Guardas-civis municipais da Ronda Ambiental de Mauá, município do estado de São Paulo, encontraram 52 galos de briga escondidos em um ferro-velho no Jardim Cruzeiro. Os agentes chegaram ao local por volta das 15h de ontem (7) depois de receberem denúncia anônima.
“Disseram que havia muitos animais deste tipo e que eram treinados especialmente para participação de rinhas de galos”, afirma o guarda Wendell Andrade, que também é biólogo. Os animais ficavam em dois quartinhos nos fundos do ferro-velho que fica na Rua Espírito Santo.
Os animais permaneciam trancados em pequenas baias ou em gaiolas onde recebiam alimentação e água. Tratador dos galos, Vanderlei da Silva Lima, 25 anos, alega que, no local, os animais eram apenas treinados para serem vendidos. “Eu só tratava deles. Nunca vi uma briga de galo aqui.”
Entre os dois cômodos usados para abrigar os animais havia um pequeno quarto onde foi encontrado um ringue para briga de galos. “Eles só treinavam aqui de 15 em 15 dias. E por pouco tempo”, alega Lima.
Andrade rebate a versão do tratador. “Vários animais estão machucados, com as cristas cauterizadas, para manter a igualdade de condições nas disputas, e muitos ainda tiveram as esporas cortadas para receberem hastes de alumínio que servem para ferir os oponentes durante as rinhas”, explica.
Quatro picharros, aves silvestres que necessitam de autorização do Ibama para criação em cativeiro, também foram encontrados no local.
O proprietário do ferro-velho e responsável pelos animais, João Batista Filho, conhecido como João da Lata, se apresentou no local durante a noite. Ele deverá responder por maus-tratos de animais e crime ambiental.
Bichos recebiam preparação especial para disputas
Em um dos quartos do ferro-velho que abrigava os galos foram encontrados frascos de vários tipos de medicamentos usados nos animais como, por exemplo, o Corretonic, de fabricação argentina e que age no sistema muscular potencializando a capacidade física do animal. “Ele é usado, inclusive, para aumentar a agressividade deles”, afirma o guarda-civil municipal e biólogo Wendell Andrade.
Além das vitaminas, os galos tinham alimentação reforçada e ficavam confinados para evitar excesso de movimentação e, consequentemente, a perda de peso.
No local, ainda foram encontrados cicatrizantes e antibióticos “usados para a cura de ferimentos e depois das cauterizações das cristas e corte das esporas dos galos”, explica Andrade.
Os agentes também encontraram oito protetores que eram colocados nas esporas dos animais durante os treinamentos que aconteciam no ringue montado no cômodo ao lado. “Eles protegem os cortes como se fossem luvas. Na hora da rinha, são retirados e colocadas as hastes de alumínio para que um galo possa ferir o outro com mais facilidade”, afirma o guarda-civil.
Crime
A apreensão dos 52 galos no ferro-velho do Jardim Cruzeiro, em Mauá, reforça a suspeita da prática de rinhas de galo na região.
Os principais flagrantes das disputas entre este tipo de animal aconteceram em 2006 e 2007. Em Mauá, depois de denúncia anônima, uma operação da Polícia Civil com a Guarda Civil Municipal terminou com a apreensão de 35 galos e 90 pessoas detidas no dia 23 de abril de 2007. Eles participavam de uma rinha que acontecia em uma chácara na Rua José Raimundo de Souza, na Vila Real.
Em outubro do mesmo ano, outra disputa entre galos foi flagrada numa casa na Avenida Neci Eloi Dantas, no Jardim Laura, em São Bernardo.
Para o guarda-civil municipal Wendell Andrade, os galos encontrados no ferro-velho demonstram que a prática das rinhas continua acontecendo. “Por tudo que apreendemos aqui e toda a preparação e treinamento dos animais, há fortes indícios de que outras rinhas ainda existam.”
Ainda de acordo com Andrade, “com a população denunciando, é possível acabar com isso.”
Fonte: Diário do Grande ABC