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AQUECIMENTO GLOBAL

Famosa geleira Perito Moreno, na Patagônia argentina, está em declínio acelerado, alertam cientistas

Perito Moreno já encolheu dois quilômetros quadrados, e cálculos iniciais mostram que outros 15 quilômetros quadrados - mais de dois mil campos de futebol - podem ser perdidos

11 de agosto de 2025
4 min. de leitura
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Geleira Perito Moreno. Foto: Moritz Koch/Universidade Friedrich-Alexander Erlangen-Nuremberga

Pesquisadores do Instituto de Geografia da Universidade de Friedrich-Alexander (FAU) Erlangen-Nürnberg, da Alemanha, fizeram uma descoberta preocupantea Geleira Perito Moreno, na Argentina, que durante anos foi considerada estável, vive um rápido declínio.

Enquanto outras massas de gelo na Patagônia recuaram significativamente, essa em especial perdeu cerca de 34 centímetros de espessura por ano de 2000 a 2019, derretendo de forma lenta. Mas, depois disso, a taxa de rebaixamento da superfície próxima à língua (parte flutuante) acelerou drasticamente para cerca de 16 vezes a taxa anterior, atingindo 5,5 a 6,5 metros por ano de 2019 a 2024. A cada doze meses, a espessura do gelo diminuía na altura de uma casa.

E a Perito Moreno não está apenas ficando mais fina; também está mais curta – em alguns lugares, sua língua recuou mais de 800 metros.

Como explicou o pesquisador Moritz Koch, abaixo da parte flutuante, há uma crista rochosa subglacial que atua como um ponto de ancoragem da geleira. Além de outros fatores, esse ponto de fixação manteve a Perito Moreno em equilíbrio por muitas décadas. .

Mas isso mudou. “Nossos dados mostram que a geleira está se desprendendo de seu ponto de ancoragem”, afirmou Koch. Ele ainda destacou uma descoberta fundamental do estudo: assim que a geleira perde sua ancoragem, o processo se acelera drasticamente.

O resultado é que, à medida que a camada de gelo se torna mais fina e leve, a água do Lago Argentino confere à geleira mais flutuabilidade. Isso faz com que mais gelo se desprenda da língua da geleira, acelerando ainda mais o recuo.

Mapa do leito glacial

Juntamente com o Centro Aeroespacial Alemão (DLR) e parceiros na Argentina, o grupo da FAU examinou a Perito Moreno, que tem 250 quilômetros quadrados, usando um sistema de radar especial. Este radar de penetração no solo consegue varrer o gelo para detectar a superfície sólida sob a geleira, e sua antena foi instalada abaixo de um helicóptero.

A equipe também analisou dados de satélite de alta resolução da missão alemã TanDEM-X, que utiliza um sistema de radar espacial para medir a altura da superfície da Terra, incluindo a geleira. Todo esse trabalho resultou em um mapa do leito glacial até então desconhecido e permitiu à equipe analisar o desenvolvimento das massas de gelo ao longo de décadas.

Agora, com a área de Perito Moreno já tendo encolhido dois quilômetros quadrados, os cálculos iniciais do modelo mostram que outros 15 quilômetros quadrados – mais de dois mil campos de futebol – podem ser perdidos.

“Mesmo que o gelo eventualmente encontre um novo equilíbrio mais acima no vale, as mudanças climáticas já destruíram um dos fenômenos naturais mais espetaculares da Terra”, salientou Koch.

Consequências do derretimento das geleiras

Reportagem do Euronews destaca que o derretimento glacial, especialmente nos polos, é importante porque pode causar um aumento catastrófico do nível do mar, prejudicando e deslocando pessoas que vivem em áreas costeiras e insulares.

Outro ponto é que as geleiras podem ser uma fonte de água potável, mas, quando colapsam, se transformam em uma força destrutiva, causando deslizamentos de terra.

“Estamos perdendo esses pedacinhos de gelo por toda parte”, observou Erin Pettit, glaciologista da Universidade Estadual do Oregon, que não participou do estudo, ao Euronews. “Espero que aos poucos estejamos ganhando mais respeito pelo gelo que estava aqui, mesmo que ele nem sempre esteja lá.”

Fonte: Um só Planeta

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