O Japão enfrenta um aumento significativo na presença de ursos em áreas urbanas e rurais, uma consequência direta da destruição de seus habitats. Esses animais, vítimas de mudanças climáticas, redução de áreas cultivadas e escassez de alimentos, têm sido obrigados a buscar sustento em zonas habitadas por humanos, o que frequentemente resulta em conflitos.
Um caso recente em Akita ilustra bem a situação: um urso, faminto e desorientado, entrou em um supermercado, onde se encontraram por três dias, saqueou alimentos e entrou em confronto com funcionários. Esse comportamento, que pode parecer alarmante à primeira vista, é um reflexo da luta desesperadora dos ursos pela sobrevivência diante da manipulação ambiental promovida pelas atividades humanas.
Entretanto, a resposta predominantemente das autoridades e da sociedade tem sido cruel e ineficaz. Muitos desses ursos, ao serem capturados, enfrentam o abate sumário, prática justificada sob o argumento de segurança pública, mas que ignoram completamente a senciência e os direitos desses animais à vida. Na ilha de Hokkaido, único habitat dos ursos-pardos no Japão, caçadores idosos são chamados para matar os animais, um reflexo do envelhecimento dessa força de trabalho.
As autoridades locais, em vez de implementarem soluções éticas e sustentáveis, investiram em estratégias que perpetuam a violência contra os ursos. Em Naie, foi criada uma força-tarefa para contratar mais caçadores, enquanto dispositivos como o “Monster Wolf” – um robô que emite sons para espantar os animais – vêm sendo testados. Embora menos letais, essas iniciativas não atacam o problema central: a invasão humana nos habitats desses animais e a negligência quanto à preservação ambiental.
Matar ursos não resolverá os conflitos. Ao contrário, essa abordagem agrava a crise ecológica e impede que esses animais, já solicitados a abandonar seus territórios, vivam em segurança. É urgente que o Japão adote políticas de coexistência baseadas no respeito aos direitos animais, investindo na recuperação dos habitats e na coexistência. Esses ursos não são invasores; são vítimas de um sistema que prioriza o lucro e a expansão urbana em detrimento da vida selvagem.
Uma mudança de paradigma é essencial para garantir que esses animais possam viver sem uma constante ameaça de morte – uma dívida que a humanidade deve, com urgência, começar a pagar.