Por Ana Cardilho
em colaboração para a ANDA
“Os dois passam o dia inteiro juntos, geralmente deitados em uma das poltronas da casa que eles acreditam pertencer a eles”, conta a tutora. Angus é claro e tem sete anos. Nina, escura, tem cinco. Quando um briga, o outro sai de perto. Mas logo estão juntos novamente, superando suas diferenças e prontos para se abraçar – algo que eles adoram fazer. “É por eles serem tão grudados que eu só mandei fotos dos dois juntos. Não consegui arrumar uma imagem só de um ou só do outro. Os dois ficam juntos até em cima da geladeira”, diz Denise.
Eu amo a minha preta… O nome dela é Nina. Mas, pra mim é Pretinha. E minha. Só minha. Nossa tutora acha que somos dela. Tudo bem, pode pensar assim se isso lhe aquece a alma. Na verdade eu e Nina somos é um do outro. Inseparáveis…
Eu adoro o meu branquelo… Por aí dizem que seu nome é Angus. Será que vem de “angu”? Ele é tão fofo! Uma bola de pelos brancos, macios. Fico encantada quando ele para ao sol, os olhos se fazem mais translúcidos, ele respira leve, leve. Às vezes se espreguiça. Em outras, cochila. E sempre estamos juntos. Uma patinha tocando aqui, outra ali, até que a gente não aguenta e se embola…
Minha preta é gata arisca. Tem dia em que acorda brava. Segunda-feira de manhã, xiiii! Não conte com ela. Eu acordo, patinha ante patinha, e vou bem quieto tomar meu leite. Depois volto, faço meu banho e começo o banho dela… pelas orelhas. Só pra fazer dengo. Isso em geral dá certo e consigo quebrar o gelo. Ela acorda molinha, os olhos de fenda, e se deixa ficar. Mas tem momentos em que minha estratégia não funciona e ela acorda bem braba! Reclama de tudo, me empurra, diz que está quente se estiver frio e se estiver fazendo 40 graus lá fora ela diz que precisa urgente de um cobertor. Mostra os dentes pra mim e passa, fazendo “Fuuuuu”. Fico quieto. Já experimentei suas unhas afiadas de quase leoa e aprendi que se minha preta estiver assim, melhor deixar. Ela se refugia pra cima da geladeira, faz um discurso de que “precisa de um tempo só seu, precisa de espaço e que eu a sufoco, que fico querendo demais dela e coisa e tal”. Eu espero. Tento respirar, me concentrar. Depois de um tempo, ela se desarma e me chama pra cima da geladeira. Eu vou. Voando!
Meu branquelo exagera! Também não é assim, né? Ele não entende os hormônios de nós, “meninas”. As fêmeas são assim, oras bolas. Pra ele a vida é simples, é mansa demais! Ele não sente calores, está tudo sempre bom desde que haja água fresca, ração e carinho. Ah, e eu, claro! Bem perto! Meu fofo não me perde de vista. Um olho cochila e o outro me segue e, se os dois estiverem cochilando, ele segue meu cheiro. Mas, assim que é bom. Somos feitos um para o outro: arroz e feijão, café com leite.
Preta, pretinha, meu amor de uma vida toda….
Fala, meu branquelo! Vem que tá hora do cochilo das três da tarde e eu quero o meu travesseiro de pelos brancos, vem?!
Amo você… RONRONA
Também amo você… agora para de olhar pra mim e vê se dorme! RONRONA
Ana Cardilho é escritora e jornalista. Com um olho na realidade e outro na prosa imaginária conta com mais de 20 anos de experiência em rádio e TV, tendo feito reportagens, edição e fechamento de telejornais e programas, e é ficcionista.