Gilmara Lour
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As abelhas são manipuladas para gerar vários produtos de uso humano: mel, própolis, pólen, geleia real e até ferrão. Elas são insetos inteligentes, descritos como tendo uma das mais complexas formas de comunicação, perdendo apenas para os seres humanos.
Por serem vistas voando livres, elas são consideradas isentas das crueldades comuns na indústria agrícola. No entanto, as abelhas são tratadas exatamente da mesma forma que qualquer outro animal de fazenda.
Elas passam por uma rotina de exames e manejos, regimes alimentares artificiais, drogas e tratamentos por pesticidas, manipulação genética, inseminação artificial, transporte (por ar, trilhos ou estradas) e morte.
Rainha por um ano, talvez dois
As abelhas rainhas são inseminadas artificialmente com esperma obtido de abelhas decapitadas. As rainhas são mortas sistematicamente a cada dois anos, porém, depois de certo período de tempo a sua capacidade de reprodução entra em declínio e toda a sua colméia se torna improdutiva e antieconômica. Em Israel, elas são mortas e substituídas todos os anos.
Abelhas esmagadas
Quando os apicultores manipulam os favos, muitas abelhas são esmagadas e mortas. Uma baforada de fumaça é lançada nas colméias para acalmar as abelhas e facilitar o manuseio. Instrumentos especiais que violam o espaço das abelhas são introduzidos nas colméias para coletar seus produtos quando elas entram nas colméias. As abelhas são separadas de suas colméias através de vigorosas sacudidas ou por jatos fortes de ar. Elas podem ter suas asas e pernas arrancadas.
Cortar as asas das abelhas rainhas previne os enxames, que são a maneira natural de reprodução, alimento e sobrevivência das espécies. Entretanto, os apicultores estão constantemente tentando prevenir este fenômeno natural e usam formas artificiais, como cortar suas asas, para manter as colônias sob controle.
Alimentação artificial
Os apicultores alimentam as colônias com pólen artificial e calda de açúcar branco para substituir o mel que foi removido. Se essas práticas são mantidas por um longo período de tempo, há uma diminuição da produtividade e tempo de vida. As colônias alimentadas com sua comida natural – mel e pólen – resultam num grande surgimento de abelhas mais vigorosas.
Pesticidas
Os apicultores se tornam dependentes do uso de pesticidas sintéticos e antibióticos para combater pestes e isso leva a problemas como riscos toxicológicos para apicultores e abelhas, além de risco de contaminação do mel.
Abelhas transportadas
Abelhas são compradas e vendidas no mundo todo. No transporte, as abelhas podem sofrer de estresse, sufocação, superaquecimento ou frio. Muitas morrem como se fossem sepultadas em suas embalagens, que parecem caixões.
Abelhas exóticas são transportadas para países estrangeiros e causam problemas no ambiente natural, espalhando doenças. Elas são consequentemente tratadas como feras e mortas com sabão líquido e seus ninhos são destruídos colocando-se petróleo nas colméias.
Ganhando dinheiro
Para alimentar a economia da produção de mel na América do Sul, nos anos 50, o governo ordenou pesquisas sobre o uso do mel africano. Essas abelhas são as maiores produtoras de mel no mundo. Infelizmente, elas são também extremamente agressivas. Nenhum tipo de abelhas nativas da América do Sul tem ferrão, mas apenas três espécies produzem mel e certamente não em grandes quantidades. Infelizmente, as abelhas africanas produtoras de mel escaparam e milhares de colméias de abelhas africanizadas são agora destruídas a cada ano nos EUA, porque eles criaram e destruíram as abelhas européias produtoras de mel, mais dóceis, e elas picaram e mataram mais de 600 pessoas.
Polinização
Em muitos países, os serviços das abelhas são comprados com o propósito de polinizar, resultando no transporte das abelhas e suas colméias por centenas e milhares de milhas.
