Um caso de amizade entre um animal e seu tutor tem intrigado moradores da cidade de Várzea Grande, região metropolitana de Cuiabá (MT). Desde que o estudante Geovani Marques Crisóstomo morreu, o cavalo que pertencia a ele percorre as ruas de dois bairros da cidade para “visitar” o túmulo do antigo tutor. Crisóstomo, que era conhecido como Gege, morreu vítima de uma doença cardíaca no mês de abril deste ano.
O cavalo chamado Raposa, desde o dia da morte de Gege, sai da casa do jovem no bairro Portal da Amazônia e caminha por sete quadras até o Jardim Primavera, onde está localizado o cemitério. O percurso é feito há quatro meses. “A vida dele era cuidar de cavalos. Essa era a sua grande motivação”, contou ao G1 a mãe do estudante, Maria Eunice Marques.
Ela revelou que toda a família está impressionada com a atitude do animal e contou que o filho tinha comprado o cavalo há quase dois anos. Disse também que no primeiro mês, após a morte do estudante, Raposa passava as noites relinchando. “Parecia que estava chorando de saudade ou porque sabia que alguma coisa tinha acontecido”, declarou.
Maria Eunice, que trabalha como balconista de uma empresa, é moradora antiga do Portal da Amazônia. Ela relatou que Geovani gostava de participar de cavalgadas na região e também trabalhava como domador de cavalos. Apesar de ter tido três cavalos, segundo Maria, Raposa era o animal que o filho mais gostava e mais usava para as montarias.
Por conta disso, a mãe disse que desde a morte do filho o animal não participou mais das cavalgadas e está apenas sob os cuidados da família. “Acho que é uma forma de preservar o amor e a dedicação que ele [Geovani] tinha”, disse emocionada.
Visita ameaçada
Porém, é só deixar o cavalo solto que ele já sabe para onde ir. Ao que tudo indica, o trajeto parece ter ficado conhecido no dia do velório, quando Raposa acompanhou o cortejo de seu antigo tutor até o cemitério, realizado por meio de uma cavalgada como homenagem feita por amigos e familiares do jovem estudante.
Mas, a entrada do cavalo no cemitério já foi proibida pelo setor administrativo. O zelador Sidnei Nascimento disse ao G1 que parte de um túmulo foi destruída nos últimos dias, quando o animal pastava no local. Isso fez com que a administração notificasse a família responsável pelo cavalo impedindo a entrada dele no cemitério, desde a última semana.
Por outro lado, o próprio funcionário admite estar diante de uma história cheia de mistério e confirma já ter flagrado Raposa ao lado do túmulo do seu antigo tutor. O intrigante é que o pasto existe por todo o percurso feito pelo animal até a entrada do cemitério.
Percepção e sentimento
“Os animais possuem sensibilidade e percepção muito maior que a dos seres humanos, o que leva, em muitos casos, a uma manifestação física”, explicou a professora de Zootecnia da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), Lisiane Pereira de Jesus.
A professora, que também atua como coordenadora da implantação do Centro de Ecoterapia da UFMT, ressaltou que a relação de afetividade entre o animal e o seu tutor é o que provoca tais reações. “O animal não sabe da perda, mas sente falta do relacionamento. E como tinha uma afetividade, também procura o cheiro do tutor nos locais”, frisa.
A professora destacou também que o animal pode ter a percepção da energia do seu tutor, o que o leva a percorrer diversos lugares em busca da pessoa como, segundo ela, o caso do cavalo no cemitério.
Outro ponto, de acordo com Lisiane Pereira, é que a perda do laço afetivo leva o animal a desenvolver doenças emocionais e patologias clínicas. “Há casos em que animai, por exemplo, ficam doentes quando os tutores viajam, outros deixam de se alimentar e muitos até morrem devido à ausência do tutor. Isso é a demonstração física do sentimento”, pontua a especialista.
Fonte: G1