(da Redação)
Ocorre anualmente, há 76 anos, um evento chamado “Tennessee Walking Horse Celebration”, em Shelbyville, no Tennessee (EUA).
Quase 250 mil ingressos para o evento desse ano já foram vendidos. Com uma competição considerada “vitrine” para o desempenho de cavalos, o evento busca exibir a capacidade de um cavalo em mostrar a marcha “Big Lick” – um movimento em que os animais levantam as patas dianteiras para o alto e parecem “valsar” em torno de uma arena. Os cavalos são julgados de acordo com a combinação da caminhada atípica com o balançar de suas cabeças para cima e para baixo, conforme andam.
Apesar da competição ser específica do Tennessee, eventos semelhantes ocorrem em todo o território americano (especialmente em Kentucky), e incentivam os visitantes a se reunir para a experiência “incrível” de ver a “dança” dos cavalos de Tennessee. Segundo a reportagem, outras raças de cavalos – como o Hackney – têm sido usadas para esse tipo de performance, mas os “caminhantes de Tennessee”, como são chamados os cavalos da região, continuam a ser a raça tradicional na celebração, devido ao seu alegado carisma. As informações são do One Green Planet.
O evento movimenta mais de 650 mil dólares em prêmios e, como é de se esperar, nos bastidores desse show tido como magnífico está a prática do “horse soring”, que nada mais é que o abuso a um cavalo até que ele execute o que se deseja da maneira “apropriada”.
Como eles são treinados?
Os cavalos “caminhantes” de Tennessee cavalos são conhecidos por ter um andamento suave, e por praticamente não terem qualquer forma de rejeição (saltos) ao serem montados. Seu caminhar envolve um movimento ritmado e rápido como uma corrida, através de uma arena, com as duas patas dianteiras sendo erguidas para o alto…uma após a outra. Este movimento é natural para a raça, e é algo bonito de se ver. O problema é que essa passada típica é tão valiosa para competições que, visando o ganho financeiro, tutores de cavalos estão dispostos a abusar desses animais.
Com mais de 2.000 cavalos inscritos anualmente no Tennessee Walking Horse Celebration, tutores e treinadores fazem de tudo para assegurar que o seu cavalo seja declarado um campeão.
Uma das principais maneiras de se conseguir que um cavalo realize uma marcha “Big Lick” é através da manipulação de seus cascos e patas. Se um cavalo será inscrito em uma competição desse tipo, a ponta do casco é encorajada a crescer, enquanto o calcanhar é raspado excessivamente para baixo. Essa “pata desequilibrada” é ajustada ao se forçar os cavalos a usar almofadas ou “sapatos” pesados feitos de couro, borracha e plástico. A fim de anexar o pesado aparato, pregos e outros objetos metálicos são martelados nas patas do animal.
Outro método utilizado para esta competição, que vem atraindo muitas críticas de grupos de direitos animais, é chamado “soring”. O “soring” é o termo dado ao ato de prejudicar pernas ou cascos de um cavalo para forçar o animal a realizar um passo exagerado. Existem vários métodos de “soring”, sendo que o principal deles consiste no procedimento de espalhar produtos químicos tóxicos (como óleo de mostarda, óleo diesel e querosene) nos membros dianteiros, a fim de causar dor extrema. Para aumentar o desconforto – pra não dizer, sofrimento – os treinadores também envolvem pesadas correntes ao redor das pernas do cavalo de modo que, durante as sessões de equitação, os pesos de metal deslizem para cima e para baixo nas pernas já fatigadas do animal. Como resultado, o cavalo vai erguer as patas dianteiras para o alto, a fim de evitar mais irritação.
O “soring” também envolve cortar as patas dianteiras de um cavalo e pregar-lhes sapatos pesados que podem causar dor excruciante para as sensitivas solas. Além disso, pregos e outros objetos irregulares podem ser colocados nos cascos, mais uma vez para infligir dor e forçar o cavalo a evitar colocar pressão sobre as pernas já danificadas.
Vendo como juízes apreciam o “Big Lick” (ou o termo dado a uma marcha exagerada) em eventos dessa natureza, treinadores de cavalos sentem-se continuamente incentivados a participar desses atos cruéis e dolorosos de abuso animal. De fato, um teste revelou que aproximadamente 67 por cento dos cavalos inscritos no Celebration 2013 continham em suas pernas substâncias usadas para ocultar queimaduras químicas e cicatrizes.
História de abuso e violações
Estima-se que o “soring” seja praticado na comunidade “Walking Horse” há cerca de 44 anos e, apesar do Congresso americano e outras organizações de direitos dos animais se manifestarem para apoiar o bem-estar dos cavalos, o processo abusivo ainda ocorre até hoje. Um dos incidentes mais notáveis na luta pelos cavalos de Tennessee ocorreu em 2012, quando os métodos de treinamento abusivos de Jackie McConnell apareceram sob os holofotes em vídeos terríveis.
McConnel é um conhecido treinador de cavalos, condenado em um tribunal federal por violar a Lei de Proteção de Cavalos. Em 2012, ele se declarou culpado em 12 dos 22 atos de abuso animal dos quais foi acusado, e acabou sendo colocado em prisão domiciliar, além de ter que pagar uma multa de 25 mil dólares. Jeff Dockery e John K. Mays – dois dos co-réus de McConnel – também declararam-se culpados de três e catorze acusações (respectivamente) de abuso de animais em 2013.
No início de março, foi declarado pelo USA Today que uma batalha estava ocorrendo no Congresso no sentido de proteger esses cavalos de abusos. Dois projetos de lei agora visam cessar todas as práticas abusivas quando se trata de treinamento de cavalos.
A Humane Society dos Estados Unidos, juntamente com várias organizações específicas, grupos veterinários e celebridades, como Priscilla Presley e Alyssa Milano, apoiam a aprovação das leis que pretendem proibir a prática do “soring”.
Cavalos explorados para entretenimento humano, seja nos EUA ou em qualquer lugar do mundo, passam por diversos tipos de sofrimento para que executem as performances exigidas. Vivem confinados, recebem substâncias químicas e outros artifícios em suas patas, são espancados e, quando as cicatrizes de suas lesões estão muito graves para serem curadas, ou quando eles estão muito debilitados, feridos ou cansados, são enviados para a morte. Muitas vezes, sua carne é usada para consumo humano.
A reportagem finaliza sugerindo que esse tipo de informação seja compartilhada, e que qualquer tipo de evento que explore cavalos em toda parte seja boicotado, e se possível apontado no site Trip Advisor, para ampliar a extensão da informação e do boicote, de modo a instaurar uma nova cultura em que cada vez mais cavalos sejam poupados de tanto sofrimento.