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MAUS-TRATOS

Exportação de animais vivos: navio com cerca de 3 mil bois e vacas retornará ao Uruguai após quase dois meses à deriva

A falta de recursos essenciais como água, ração e higiene já matou 58 animais e coloca em risco a sobrevivência de outros, como cerca de 140 bezerros que nasceram a bordo.

17 de novembro de 2025
Redação ANDA
2 min. de leitura
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Foto: Reprodução/Redes Sociais

O cargueiro Spiridon II, uma embarcação de 52 anos adaptada para a exportação de animais vivos, transformou-se em um símbolo extremo da crueldade desse tipo de comércio. Aproximadamente 3 mil bois e vacas permanecem há 58 dias confinados em condições degradantes no interior do navio, depois que autoridades turcas impediram o desembarque no porto de Bandirma por causa de inconsistências nos registros sanitários e na identificação dos animais.

A embarcação saiu de Montevidéu em 20 de setembro e chegou à Turquia em 22 de outubro, mas foi impedida de descarregar o rebanho assim que as autoridades detectaram documentação irregular, incluindo brincos que não correspondiam aos registros apresentados pela tripulação. Sem autorização para desembarcar e autorizada apenas a receber suprimentos emergenciais, a embarcação ficou ancorada por semanas até receber a ordem de retornar ao Uruguai. A viagem de volta, com duração prevista de 32 dias, elevará para 90 o total de dias em alto-mar, o que significa três meses de confinamento contínuo.

Relatos de vizinhos da zona portuária, trabalhadores e equipes de resgate descrevem um cenário de extremo sofrimento, com odor forte, nuvens de moscas e sacos contendo carcaças espalhados pelo convés, além de suspeitas de vazamento de fluidos corporais. Organizações de defesa animal contabilizam pelo menos 58 mortes e cerca de 140 partos no interior da embarcação, segundo a Animal Welfare Foundation. O destino de muitos bezerros recém-nascidos é desconhecido, já que animais tão jovens dificilmente sobrevivem em ambientes insalubres, sem descanso e sem acesso consistente a água potável.

Veterinários alertam que a ausência de água fresca, ração adequada e cama limpa amplia o sofrimento a níveis insuportáveis. Para a veterinária Maria Boada Saña, cada dia adicional a bordo representa dor e risco de morte. A australiana Lynn Simpson, que atuou por anos em navios transportadores de gado, afirma que é provável que os recursos essenciais estejam no limite ou já tenham acabado, o que compromete toda a carga viva.

A falta de protocolos eficazes para lidar com interrupções de viagem e documentação irregular expõe um problema estrutural do setor. Para especialistas e entidades de defesa animal, o caso do Spiridon II representa um retrato fiel das falhas crônicas e previsíveis desse modelo de comércio. A Animal Welfare Foundation afirma que o navio evidencia de forma clara o que ocorre sempre que animais são tratados como carga descartável.

A viagem de retorno ao Uruguai avança sem qualquer garantia de sobrevivência para os animais que ainda permanecem a bordo. Não há definição oficial sobre o que acontecerá quando o navio chegar a Montevidéu, mas para especialistas, o destino já importa menos do que a urgência em encerrar definitivamente o transporte marítimo de animais vivos. O Spiridon II expõe, mais uma vez, a impossibilidade ética e prática desse tipo de operação, que coloca milhares de vidas sob risco extremo sempre que uma embarcação zarpa.

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