Por Filomena Marta (da Redação – Portugal)
Aconteceu no final de 2011, no Alasca. Quatro cervos Sitka de cauda negra tiveram muita sorte quando foram retirados da água gelada da Passagem de Stephens por uma família que aproveitava os últimos dias de sol no seu barco.
Tom Satre, o proprietário do Alaska Quest, estava com a filha Anne, o irmão Tim e a irmã Sharon Kelly. O vento soprava forte, mas era um bom dia para almoçar ao largo da enseada de Taku.
Sharon Kelly é uma apaixonada da observação de pássaros e estava examinando o horizonte com os seus binóculos, enquanto o barco seguia para o Porto de Taku. Mas de repente Kelly viu qualquer coisa na água. Pegou nos binóculos e esperava ver um leão-marinho a brincar, mas em vez disso viu orelhas de cervos.
Kelly correu para avisar o irmão, que parou o barco, e todos ficaram a observar o pequeno grupo de quatro cervos de cauda negra, que pareciam estar em aflição nas águas geladas.
“Eles nadaram mesmo em direção ao barco”, contou Tom Satre, que entretanto tinha aberto a amurada na ré da embarcação, para os animais poderem subir. “Começaram a nadar à volta do barco, a olhar para cima, e pareciam estar a precisar de ajuda”. Foi a primeira vez que Tom viu cervos em tamanha aflição. Estavam espumando da boca e não conseguiam subir pela plataforma na parte de trás do barco. Passavam por baixo e a família sabia que precisava de fazer alguma coisa.
Tom achou que eram cervos de uma ninhada do ano anterior, pois suas hastes ainda eram muito pequenas e não davam sequer para Tom agarrar para os puxar para o convés. Assim, fez um laço e puxou cada um pelo pescoço na parte aberta da amurada.
Apesar de estes cervos serem muito tímidos e assustados, deixaram que Tom os salvasse e quando já estavam a bordo cederam ao cansaço extremo. Deitaram-se exaustos e a tremer. Não conseguiam sequer sacudir a água do corpo e dois deles mal conseguiam manter a cabeça direita. Kelly não sabia se esses dois iriam conseguir resistir e contou que não conseguiam manter-se de pé sozinhos.
“Não queríamos tocar neles, mas dava para ver que eles estavam muito felizes por estar ali”, disse Sharon Kelly. “Se tivessem conseguido, eles teriam entrado no barco sozinhos”.
Riley Woodford, do Departamento de Pesca e Caça do Alasca, disse mais tarde que os cervos podem ter sido perseguidos por um lobo e entrado na água para fugir.
O barco dirigiu-se para o porto protegido e o sol começou a aquecer os cervos. Um deles levantou-se e parecia revigorado, enquanto os outros ficaram deitados, mas estavam acordados. Quando o grupo chegou à doca o primeiro cervo que tinha sido retirado da água saltou para o pontão, olhou para trás, saltou para as águas do porto e nadou para a margem. Desapareceu rapidamente na floresta. Dois dos outros cervos seguiram-no, depois de alguma ajuda por parte do grupo.
“O último estava com muitas dificuldades”, contou Tom Satre. “Acho que era o maior dos quatro cervos, não conseguia sacudir a água do corpo e eu massajei o corpo dele. Ele estava a tremer e parecia estar em grande hipotermia”. Apesar de os cervos terem capacidade para aumentar a temperatura do corpo sozinhos, o animal podia estar tão exausto que não conseguia recuperar.
Tom colocou o cervo num carrinho de mão, para o levar para a floresta, mas tinha o pneu furado e não conseguiu transportá-lo. Mais uma vez tiveram de esperar, para o animal aquecer e ganhar forças. Uma e outra vez o cervo tentava pôr-se de pé, mas as suas pernas falhavam e ele voltava a cair. O grupo levantava o animal, que dava uns passos e voltava a cair. Com muita dedicação, o cervo voltou a ficar em pé sozinho, ainda com as pernas tremendo. Finalmente, o último cervo entrou na floresta.