A indústria alimentícia atualmente está procurando manejar artificialmente as abelhas que produzem mel para polinizar plantações, porque abelhas e insetos selvagens (que deveriam polinizar naturalmente as plantações) foram e estão sendo destruídos pelo desenvolvimento de construções, poluição industrial, pesticidas, práticas intensivas em fazendas, destruição de cercas vivas.
O uso de abelhas produtoras de mel é hoje um grande negócio, especialmente em lugares como Nova Zelândia e América. Entretanto, mesmo no Reino Unido apicultores comerciais transportam colméias para encontrar reservatórios de néctar, para produção de mel e para polinização.
O pagamento pela polinização é um componente muito importante para o rendimento comercial dos apicultores. Comercialmente a criação de colônias de abelhas é também usada intensivamente para polinizar algumas estufas, particularmente plantações de tomates.
Vivissecção
Abelhas são também vítimas de vivissecção e um vasto número de experimentos levados em todo o mundo. Infelizmente, sua natureza geralmente quieta faz com que as abelhas sejam facilmente manipuladas e sejam consideradas animais de laboratório ideais. Muitas experiências são desenvolvidas nas colônias para aumentar a produção de mel, o que resulta em mais dinheiro.
No Japão, abelhas sofrem radiação para fazer com que os ferrões se tornem inofensiva, num esforço para atingir uma abelha sem ferrão para um manuseio mais fácil. Na Austrália, testes estão sendo feitos sobre uma proteína no ferrão da abelha para tratar o câncer.
Risco para a saúde
Mel e outros produtos das abelhas são largamente usados na medicina popular. Entretanto, pessoas com asma ou alergias são recomendadas a não tomarem mel ou geléia real, depois de diversas doenças e mortes; mel também não é adequado para crianças com menos de 12 meses de idade, por causa do risco de botulismo. Abelhas são vistas ingerindo água de plantas de esgoto e é sabido que coletam piche, adesivos e tinta ao invés de própolis.
Além disso, uma comparação dos principais nutrientes do mel e do açúcar demerara mostra que o açúcar é superior em proteína, calorias, potássio, cálcio, magnésio, fósforo, cobre, ferro, cloro, B6, pantotenato. Os muitas vezes duvidosos benefícios para a saúde dos produtos apícolas não justificam o uso e abuso das abelhas que produzem mel. Existem diversas alternativas de medicamentos disponíveis sem ingredientes animais.
Grande família
A abelha mais popular para produção de mel é a apis mellifera européia. Em comum com todos os insetos, ela tem um cérebro e diversos pequenos gânglios (sub-cérebros) correndo por seu corpo. Proporcionalmente ao seu tamanho, o cérebro da abelha é muito grande. O gânglio tem fibras nervosas conectando-o com fins sensoriais na camada externa do inseto. Outras fibras carregam impulsos nervosos dos gânglios para o músculo e órgãos internos, regulando sua ação.
Em média, uma colônia comporta 42.000 – 60.000 abelhas e pode sobreviver mais de 20 anos. Entretanto, a expectativa de uma abelha individualmente é muito curta. Dentro da colméia existem três tipos de abelhas: a operária, o zangão e a rainha.
A operária desenvolve a maioria dos trabalhos necessários para manter a colônia funcionando, incluindo limpeza, alimentação, larvar, manipular a cera, processar o mel e vasculhar ou defender a colônia.
As abelhas que vasculham comunicam fontes de alimento para suas colegas por meio das famosas “danças de sacudir”, que envolvem intrincadas séries de círculos e movimentos. Depois de seus mais ou menos 20 dias de vida, ela age como uma vasculhadeira ou abelha voadora, coletando néctar e pólen.
A vida da operária dura cerca de 30 a 35 dias. Até onde se sabe, a única função do zangão é se acasalar com a abelha rainha; depois disso, ele morre em condições naturais. As rainhas vivem por 5 anos, mais ou menos. Elas têm duas principais funções na vida: acasalar-se e pôr ovos. Ela é uma parte muito importante da colônia, porque passa adiante suas características e controla seus trabalhos pelo número de ovos que produz.
