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Ex-jogador da NBA Yao Min pretende convencer a China a deixar de usar marfim

11 de setembro de 2014
6 min. de leitura
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Por Patricia Tai (da Redação)

Yao Ming, no orfanato Daphne Sheldrick, é seguido por Kinango, um elefante órfão de duas semanas de idade cuja mãe foi caçada pelas suas  presas. Foto: Kristian Schmidt / WildAid
Yao Ming, no orfanato Daphne Sheldrick, é seguido por Kinango, um elefante órfão de duas semanas de idade cuja mãe foi caçada pelas suas presas. Foto: Kristian Schmidt / WildAid

Quando era um novato tímido e nervoso de 25 anos de idade na NBA, Yao Ming confrontou o poder do adversário Shaquille O’Neal pela primeira vez – e tornou-se um vencedor. Agora, mais de uma década depois e aposentado do esporte, o ex-jogador encara um desafio talvez tão assustador quanto diferente: convencer a nação chinesa a abandonar a sua paixão pelo marfim e salvar a seriamente ameaçada população de elefantes africanos.

Apenas nos últimos três anos, cerca de 100 mil elefantes foram caçados por suas presas, de acordo com novo estudo: um massacre em massa impulsionado pela crescente demanda por marfim na China, uma nação que se torna cada vez mais rica. Mas o jogador certa vez apelidado de “A grande muralha da China” tem por objetivo lutar contra esse movimento através do poder da persuasão. As informações são do Washington Post.

Foto: Kristian Schmidt /WildAid
Foto: Kristian Schmidt /WildAid

Yao disse em entrevista recente que ele conectou-se à África particularmente porque “lá há muitos animais maiores que eu”.

Ele visitou o continente pela primeira vez em 2012, para ver por si mesmo a dura realidade da caça aos elefantes e rinocerontes. Um documentário exibido na China em agosto e agendado para ser apresentado nos Estados Unidos em novembro mostra o usualmente impassível Yao contendo as lágrimas enquanto se depara com a carcaça de um elefante em decomposição, que estava com a face brutalmente rasgada pelo caçador que removeu as suas presas.

Yao Ming observa o corpo de um elefante caçado em Namunyak, no norte do Quênia. "Eu vi cinco corpos muito próximos uns dos outros quando estive no Quênia - um indicativo da seriedade dessa crise de caça",  escreveu Yao em um blog. Foto: Kristian Schmidt /WildAid
Yao Ming observa o corpo de um elefante caçado em Namunyak, no norte do Quênia. “Eu vi cinco corpos muito próximos uns dos outros quando estive no Quênia – um indicativo da seriedade dessa crise de caça”, escreveu Yao em um blog. Foto: Kristian Schmidt /WildAid

“Antes, era uma questão de números para mim – quantas toneladas de marfim, quanto dinheiro vinha desse negócio. Algumas vezes os números são frios”, disse ele. “Depois que você visita a África, é uma experiência muito particular. Eu senti que construí um tipo de conexão especial com os animais”.

A transformação de jogador de basquete para ativista de vida selvagem começou em 2006, quando ele encontrou-se pela primeira vez com membros da ONG WildAid, uma entidade baseada em San Francisco, durante outra temporada na NBA dificultada por lesões. Os ativistas rapidamente persuadiram-no a começar o seu trabalho como ativista na Shanghai Sharks, juntando-se à campanha para salvar tubarões através da pressão para que os chineses deixassem de consumir sopa de barbatana.

Desde então, Yao apareceu em uma série de comerciais e fez incontáveis aparições públicas para divulgar a realidade sangrenta da indústria mundial de barbatanas de tubarão – mostrando aos companheiros chineses como a demanda do país estava aniquilando essas elegantes criaturas dos oceanos, e tentando convencê-los de que servir o prato em casamentos e banquetes não é um sinal de sofisticação e sim de ignorância.

Incrivelmente, Yao e a WildAid podem ter conseguido o seu objetivo. Em parte como resultado de uma campanha anti-corrupção em que a cara iguaria foi proibida em banquetes governamentais, a sopa de barbatana de tubarão está se transformando em algo fora de moda na China. Um estudo da WildAid lançado em agosto mostrou que os preços e as vendas de barbatanas de tubarão no país caíram entre 50 e 70%.

Foto: Kristian Schmidt /WildAid
Foto: Kristian Schmidt /WildAid

Mas o desejo pelo marfim, por sua vez, é uma tradição profundamente arraigada na China, e como o poder de compra da população cresceu nos últimos tempos, assim também ganhou força o hábito de se presentear parceiros de trabalho, amigos e parentes com peças ricamente esculpidas em marfim. Embora a China permita um comércio reduzido e legal de marfim a partir de peças de estoques antigos, essa brecha possibilita a cobertura para o vasto e ilegal comércio que tem abastecido uma nova onda de caça na África, conforme dizem os especialistas.

Os altos ganhos financeiros na venda do marfim levam à morte de centenas de caçadores e guardas em conflitos à mão armada, no que se tornou uma verdadeira guerra. Organizações criminosas globais estão intimamente envolvidas com o tráfico de marfim, e notícias dão conta de que grupos terroristas como o Exército de Resistência do Senhor (Lord’s Resistance Army) chefiado por Joseph Kony e o grupo extremista Al-Shabab da Somália também estão lucrando com esse comércio.

Em fevereiro, a administração Obama tomou medidas para endurecer as regras sobre o comércio de marfim nos Estados Unidos, que são um dos maiores mercados mundiais. Em junho, Nova Jersey tornou-se o primeiro estado americano a concordar com uma completa proibição. Yao e a WildAid querem que a China e os Estados Unidos sigam o exemplo, e que em todo o mundo seja instaurada a total proibição da exportação do marfim que foi estocado de 1989 a 1997. Eles também almejam a renovação dos esforços para conter o comércio de chifres de rinoceronte.

Não se trata de algo fácil de ser empreendido. O Presidente Obama terá de superar a oposição da National Riffle Association, que está preocupada com o valor das armas de fogo com o preço do marfim embutido, e a China precisará interromper um comércio tradicional que é praticado há cerca de cinco milênios, e atingir poderosos grupos com interesses ocultos.

“A China é uma economia em ascensão. Mais e mais pessoas estão vivendo em melhores condições financeiras agora, mas nós temos que equilibrar os nossos desejos”, disse Yao. “Devemos fazer isso, pois não poderemos viver sozinhos nesse planeta. Se há uma lista de espécies caminhando para a extinção, estou muito certo de que nós não seremos os últimos dessa lista”, acrescentou Yao.

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