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MUDANÇAS CLIMÁTICAS

Fechamento do buraco na camada de ozônio dá "fôlego" ao oceano para captar mais CO2

Estudo revela que a recuperação da camada de ozônio pode ajudar o Oceano Antártico a capturar mais carbono — mas só se as emissões de gases do efeito estufa forem drasticamente reduzidas

19 de maio de 2025
4 min. de leitura
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A área de ozônio destruído sobre a Antártica em 2024 foi a sétima menor desde o início da recuperação em 1992. Foto: NASA Earth Observatory

Uma boa notícia vinda dos céus pode ter um impacto benéfico no oceano e para o futuro do planeta. Cientistas da Universidade de East Anglia (UEA), no Reino Unido, descobriram que a redução do buraco na camada de ozônio, vilão ambiental das décadas de 1980 e 1990, pode ajudar o Oceano Antártico a fazer sua parte na luta contra as mudanças climáticas.

Mas há um porém: isso só acontece se os níveis de emissão de gases do efeito estufa forem significativamente reduzidos, segundo o estudo publicado na revista Science Advances.

“É uma notícia animadora saber que os danos causados pelo ser humano à camada de ozônio podem ser, em certa medida, desfeitos. O impacto disso nos ventos, na circulação oceânica e na absorção de carbono pode ser revertido — mas somente se mantivermos as emissões de gases de efeito estufa em um nível baixo”, explica a pesquisadora Tereza Jarníková, do Centro Tyndall de Pesquisa sobre Mudanças Climáticas, da UEA.

O Oceano Antártico é uma espécie de herói anônimo do clima. A pesar de ocupar apenas cerca de 20% da área oceânica do planeta, ele é responsável por absorver cerca de 40% do carbono que os oceanos capturam da atmosfera. Essa função crucial ajuda a frear o aquecimento global.

O passado, o presente e os futuros possíveis

O time de cientistas usou um modelo climático avançado para simular três realidades distintas entre os anos de 1950 e 2100: um mundo em que o buraco na camada de ozônio nunca existiu; outro em que ele apareceu e começou a se fechar após o Protocolo de Montreal de 1987 (que baniu substâncias que destroem o ozônio); e um terceiro cenário onde o buraco persiste inalterado até o fim do século.

Além disso, os pesquisadores combinaram essas três versões com dois cenários diferentes de emissões de gases do efeito estufa — um otimista, com emissões baixas, e outro mais sombrio, com emissões elevadas. O resultado? Quando o buraco na camada de ozônio se fecha e as emissões são controladas, o Oceano Antártico volta a ser um sumidouro de carbono muito mais eficiente.

Qual a relação entre o buraco e o clima?

A pesquisa mostrou que, no passado, o buraco na camada de ozônio provocou o fortalecimento de ventos e correntes sobre o Oceano Antártico, o que acabava trazendo à superfície águas profundas ricas em carbono — dificultando a absorção de novo carbono da atmosfera. Mas à medida que o ozônio se recupera, esses ventos tendem a enfraquecer.

No entanto, se as emissões de gases do efeito estufa continuarem altas, esses mesmos ventos e correntes podem continuar se intensificando — desta vez não por culpa do ozônio, mas do aquecimento global. E isso, novamente, prejudicaria a absorção de carbono.

“Descobrimos que a influência da camada de ozônio nas correntes oceânicas será cada vez menor no futuro. Em seu lugar, as mudanças serão dominadas pelos efeitos do aquecimento causado pelos gases do efeito estufa”, completa Jarníková.

O estudo reforça a importância do Protocolo de Montreal como um exemplo bem-sucedido de ação global em defesa do meio ambiente, mas também funciona como alerta — mesmo com a camada de ozônio se regenerando, o destino do Oceano Antártico como aliado no combate ao aquecimento global ainda depende de decisões humanas.

Fonte: Um só Planeta

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