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Família multiespécie: quase metade das casas do DF têm animais domésticos

14 de maio de 2022
8 min. de leitura
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Gabrielle e Sully — Foto: Gabrielle Santos

A Pesquisa Distrital por Amostra de Domicílios (Pdad), divulgada pela Companhia de Planejamento do Distrito Federal (Codeplan), na última semana, comprova uma realidade que pode ser vista no dia a dia: o morador de Brasília é apaixonado por animais domésticos. O estudo aponta que quase metade (49,7%) dos domicílios do têm animais.

Desses, 42% são cachorros, 11,2% são gatos, 5% são aves, 2,4% são peixes e 1,4% é composto por outros animais. Os dados da Codeplan também apontam que as regiões de renda mais alta (Plano Piloto, Park Way e Sudoeste, por exemplo) são as que menos têm pets por domicílio.

No sentido oposto, quanto menor a renda, mais animais domésticos a região tem. Para ilustrar os números, o G1 conversou com tutores de cães e gatos, e com quem cria animais inusitados, como ratos, aves, cabras e até moluscos.

Cães

“A vida com a companhia de cachorros fica mais feliz e, quem tem um, nunca mais quer ficar sem.” É o que diz a professora Gabrielle Ribeiro, moradora do Park Way, que convive com cães desde a adolescência.

Gabrielle conta que não consegue imaginar a vida sem o Sully, um husky siberiano de quase 2 anos, e Duke, um shih-tzu de 7 anos.

“A presença dos dois na minha vida é extremamente importante. Eu acredito que tê-los comigo me faz mais feliz e torna a vida mais leve”, diz a professora.

Gabrielle conta que adora brincar com os cães, “apertar e dar vários beijos”, antes de alimentá-los e sair para o trabalho. Quando volta, os leva para passear.

A professora ainda afirma que é importante proporcionar enriquecimento ambiental, isto é deixar o espaço do animal divertido e instigante, para que se distraiam e gastem energia. Para quem pensa em ter um “amigo-cão”, Gabrielle aponta que é preciso dedicação.

“Cada pessoa tem seu jeito, mas o principal é dar amor e carinho. Nós precisamos disponibilizar tempo da nossa vida para eles. Se a pessoa não estiver disposta a ter esse compromisso, não é uma boa ideia”, conclui.

Gatos

Os “bichanos” levam a “medalha de prata” na preferência dos moradores de Brasília. Os gatos são conhecidos como animais reservados, mas muito amorosos.

Victor Fernandes, de 28 anos, mora em Samambaia e tem 13 gatos em casa, além de 2 cachorros. Segundo os dados da Pdad, apenas 12% dos domicílios da capital federal possuem quatro ou mais animais domésticos.

As casas com apenas um pet são maioria (52,9%). Apesar de hoje ter 15 animais, Victor conta que o número veio aos poucos.

“A princípio, tínhamos apenas um gato. Depois de algumas vivências e de experiências, acolhendo animais de rua, decidimos ir resgatando alguns para colocar para adoção”, conta Victor.

Mas esse não é o recorde de bichos que ele e a companheira, Anne Soares, criaram em casa. Eles já chegaram a ter 25 animais.

“A situação saiu do controle com o avanço da pandemia, pois eu e minha companheira perdemos nossos empregos e isso impactou diretamente no cuidado com os bichos. Por exemplo, não ter dinheiro para custear a castração de alguns”, diz.

Apesar das dificuldades, nenhum dos animais ficou sem lugar. Ao todo, 12 foram adotados. Victor e Anne garantem que não se arrependem de manter os animais por perto.

“Por mais que passemos alguns perrengues, nós os amamos e nunca deixamos de dar carinho, afeto e cuidado. Muitas vezes, eles servem como antidepressivo, porque ou são muito carinhosos ou arteiros”, diz Victor.

Alguns gatos do casal estão para adoção. No entanto, eles esperam manter 6 em casa, “que são os gatos que estão há mais tempo conosco”, diz Victor.

A dupla diz que pretende continuar resgatando animais em situação de rua e os entregando pra adoção. Quem quiser adotar um gato de Victor e Anne pode entrar em contato pelo e-mail [email protected].

Aves

Apesar de representarem apenas 5% dos animais no DF, as aves são cada vez mais escolhidas como animais domésticos. Elas vão de periquitos (domésticos) até papagaios e araras (silvestres), que só são permitidos com autorização do Ibama.

A professora Banny Ysla, que mora no Riacho Fundo , tem um casal de calopsitas, Beiju (macho) e Nilce Fran (fêmea). Ela diz que cuidar deles é mais difícil do que cuidar de um cachorro.

“As aves demonstram coisas de formas diferentes e, consequentemente, de jeitos que não estamos tão acostumados”, diz a professora.

Ela conta que o convívio com as aves é diferente. “Elas brincam e gostam de companhia, como os cachorros, mas o fazem de uma outra forma. As minhas, pelo menos, apesar de gostarem bastante de contato físico, percebo que se expressam muito mais pelo som”.

