levar na clínica deles e na mesma hora a presidente abriu as portas para atendimento da cachorra”, disse.
“Quando eu estava em contato com a tutora, fui informada que o filhote estava daquele jeito há mais de uma semana, mas depois uma delas disse que o animal já estava na verdade com o corpo queimado há duas semanas. A situação mexeu muito com o emocional de toda equipe que está mobilizada para atendê-la. Ficamos chocados, porque o ser humano se sente dor já procura o hospital e o animal, indefeso, teria que ser da mesma forma. A pessoa precisa ter consciência que você não ter condições de cuidar de um animal não é pecado, o erro é se omitir e não procurar ajuda para ele”, completou.
Após ser atendida por um veterinário, a cadela precisou ser internada. Também foi necessário adquirir pele artificial, já que metade do corpo do animal estava queimado. “O filhote estava há 15 dias assim, uma das próprias tutoras relatou para nós, depois de ter dito primeiro que era uma semana. A presidente da ONG já fez a responsável assinar o termo de doação do animal, que agora pertence integralmente a Viva Bicho. Por enquanto, estamos lutando muito para manter a temperatura corporal da cachorrinha, que está muito baixa, mas não sabemos se ela vai sobreviver. Ela segue sedada e medicada, porque a dor que sentiu é inimaginável”, explicou a assessora de comunicação da ONG Viva Bicho, Leila Abreu.
“Tenta-se combater a infecção do filhote, que está até cheirando a podre. A situação é revoltante, é o caso mais gritante que já nos deparamos de omissão de socorro”, acrescentou Leila, que pontuou ainda que a entidade não registrou boletim de ocorrência até o momento porque está focada em salvar o filhote. “Da cintura para trás, ela está inteira queimada. É muito triste de ver, a pele está caindo, por isso foi comprado pele artificial, para tentar conter a desidratação e depois, caso sobreviva, começar a aplicar a pele artificial. Também precisará de fisioterapia”, disse.
Esperança, como passou a ser chamada, tem ficado sob efeito de anestesia 24 horas para não sentir dor. Parte da pele do seu corpo que está morta foi retirada para ajudar na cicatrização. “Para nós, a negligência está constatada nesse caso. Há moradores de rua, que o cachorro quando começa a se coçar, eles já vêm pedir socorro, então não existe justificativa para ter deixado o filhote sofrer por tantos dias”, afirmou Leila.
A família, por sua vez, nega ter negligenciado a cadela. Mãe da jovem que pediu ajuda à entidade, uma mulher que preferiu não ser identificada disse que não tinha condições de arcar com os custos do tratamento do filhote. “Fomos informados que as diárias eram caras e que depois a gente via como pagar. Mas, como não temos condições, como vamos fechar um pacote de mais de R$ 1 mil sendo que não temos condições mesmo depois de bancar, então não é negligência”, disse ao G1.
“Minha filha tem endometriose, fez uma cirurgia e em tratamento, para as dores durante a menstruação, por própria orientação médica, ela esquenta água para fazer compressas. Ela colocou então uma bacia com água quente do lado da cama dela, nessa a cachorrinha estava dormindo, e minha filha foi até o banheiro. A cachorrinha acho que acordou e foi diretamente na vasilha. Assim que minha filha viu, tirou, e sem saber colocou debaixo da torneira para aliviar”, relatou.
A ex-tutora afirmou ainda que, no dia seguinte, Esperança tinha apenas vermelhidões pelo corpo e que foi levada a uma veterinária localizada na esquina da casa onde mora. Disse também que a profissional passou antibióticos para ser oferecidos à cadela, que não ficou internada. “Do nada a cachorra piorou e minha filha foi procurar a ONG. Isso do acidente aconteceu há cerca de uma semana, minha filha que se confundiu na hora e disse que não se lembrava para elas, que achava que tinha sido duas semanas”, afirmou.
“Eles fizeram a gente assinar o termo de doação e minha filha está chateada por todo ocorrido até agora. A gente procurou atendimento também em um centro veterinário municipal antes de procurar a ONG, onde eles ajudaram e ela foi medicada. Tínhamos sentimento pela cachorrinha e estamos torcendo que ela sobreviva”, concluiu.