Por Walkyria Rocha (da Redação)
A Exposição Nacional de Cães, evento sancionado pelo American Kennel Club e patrocinado pela Purina, aconteceu na semana passada nos Estados Unidos. Os cães foram expostos para lentes de fotógrafos e ao público presente, eram vários animais abusados, sem o menor entendimento da situação que passavam e sem escolha de saírem do local. Estavam presos aos seus tutores, que os exibiam como se fossem troféus. As informações são do One Green Planet.
Uma fonte anuncia que o show reafirma que os cães “são os melhores animais domésticos”, enquanto uma outra mostra o ator, autor e comentarista John O’Hurley dizendo que o show é puro “divertimento”. Talvez puro preconceito, já que não há divertimento na exploração de cães e nem na hierarquização de animais, colocando uns para serem amados (os “melhores animais domésticos”) e outros para serem odiados ou nem sequer vistos (como os roedores e os animais abandonados).
De acordo com o NY Daily News, 20 milhões de americanos ficam sintonizados na transmissão do show todo ano, cujo horário é estrategicamente marcado pela televisão local para aumentar o público. Ele vem antes dos jogos de futebol do dia de Ação de Graças e logo após a Parada Macy (que já é um evento que tem sua dose de controvérsias devido ao show com o carro alegórico do Sea World e de Joan Jett de Dakota do Sul).
“Não há outro dia ou hora em que o show teria maior sucesso”, disse para o New York Post, Jon Miller, presidente da programação da NBC Sports e da NBC Sports Network. “É o dia perfeito para celebrar junto com a família e os cães são membros da família”.
Enquanto os feriados são dias perfeitos para se aproveitar com todos os membros da família, mesmo com aqueles de quatro patas, os tipos de membros da família que a Exposição Nacional de Cães está anunciando são os de raça pura – nenhum cão mestiço pode participar da exposição.
E o que muitas histórias estão ocultando de maneira grave é a principal peça do quebra-cabeça – a promoção da ideia do cão de raça pura, “A Exposição Nacional de Cães está fazendo um grande desserviço aos milhões de animais que entram no sistema de abrigos todos os anos – milhares dos quais (5500 cães, para ser exato) morrem a cada ano nos Estados Unidos”, segundo matéria no One Green Planet.
Mesmo que não possa existir um cão em cada casa, boa parte das famílias americanas ainda optam por comprar um cão ao invés de adotar um resgatado de um abrigo local.
Como conseqüência, muitos cães saudáveis e prontos para adoção perdem uma chance de partilhar suas vidas em lares amorosos.
A indústria de filhotes desempenha um grande papel na perpetuação do ciclo do alto número de animais recolhidos e mortos nos abrigos, e eles não se contém em falar facilmente sobre as condições desumanas que mantém os cães, mas esse não é o único problema.
Os cães que são exibidos na Exposição Nacional de Cães podem não ser produto da indústria suja de filhotes, mas são de criadores registrados no American Kennel Club – muitos dos quais são considerados “responsáveis” e cuidam de seus cães. A exposição dos cães de guarda são geralmente também de grandes amantes de animais que nunca fariam qualquer coisa que ferissem seus companheiros.
Mas a questão subjacente permanece: por que reproduzimos cães quando tantos vivem e morrem em abrigos todos os anos?
Certamente que há muitas respostas para essa questão, todas irão provavelmente destacar essa ideia básica de que ainda há uma demanda por cães de raça pura e que tem que ser satisfeita de alguma forma, e pode ser de uma maneira humanitária, por que não? E ainda, para essa mentalidade, (talvez não intencionalmente) cães são mercadorias, produtos que podemos produzir ( ou nesse caso, reproduzir) simplesmente porque queremos uma espécie particular – macia, sem pelo, cauda ou pequenina.
Entretanto, essa demanda não é sustentável e é completamente antiética, não se trata de uma demanda legítima, mas de algo egoísta e tacanho, e se não a diminuirmos, milhões de cães de abrigos ainda continuarão a morrer sem necessidade nos próximos anos. Então, vamos ser parte da solução – adotar, não comprar –, seu cão resgatado agradecerá.