Segundo Banny, as calopsitas exigem bastante atenção, precisam de espaço e não podem ficar sozinhas por muito tempo, o que demanda atenção por parte do tutor. Por isso, a professora não recomenda aves como pet de estimação para quem acha que “pode ser mais fácil”.

“Acho que é importante considerar isso [tempo e disponibilidade] antes de ter aves em casa”, diz a professora.

Ratos

Alguns tutores optam por opções ainda menos convencionais na hora de escolher um “amigo peludo”. É o caso da estudante Elise Alves, que mora na Asa Norte e tem duas ratinhas, desde o final de 2020 – ratas mesmo, não hamsters.

Elisa queria um animal, mas, por morar em apartamento e porque os pais eram contrários à ideia, desejava um que não demandasse passeios e banhos. Foi assim que ela encontrou nos ratos twister, uma espécie doméstica.

“Passei a pesquisar bastante sobre os cuidados necessários e as particularidades deles, já que são animais que se encaixam com minha rotina e que eu posso arcar com os gastos e cuidados”, diz a estudante.

A expectativa de vida média dos ratos twister é de 3 anos. Por isso, Elise conta que valoriza muito o tempo com os animais e que passa a maior parte do dia em casa, interagindo com eles, e oferecendo petiscos, como castanhas, frutas, vegetais ou iogurte em ocasiões especiais.

“Elas são muito interativas, agitadas e carinhosas, com personalidades bem distintas. Sobem no ombro, brincam comigo, comem minha roupa”, conta rindo.

“A Irene (rata preta) é mais tímida e na dela, já a Regina (rata malhada) é muito mais agitada e curiosa, sempre quer sair da gaiola para brincar”.

Tal qual um gato ou um cachorro, os ratos também precisam de cuidados e atenção. “Há a ração específica, limpeza da gaiola, tirá-las da gaiola pelo menos uma vez por dia, visitas periódicas no veterinário de animais exóticos”, explica a tutora.

“No final das contas, não dá tanto trabalho assim, apenas as responsabilidades que vêm com a tutela de qualquer animal doméstico.”

Berê, a cabra

O casal Pati Herzog e Fábio Bakker, e o filho, Chico Herzog, vivem em um refúgio chamado Alecrim Dreams, na Asa Norte. Foi nesse ambiente que apareceu, em agosto de 2021, a cabra Berenice, ou Berê.

O animal “apareceu”. Pati e Fábio mandaram mensagens para vizinhos e moradores da região, tentando achar os tutores da cabra, mas não houve respostas e o casal resolveu adotar o caprino e deu o nome de Berenice. Pati conta que é muito fácil cuidar da Berê.

“Ela é extremamente dócil e acolhedora. Já chama a gente pelo olhar, abana o rabo e gosta de estar pertinho da gente. Ela ama companhia, sempre sai para pastar, mas está sempre muito próxima”, diz a tutora da cabra.

Mesmo assim, há cuidados específicos quanto à alimentação e higiene de Berê. Pati diz que construiu uma casa para a cabra e que o lugar precisa ser extremamente limpo, além de ter sido feita apenas com materiais que reproduzam o ambiente natural.

“A casa está a 50 centímetros do chão, para ela não ficar em contato com a umidade e não desenvolver nenhuma doença. A gente tem cuidado com alimentação, que é basicamente composta de folhas sem agrotóxico, e a gente faz suplementação alimentar com o milho”, conta.

Pati diz que Berê é parte da família, e até interage com os “irmãos”, os gatos Pietra e Gengibre. “A convivência entre eles é harmoniosa, um convívio sutil”, garante.

“Os gatos estão sempre com a gente, assim como a Berê. Eles prestam atenção um no outro. Os gatos são super curiosos, chegam, cheiram, se afastam, somos uma família de diferentes e de iguais”, conta.

Popularidade dos animais exóticos cresce no DF

Os animais não convencionais representam 1,4% dos animais no DF, segundo a pesquisa da Codeplan. Mas, a expectativa é que esse número aumente nos próximos anos.

O médico veterinário Phelipe Medeiros, especializado em animais selvagens e exóticos, diz que percebe um aumento na busca por espécies do tipo em Brasília e no Brasil. “A procura por animais exóticos vem se popularizando dia após dia”, diz ele.

“As pessoas têm optado por algumas espécies exóticas pela beleza. Além disso, muitos desses animais não precisam de passeios diários, o que facilita para os tutores”, aponta o veterinário.

O profissional alerta que é essencial saber mais sobre a espécie antes de decidir criar um animal exótico.

“Antes de adotar um animal não convencional, é fundamental que a pessoa procure um médico veterinário para se informar, em relação ao manejo adequado, expectativa de vida, hábitos. Isso ajuda a definir a espécie mais compatível com os requisitos da família”.

O veterinário alerta que também é essencial saber de onde vem o animal e se a criação dele em ambientes domésticos é permitida. “Alguns fatores tem contribuído para o crescimento, como popularização de algumas espécies, aumento de profissionais especializados nessa área, indústrias voltadas a produtos para os pets não convencionais e o crescimento de criadouros legalizados com diversas espécies”, lembra.

“Mas o mais importante é adquirir esses animais apenas em locais com certificação de origem”, diz Phelipe Medeiros.

Fonte: G1

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