Maiores produtores de mel
Cerca de 250.000 a 300.000 toneladas de mel são comercializadas internacionalmente por ano e duas vezes isso é atualmente produzido. Existem cerca de 6 grandes produtores no mundo, incluindo China, USA, México, Argentina, Canadá e Alemanha.
Dados das abelhas produtoras de mel
A abelha produtora de mel voa cerca de 800 Km em sua vida de operária e produz apenas meia colher de chá de mel. Uma rainha deve produzir meio milhão de ovos em sua expectativa de vida natural, entretanto, só lhe será permitido viver dois anos no mundo comercial, produzindo 150.000 ovos anualmente. Durante esse período, em condições calmas, as abelhas que vasculham viajam a 24 Km por hora e até mais do que 40 Km por curtos períodos de tempo e trabalham por 7-10 horas por dia.
Produtos das abelhas
Mel (alimento) – Comida pré-digerida feita pelas abelhas a partir do néctar. As abelhas coletam o néctar das folhas e estocam em seu estômago primário ou estômago do mel, onde ele é parcialmente digerido e convertido no que chamamos de mel. Essa é uma fonte de alimento das abelhas e é estocada na colméia para os meses de inverno. O metabolismo do mel cria um calor que mantém a temperatura da colméia de 17 a 34 graus. A colônia requer 200 lbs de mel para sobreviver. É usado por humanos como comida, remédio e em cosméticos. Existem muitos substitutos para o mel, como o melado, extrato de malte, açúcar, xarope de glicose, suco de frutas concentrado.
Cera de abelhas – Secreção de 8 pequenas glândulas de cera localizadas abaixo do abdomen da abelha. A cera macia flui em 8 bolsas abaixo das glândulas onde é solidificada, sendo removida e passada para a boca, onde é trabalhada em células hexagonais chamadas favos, que são usados como estrutura básica da colméia. É usada em cosméticos, na indústria farmacêutica, em ceras e velas.
Própolis – Uma substância resinosa colhida pelas abelhas nas árvores e usada para tapar buracos e envernizar a colméia. As abelhas a utilizam também como antibiótico natural e agente antifungo. É colhida por humanos raspando a colméia ou coletando em molduras especiais. É usada como medicamento ou suplemento alimentar e chamada algumas vezes de “cola da abelha”.
Polen de abelhas – É coletado das flores e trazido de volta à colméia como uma carga em suas patas traseiras. É uma fonte de alimento para as abelhas e é estocado na colméia. A colônia requer cerca de 60 lbs de pólen todo ano para sobreviver. A coleta humana de pólen envolve adaptar armadilhas especiais que raspam o pólen e são grande o suficiente para a abelha passar. O pólen de abelhas é usado como suplemento alimentar.
Geléia real – É um creme branco, fluido colante resultante de uma mistura de duas secreções das glândulas das abelhas operárias. É a única fonte de nutrição para a rainha por toda a sua vida, já que a geléia real permite à abelha se tornar rainha. Algumas pessoas acreditam que podem reaver sua juventude perdida comendo este produto. Na China, que é o maior exportador deste produto, foram inventadas técnicas para se coletar geléia real e detalhes dos métodos de coleta são guardados em segredo. Algumas vezes é chamado de “leite das abelhas”.
Veneno (ferrão) – A coleta do ferrão da abelha envolve a construção de uma tela de carga elétrica na frente da colméia. Quando as abelhas voam através dessa tela, elas recebem um choque elétrico que faz com que deixem depositado seu ferrão. O ferrão é usado por algumas pessoas por suas supostas qualidades medicinais.
Estatísticas do Reino Unido
Cerca de 22.000 toneladas de mel são consumidas no Reino Unido todos os anos, sendo a maior parte importada da Nova Zelândia, China, Argentina e México. Existem cerca de 40.000 apicultores no Reino Unido, mas provavelmente apenas 320 são empreendimentos comerciais ou semi-comerciais.