As câmeras traps (armadilhas fotográficas) que registram a movimentação da biodiversidade na Serra do Amolar conseguiram fazer uma descoberta inédita. Com a ferramenta, pesquisadores confirmaram, pela primeira vez, em 15 anos de estudos na RPPN (Reserva Particular do Patrimônio Natural) Acurizal, a presença do gato-mourisco avermelhado nessa região do Pantanal.
O artigo ‘Camera trapping reveals the reddish phenotype of jaguarundi (Herpailurus yagouaroundi) on the western border of Brazilian Pantanal’ (A captura fotográfica revela o fenótipo avermelhado de jaguarundi (Herpailurus yagouaroundi) no fronteira oeste do Pantanal brasileiro), foi publicado na revista científica de biologia ‘Mammalia’, deste mês.
A doutora em Ecologia e uma das coordenadoras de projetos do IHP (Instituto Homem Pantaneiro), Grasiela Porfírio, é autora do artigo que detalha a primeira aparição do indivíduo em novembro de 2022, considerada um marco para a ciência.
“Desde então, as câmeras já fizeram seis registros independentes. Acreditamos que seja mais de um indivíduo”, explicou. Para ter a dimensão da importância dessas imagens, é preciso entender a espécie que é muito difícil de ser estudada. O animal está na lista vermelha de animais ameaçados de extinção da União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN) desde 2002.
Gatos-mouriscos possuem densidade muito baixa, são diurnos e ariscos a presença humana. Nestes 15 anos de estudos na RPPN Acurizal, as armadilhas fotográficas só fizeram 18 registros da espécie, na forma acinzentada. O fenótipo avermelhado é visto em outros biomas, com habitats mais abertos, e por isso, a presença deles no Pantanal é um sinal de alerta.
“A hipótese é que mudanças no clima estão favorecendo com que o Pantanal fique mais seco e que possa se tornar o habitat desse novo fenótipo”. Conforme a pesquisadora, a hipótese é que esse tipo de gato-mourisco tenha vindo da Bolívia, da Área de Manejo Integrado San Matías, que faz fronteira com as áreas protegidas que monitoram na Serra do Amolar.
Ela ressaltou que as câmeras são a maneira mais eficiente de monitorar as espécies. “Elas funcionam como nossos olhos, de maneira não evasiva. Nosso monitoramento continua. Tivemos que fazer uma pequena pausa no monitoramento com as câmeras, por conta do risco do fogo e nesse mês estamos retornando”, acrescentou Grasiela.
Um dos co-autores do artigo, Diego Viana, divulgou nas redes sociais as imagens das câmeras traps. “Essa descoberta oferece novas perspectivas sobre os processos evolutivos das espécies e reforça a riqueza única da biodiversidade pantaneira. Mais uma razão para preservar este Patrimônio Natural da Humanidade”, comemorou.
Também assinam o artigo como co-autores Mariana Queiróz, Geovani Tonolli, Wener Hugo Arruda Moreno, Sergio Eduardo Barreto, Paula Cardoso de Lima, Angélica Guerra, Betina Kellermann, Josiel Oliveira. O estudo foi apoiado pelo Fundo de Meio Ambiente & Mudanças Climáticas da Brazil Foundation.
Fonte: Campo Grande News