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ESTUDO

Eventos de El Niño impulsionados pelas mudanças climáticas estão devastando populações de borboletas, besouros e outros insetos tropicais

É urgente que o mundo se mobilize para compreender e reduzir os impactos das mudanças climáticas nessas espécies essenciais e nos ecossistemas delas.

12 de agosto de 2025
Nigel Stork e Adam Sharp
4 min. de leitura
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Foto: iStock

Os insetos são, sem dúvida, os animais mais importantes do planeta. Sua diversidade não tem paralelo na natureza, e eles realizam tarefas vitais, como polinizar plantas e servir de alimento para outros animais.

Mas nem tudo vai bem no mundo dos insetos. Pesquisas dos últimos anos mostraram declínios contínuos no número de espécies e indivíduos. Parecia que a Terra estava testemunhando um colapso global de insetos, e as mudanças climáticas eram parcialmente responsáveis.

As evidências estavam concentradas principalmente em regiões temperadas do Hemisfério Norte. Mas nossa nova pesquisa, publicada na Nature, revela que isso também está acontecendo nos trópicos, onde vive a maior parte das espécies da Terra.

Descobrimos uma perda significativa de biodiversidade em aranhas, além de insetos como borboletas e besouros. O provável culpado são as alterações de longo prazo no ciclo do El Niño, causadas pelas mudanças climáticas. Isso sugere que o sistema de suporte à vida que sustenta os trópicos está sob séria ameaça em um mundo mais quente.

Revelando os efeitos do El Niño

Os El Niños variam muito entre as regiões tropicais, mas geralmente são caracterizados por condições quentes e secas (em oposição ao clima fresco e úmido da La Niña).

A alternância entre El Niño e La Niña pode naturalmente fazer com que muitos insetos desapareçam e reapareçam. Isso ocorre devido a mudanças na temperatura e na umidade, que afetam a reprodução, os ciclos de vida e o comportamento dos insetos.

Porém, à medida que as mudanças climáticas se intensificam, os eventos de El Niño estão se tornando mais frequentes e intensos. Queríamos entender como isso afetava os insetos nas regiões tropicais.

Para descobrir, analisamos 80 estudos já existentes sobre insetos em florestas tropicais relativamente preservadas — a maioria das Américas tropicais. Associamos esses dados a medidas da intensidade do El Niño e da La Niña ao longo do tempo.

E encontramos motivos para preocupação. Os eventos de El Niño parecem causar um declínio rápido tanto na biodiversidade de insetos quanto nas funções ecológicas que eles desempenham. Essas tendências foram persistentes e altamente anormais.

Vários tipos de insetos tornaram-se mais raros nas Américas tropicais nas últimas décadas. Entre eles, borboletas, besouros e “hemípteros” — insetos da ordem Hemiptera, caracterizados por dois pares de asas e peças bucais perfuradoras que usam para se alimentar de plantas. Borboletas na Ásia tropical também estão em declínio.

As quedas mais acentuadas ocorreram em insetos raros que naturalmente diminuíam durante o El Niño. Normalmente, essas populações se recuperavam durante a La Niña. Mas os El Niños intensificados pelo clima estão fazendo com que muitas populações caiam tanto que não conseguem mais se recuperar.

Mudanças drásticas nas florestas

Nossas descobertas sugerem que a diversidade de insetos tropicais pode ser reduzida a cada evento de El Niño. Isso não é um problema apenas para as próprias espécies, mas também para outras partes do ecossistema que dependem delas.

Nossa pesquisa também incluiu a modelagem da decomposição e do consumo de folhas por insetos nas Américas, Ásia e África tropicais. Ambos os processos são cruciais para a saúde das florestas tropicais.

A decomposição flutuou de acordo com a abundância de cupins, provavelmente os decompositores mais importantes nos trópicos. E, de forma preocupante, a quantidade de folhas vivas consumidas por insetos parece ter despencado nas últimas décadas. Isso se correlacionou fortemente com o colapso nas populações de borboletas e besouros.

Essas mudanças drásticas podem ter implicações para as teias alimentares e outros organismos que dependem dos insetos.

Um futuro desafiador pela frente

Nossa pesquisa não conseguiu abranger a enorme diversidade de insetos tropicais — a maioria dos quais ainda não foi formalmente descrita pela ciência. Mas ela aponta para um futuro difícil para os insetos — e seus habitats — à medida que as mudanças climáticas pioram.

Há poucos dados sobre o número de insetos na região dos Trópicos Úmidos da Austrália, em Queensland. No entanto, trabalhos de monitoramento estão em andamento em locais como o Daintree Rainforest Observatory. Esses projetos nos ajudarão a entender melhor as mudanças na biodiversidade de insetos em um cenário de mudanças climáticas.

Mais pesquisas também são necessárias em outras partes do mundo. Dado o papel fundamental que os insetos desempenham na manutenção da vida na Terra, a urgência desse trabalho não pode ser exagerada.

Traduzido de DownToEarth.

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