EnglishEspañolPortuguês

Ex-voluntário da Suipa critica a entidade e defende a eutanásia

24 de maio de 2010
4 min. de leitura
A-
A+

O leitor Luciano Netto Boiteux enviou um e-mail à redação do Jornal O Globo no qual relata suas experiências como voluntário na Sociedade União Internacional Protetora dos Animais (Suipa), além de fazer severas críticas à diretoria e ao funcionamento do lugar. Acompanhe o texto abaixo:

O sofrimento inútil dos animais na Suipa

Fui voluntário na Sociedade União Internacional Protetora dos Animais (Suipa) de 1998 a 2004. Nunca presenciei um caso voluntário de maus-tratos, e posso garantir que Izabel Cristina Nascuimento, presidente da entidade, é uma pessoa honesta. A Suipa, que não é uma ONG, faz o trabalho que o Centro de Controle de Zoonoses deveria fazer: receber os animais e colocá-los para adoção. O grande problema é que a incompetência administrativa, o desvio de objetos, doações e rações, a falta de espaço e a resistência em permitir as adoções, aliada à vista grossa dos membros da diretoria, fazem com que as condições de vida dos animais sejam péssimas.

Se existe superpopulação, existem maus-tratos. Os animais vivem juntos, em matilha, e atacam – e matam – aqueles que não podem ser subjugados. É um ato extremamente cruel colocar um cãozinho abandonado em um local com 300, 500 animais que não o conhecem e não estão dispostos a tolerar sua presença. Ele acaba morto. Alguns morrem – literalmente – de medo, antes mesmo de serem retirados do carrinho que os leva para dentro do abrigo.

Na Suipa existe um canil chamado “Central Park”, onde os animais mais ferozes são colocados. Tais cães estão condenados, pois nunca serão adotados. Também existe a ala dos pit bulls. E dos animais com sequelas de cinomose. E macacos, gambás, patos, porcos, animais que poderiam ser adotados por sitiantes que não os matassem.

A meu ver, o maior problema da Suipa é o fato de a entidade não ser eutanásica. Por não sacrificar nenhum animal, mantém seres sem a menor qualidade de vida enjaulados, encarcerados em gaiolas, paralisados, se arrastando. Acredito na eutanásia (química, realizada por um veterinário) – tanto em seres humanos quanto em animais – como um ato de amor, quando não há mais possibilidades de uma vida feliz.

Qual a diferença entre matar e deixar morrer? Nenhuma. De nada adianta a Suipa pregar a não eutanásia e permitir que um animal mate o outro dentro do canil. O sofrimento da morte por ataque, na qual o cão é dilacerado por seus companheiros de “cela”, é enorme.

Durante alguns anos tentei ajudar, fiz mais de 10 mil fotos, criei sites, fiz campanha que arrecadou fundos para a Unidade de Resgate, tentei colocar um call center, câmeras de segurança para evitar os roubos, fiz uma loja virtual com uma linha de 64 produtos, tive reuniões com a empresa que fazia a auditoria, com a diretoria. Mas nada foi suficiente para que a realidade do abrigo fosse mudada.

A Suipa tem jeito? Tem, com certeza. Mas para que isso aconteça tudo tem que mudar. E não vai mudar enquanto todos aqueles funcionários que lá estão, hoje, não forem demitidos. Acredito que o nome da entidade deva representar o bem, a vida.

Hoje, temos um campo de concentração, nos moldes de qualquer presídio, destes que vemos na TV quase toda noite. A grande diferença é que os “hóspedes”, os segregados, são vítimas. São seres vivos que, por um motivo ou por outro (fútil na grande maioria das vezes), foram abandonados pelas pessoas a quem dedicavam suas vidas. Estão ali, salvo raríssimas excessões, à espera da morte, quando na verdade deveriam estar apenas de passagem, à espera de uma nova chance, de uma nova vida.

Esse meu discurso inflamado, tantos anos depois de não fazer mais parte daquele mundo, se deve ao fato de eu me sentir muito bem dentro de um canil com 600 cachorros abandonados, e de eu, mesmo não tendo mais a oportunidade de estar ali lutando por aqueles bichos, reconhecer em algumas pessoas que conheci, funcionários pobres, exemplos de bondade raríssimos de encontrar “aqui fora”. É isso!

Com informações de O Globo

Nota da Redação: Uma parte dos problemas enfrentados pela Suipa pode ser resolvido por meio da conscientização a favor da guarda responsável e programas de castração e adoção, e não pela eutanásia, como afirma Luciano Netto. Muitas das entidades responsáveis pelo recolhimento e assistência a animais abandonados passam por problemas, justamente porque a demanda de animais sempre é maior do que a estrutura dos lugares pode suportar. Caso essas denúncias sejam verídicas, as autoridades competentes devem ser acionadas para que o sofrimento não se perpetue entre esses animais já tão castigados. Solucionar essas defasagens passa por uma postura mais atuante das autoridades públicas junto a essa triste realidade enfrentada pelo animais que não têm um lar. Isso faz com que a população se torne mais consciente acerca dos males causados a um cão ou gato deixados na rua, desafogando, consequentemente, essas entidades que tentam suprir o que os demais setores da sociedade ficam devendo.

Você viu?

Ir para o topo