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MUDANÇAS CLIMÁTICAS

EUA registram ao menos um desastre climático por dia de uma costa a outra: bem-vindos ao ‘novo normal’

Nesta semana, até Vermont, que frequentemente encabeça as listas de ‘melhores estados para se viver’ longe dos efeitos do aquecimento global, sofreu com enchentes catastróficas no país

14 de julho de 2023
David Gelles, The New York Times
7 min. de leitura
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Foto: Ilustração | Freepik

Inundações catastróficas no Vale do Hudson, onde está localizada a cidade de Nova York. Uma onda de calor implacável em Phoenix. Temperaturas oceânicas atingindo 32 ºC na costa de Miami. Um dilúvio surpreendente em Vermont, que frequentemente encabeça as listas de “melhores estados para se viver para evitar as mudanças climáticas”. Um raro tornado em Delaware, e vários alertas de enchentes em diferentes partes de Arkansas e Louisiana. Uma década atrás, qualquer um desses eventos teria sido visto como improvável. Esta semana, porém, aconteceram simultaneamente, à medida que as mudanças climáticas estimulam condições meteorológicas extremas, levando a governadora democrata Kathy Hochul, de Nova York, a chamá-los de “nosso novo normal”.

No mês passado, a fumaça dos incêndios florestais canadenses também cobriu as principais cidades dos Estados Unidos, uma onda de calor mortal atingiu o Texas e Oklahoma e chuvas torrenciais inundaram partes de Chicago.

— Não é apenas uma invenção da sua imaginação, e não é porque todo mundo agora tem um smartphone — diz Jeff Berardelli, meteorologista-chefe e especialista em clima da WFLA News em Tampa, na Flórida. — Vimos um aumento no clima extremo. Isso sem dúvida está acontecendo.

E é provável que fique mais extremo. Este ano, um poderoso El Niño se desenvolvendo no Oceano Pacífico está prestes a liberar calor adicional na atmosfera, alimentando ainda mais condições climáticas severas em todo o mundo.

— Vamos ver coisas acontecendo este ano ao redor da Terra que não vimos na História moderna — acrescenta o meteorologista.

E mesmo com tempestades, incêndios e inundações se tornando cada vez mais frequentes, a mudança climática é um assunto periférico para a maioria dos eleitores. Em uma nação focada na inflação, escândalos políticos e brigas com celebridades, apenas 8% dos americanos identificaram o aquecimento global como a questão mais importante que o país enfrenta, de acordo com uma pesquisa recente da NPR/PBS NewsHour/Marist.

À medida que os desastres climáticos se tornam mais comuns, eles podem estar perdendo seu poder de comoção. Um estudo de 2019 concluiu que as pessoas aprendem a aceitar o clima extremo como normal em apenas dois anos.

— Esta não é apenas uma questão complexa, mas está competindo por atenção em um mundo dinâmico, incerto e complicado — afirma Anthony Leiserowitz, diretor do programa de Comunicação sobre Mudanças Climáticas da Universidade Yale.

Apesar do crescente alarme entre os cientistas do clima, há poucos sinais do tipo de mudança social generalizada que reduziria as emissões de gases de efeito estufa que estão aquecendo perigosamente o planeta.

— Cada vez mais pessoas reconhecem a mudança climática como um problema, mas não gostam das soluções — afirma Paul Slovic, professor da Universidade de Oregon especializado em psicologia do risco e tomada de decisão. — Eles não querem abrir mão do conforto e das conveniências que obtemos ao usar energia de fontes erradas e assim por diante.

Na quinta-feira passada, no que os pesquisadores dizem ter sido o dia mais quente da História moderna, um número recorde de voos comerciais, cada um emitindo mais gases que aquecem o planeta, estava no ar, de acordo com o site de rastreamento aéreo Flightradar24.

À medida que os incêndios florestais e o aumento do nível do mar destroem comunidades da Califórnia à Carolina do Norte, os residentes continuam a reconstruir áreas propensas a desastres.

E enquanto mais eletricidade está sendo gerada por energia eólica, solar e outras energias limpas, o mundo ainda é amplamente alimentado por combustíveis fósseis como petróleo, gás e carvão, as principais fontes de emissões que aquecem o planeta.

Os efeitos cumulativos de todos esses gases de efeito estufa estão agora em exibição aterrorizante em todo o mundo. O planeta aqueceu em média 1,2 °C em comparação com os níveis pré-industriais, alimentando uma série estonteante de eventos climáticos extremos.

Estudos mostram que as inundações mortais no Paquistão no ano passado, a onda de calor que atingiu o noroeste do Pacífico em 2021 e o furacão Maria, que alcançou Porto Rico em 2017, foram agravados pelas mudanças climáticas.

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