Cobras, sapos, gambás, tatus e até uma jaguatirica foram encontrados mortos nos últimos meses na Rodovia SP 120 (Antonio Adib Chamas), na região de Paranapiacaba. A movimentação de espécies raras de mamíferos, peixes e aves, antes pouco avistadas na vila, também aumentou nas trilhas e dentro do Parque das Nascentes.
Monitores ambientais, funcionários do parque e população local relataram a mudança na fauna, detectada também pelo plano de manejo que está sendo feito na reserva ambiental.
Ainda não foi feito nenhum estudo técnico que explique a aparente migração da fauna. Porém, o secretário de Recursos Naturais de Paranapiacaba e Parque Andreense, Eduardo Sélio Mendes, acredita que os bichos estejam fugindo do maquinário e do canteiro de obras da Petrobrás, que está instalando dutos para transporte de gás natural nas proximidades da vila. “Os animais estão correndo perigo. Algumas das espécies que vemos hoje não apareciam há um bom tempo”, opinou.
Ao longo da SP 120, moradores e funcionários do parque ecológico presenciaram cobras e gambás mortos. Em junho, uma jaguatirica, animal ameaçado de extinção, foi encontrada atropelada nas margens da rodovia. O trecho em que o felino selvagem estava fica próximo à uma das clareiras abertas pelas empreiteiras contratadas pela Petrobras (na altura do Clube da Solvay).
O macaco mono-carvoeiro e o mico de tufo branco são espécies ameaçadas e nunca vistas pelo monitor ambiental Wanderley Chequizzi. Ele é um dos profissionais qualificados pela Prefeitura para guiar turistas pelas trilhas. “Pela quantidade de animais diferentes que vi, parece que estão fugindo de algo. Um cliente disse certa vez ter visto um animal que se parece com paca, que também é difícil de encontrar por aqui”, comentou.
Para o gerente do Parque das Nascentes, Leandro Wada Simone, as obras do gasoduto podem estar interferindo no habitat. Ele ressalta, contudo, que nenhum estudo foi feito até o momento apontando para a possibilidade. “É comum o depoimento de moradores sobre a ocorrência de animais nas estradas e trilhas do parque, muito embora não tenhamos certeza das espécies descritas por eles”, relatou.
Uma anta também foi encontrada caminhando pela Trilha do Mirante, de acordo com o gerente. Mesmo sem a confirmação sobre interferência das obras na vida animal, o secretário de Recursos Animais defende que o parque possui estrutura para preservar a fauna e flora da Mata Atlântica. “Assim que o plano de manejo for finalizado, teremos mais informações sobre o bioma local, o que melhora nossos trabalhos de conservação”, comentou.
A Petrobras foi procurada na semana passada para explicar medidas de preservação adotadas na ampliação dos dutos da Gasan 2. Porém, operários nos trechos em obras argumentaram que viveiros foram instalados ao longo do percurso derrubado para abrigar espécies ameaçadas. A empresa não falou sobre o assunto.
Plano de manejo
Em maio a Prefeitura de Santo André contratou o Instituto Ekos Brasil para fazer avaliação dos impactos causados pela ocupação humana em Paranapiacaba.
A ONG (Organização não governamental) está catalogando fauna e flora locais. As informações vão servir para elaborar o plano de manejo – série de ações para minimizar as agressões ao meio ambiente.
O investimento é de R$ 250 mil feito em conjunto com a Fehidro (Fundo Estadual de Recursos Hídricos).
Fonte: Diário do Grande ABC