EnglishEspañolPortuguês

LIBERDADE

Fêmea de gato-mourisco é reintroduzida no Ceará após ser criada como animal doméstico

10 de junho de 2024
3 min. de leitura
A-
A+
Foto: Jefferson Bob

Depois de ser acolhida ainda filhote pela Polícia Militar, uma fêmea de gato-mourisco (Puma yagouaroundi) que foi criada como animal doméstico finalmente teve a chance de voltar à natureza no começo de maio.

Isso ocorreu após um processo gradual de soltura feito pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) em parceria com o biólogo Jefferson Bob, proprietário de uma área preservada de Caatinga na cidade de Potengi (CE).

Tudo começou em outubro de 2023, na cidade de Cariús (CE), quando a PM foi acionada por uma denúncia de violência doméstica. Chegando no local, os policiais se depararam com uma filhote de apenas cinco meses de gato-mourisco, que usava coleira de cachorro e era tratada como um animal doméstico.

O suspeito foi preso com base na Lei Maria da Penha e um inquérito foi aberto na Delegacia Regional de Iguatu (CE). Ele também deverá ser multado administrativamente pela manutenção ilegal de animal silvestre, prevista na Lei de Crimes Ambientais (9.605/98).

O felino foi resgatado pela polícia e poucas semanas depois encaminhado para o Centro de Triagem de Animais Silvestres (Cetas) do Ibama, em Fortaleza.

“Era um gato que possuía diversos comportamentos humanizados, extremamente manso. Aos poucos fomos tentando ensinar a caçar, colocando presas vivas e ela aprendeu super rápido”, relembra o biólogo Alberto Klefasz, chefe do Cetas.

Meses depois, com a fêmea perto de completar um ano, a equipe resolveu encaminhar o felino para uma propriedade particular, a fim de reintroduzi-la à natureza de maneira gradual.

“Já tivemos um caso de reintrodução de sucesso de um gato-marajá que também era humanizado e conseguiu voltar aos poucos à vida selvagem em uma área em Foz do Iguaçu (PR), então quisemos seguir o exemplo e tentar algo parecido”, diz Klefasz.

No dia 28 de fevereiro, a gata chegou à área preservada da Caatinga, que é visitada com certa frequência por alguns indivíduos de gato-mourisco.

“No começo, ela só dormia dentro de casa e seguia a gente para todo canto, inclusive nas trilhas. Ainda era muito dócil, pedia carinho, lambia e queria ficar perto”, relembra Jefferson Bob, dono da propriedade e guia turístico que não possui animais domésticos.

Com o passar do tempo, a gata que não recebeu nenhum apelido para evitar o apego dos próprios humanos, começou a caçar calangos e passar mais tempo fora de casa, mas ainda voltava na hora de dormir.

“Por volta de maio, aconteceu a primeira interação entre ela e outro gato-mourisco. Eu mais ouvi do que vi os dois e não consigo dizer se era uma briga ou algum outro comportamento, mas foi um passo importante para ela”, ressalta ele.

Jefferson conta ainda que pouco tempo depois mais uma interação ocorreu e, a partir de então, a gata teve uma transição muito rápida e foi aparecendo cada vez menos, até que não voltou mais. Ele estima que já não vê o animal há um mês.

Vizinhos chegaram a comentar que viram a fêmea com outro macho. Jefferson, que já havia participado da reintrodução de duas aves, uma asa-branca e um jacu, contou que a experiência foi muito diferente com um mamífero, já que o felino interagia e foi mais difícil não se apegar.

“Confesso que estou com saudade, mas tenho a sensação de missão cumprida, afinal, ela voltou para onde nunca deveria ter saído: a natureza”, finaliza.

Fonte: G1

    Você viu?

    Ir para o topo