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Falta de políticas públicas agrava o problema do abandono de gatos no CE

15 de novembro de 2010
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A quantidade de gatos abandonados nas ruas é problema de saúde pública que ainda não sensibiliza a sociedade e as autoridades na busca de uma solução efetiva. Dados da Organização Mundial de Saúde (OMS) apontam, em países pobres e emergentes como o Brasil, a proporção de 15 filhotes de cães e 45 de gatos para cada bebê nascido.

No caso dos felinos, a reprodução sem controle torna-se mais grave diante da frequência dos períodos de cio. De acordo com a médica veterinária Ticiana Franco, pós-doutoranda em Reprodução Animal da Faculdade de Veterinária da Universidade Estadual do Ceará (Favet-Uece), a nossa “Terra do Sol” favorece o cio das gatas. “Nas nossas condições climáticas de luz contínua o ano inteiro, este ciclo estral se repete a cada 21 dias”, afirma.

Geralmente, os animais jogados nas ruas ficam doentes e podem transmitir zoonoses para as pessoas. Foto: Miguel Portela

A presidente da União Internacional Protetora dos Animais (Uipa), Geuza Leitão, não tem dúvidas. “Por mês, milhares de gatos são jogados nas ruas”. Em Fortaleza, onde as pessoas cada vez mais optam por morarem em apartamentos, a tutela irresponsável de animais faz com que, diariamente, filhotes sejam jogados em áreas como Parque do Cocó, Praça Eudoro Correia, Parque Parreão, cemitérios públicos e áreas de lazer em geral. “Há pessoas de bom coração, quase sempre pobres, que chegam a levar 30, 40 gatos para criarem em casa. Porém, não têm condições de esterilizar os animais, que continuam se reproduzindo mais e mais. Em pouco tempo, voltam a morar nas ruas porque as famílias não têm condições de mantê-los”, afirma Geuza.

Ticiana Franco explica que a o cio das gatas dura de quatro a cinco dias, período em que a fêmea aceita a cópula dos machos. A fertilidade da espécie é grande e a fêmea poderá parir ninhada média com seis filhotes a cada dois a três meses.

A omissão diante do problema expõe os animais e os próprios seres humanos a algumas zoonoses. A veterinária explica que, além das verminoses, doenças fúngicas simples, sarna e a raiva, já passadas também pelos cães, os gatos podem transmitir, quando infectados, a esporotricose, a criptocose e a toxoplasmose. “Gatos abandonados nas ruas ou que são domiciliados, mas têm acesso à rua, possuem maior probabilidade de estarem infectados com qualquer uma destas doenças”, adverte Ticiana.

Na sua avaliação, há solução para o problema, ainda que de longo prazo. No entanto, para que as ações sejam viáveis é necessário um envolvimento sério e contínuo da sociedade e dos governos municipal, estadual e federal, por meio de seus órgãos públicos. Ela aponta não haver uma solução única, mas um conjunto de medidas, tais como um amplo programa de recolhimento de animais para abrigos públicos, com recuperação do estado clínico dos mesmos, já que a maioria apresenta as mais diferentes doenças. A medida deve ser acompanhada pela castração em massa com a doação e acompanhamento do animal no novo lar.

Para cada nascimento de um bebê, cerca de 45 gatos também nascem, conforme proporção definida pela OMS. Foto: Thiago Gaspar

A esterilização dos gatos ainda é a medida mais eficaz para o atual problema, também defendida por ONGs. A Uipa é uma das pioneiras na ação. Segundo Geuza, a entidade mantém parceria com o veterinário Péricles Duarte Portela para cirurgias de castração, toda terça-feira, em sua residência. Como forma de garantir a segurança na sua casa, ela só está aceitando animais encaminhados por pessoas conhecidas. Anteriormente, a Uipa já chegou a fazer cerca de 220 cirurgias por mês. Agora, só realiza cerca de 80.

Além do atendimento semanal, a voluntária da entidade, Eulina Gondim, realiza em sua casa mutirão no último sábado de cada mês a preços acessíveis a famílias de baixa renda.

A Faculdade de Veterinária da Uece programa, com o Centro de Controle de Zoonoses de Fortaleza, um convênio de cooperação, para realizar 150 cirurgias de esterilização de cães e gatos. O convênio, que tem participação da Uipa na definição, aguarda posição na Procuradoria Geral do Município.

Segundo o diretor da Favet, professor Célio Pires, o hospital veterinário da Faculdade já realiza, em pequena quantidade, o procedimento gratuito para famílias de baixa renda, a partir de parceria mantida com entidades protetoras de animais, como o Grupo de Apoio e Bem-Estar Animal (Gaba). Porém, conforme ele avalia, a falta de apoio financeiro limita a atividade.

Cemitérios estão entre os locais públicos que as pessoas praticam o crime do abandono de animais, conforme prevê a Lei de Crimes Ambientais. Foto: Alex Costa

Mais informações

Faculdade de Veterinária da Uece – Campus do Itaperi – Fortaleza(85) 3101.9831/ 3101.9834Uipa – (85) 3261.3330

Fonte: Diário do Nordeste

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