Por Lobo Pasolini (da Redação)
Um relatório do Instituto de Medicina (IOM, na sigla em inglês) e do Conselho de Pesquisa Nacional divulgado nesta quinta-feira, em Washington, determina que não há necessidade para o uso de chimpanzés em laboratórios de pesquisas médica e comportamentais. Segundo a Universidade Johns Hopkins, Estados Unidos e Gabão são os únicos países a fazer pesquisas científicas usando esses primatas como cobaias. Nos países da União Europeia, nenhuma nação mantém chimpanzés em cativeiro com esse objetivo.
Para os defensores dos direitos animais, há preocupação com o destino dos primatas usados em laboratórios depois que os fundos estatais forem cortados para os experimentos existentes. O Instituto Nacional da Saúde (NIH, na sigla em inglês) hoje financia o uso de 612 chimpanzés em pesquisas médicas nos Estados Unidos. “Este número me preocupa muito, pois é praticamente igual ao número de chimpanzés que temos em reservas nos Estados Unidos. Quem vai cuidar desses animais que têm vida longa e assumir o custo pela sobrevivência deles?”, disse April Truitt, diretora e fundadora do Primate Rescue Center, uma instituição que protege e cuida de chimpanzés que foram vítimas de abuso ou abandono.
Segundo a ativista, os chimpanzés costumam viver até os 60 anos e custam, por dia, cerca de US$ 22. Para ela, ainda que seja uma boa notícia, o anúncio feito nesta quinta pode ter consequências desastrosas a curto prazo, já que os laboratórios simplesmente devem mandar os animais, alguns com problemas de saúde e sem estarem socializados, a ONGs e instituições de cuidado, sem qualquer ajuda financeira. Há menos de duas semanas, por exemplo, April recebeu um chimpanzé que, em 43 anos, nunca tinha saído do cativeiro.
Relatório
“Começamos o estudo com um ponto de vista agnóstico e, no final dele, chegamos à conclusão de que o uso de chimpanzés em pesquisas biomédicas não é justificável”, disse em uma entrevista à imprensa Jeffrey Kahn, presidente do comitê encarregado pelo relatório e vice-diretor do Berman Instituto de Bioética da Johns Hopkins University.
O relatório, solicitado pelo Congresso dos EUA, foi iniciado em abril deste ano e contou com a colaboração de cientistas, médicos, veterinários, especialistas em bioética, antropólogos e acadêmicos.
Existem atualmente diversas alternativas para a condução destes estudos, como o uso de engenharia genética a partir de modelos humanos.
Exploração de chimpanzés a caminho do fim?
O National Institutes of Health dos Estados Unidos suspendeu todas as novas bolsas de pesquisa biomédica e comportamental em chimpanzés e aceitou os primeiros critérios uniformes de avaliação da necessidade de tais pesquisas. Essas dizem que a pesquisa seja necessária para a saúde humana e que não haja outra forma de realizá-la.
A agência governamental disse que os chimpanzés merecem consideração especial e que segundo um comitê especialista do Institute of Medicine a maioria da pesquisa em chimpanzés era desnecessária.
As novas recomendações cobrem apenas os chimpanzés de propriedade ou mantidos pelo governo, o que totaliza um número de 612 indivíduos de um total de 937 chimpanzés disponíveis para pesquisa nos Estados Unidos. Somente alguns servem como cobaias simultaneamente.
Uma das áreas onde o uso de chimpanzé talvez continue a acontecer é na pesquisa da vacina preventiva de Hepatite C, embora ainda esteja aberto para discussão, já que o comitê não chegou a um consenso sobre este tópico.
A Humane Society elogiou a iniciativa mas ressaltou que a linguagem do texto implica que os chimpanzés ficarão detidos nos centros de pesquisa.
“O que nós queremos é que eles sejam removidos para santuários”, onde áreas maiores estão disponíveis para eles.
Com informações do Jornal do Brasil e do do New York Times.
Nota da Redação: Não é porque os chimpanzés são ‘parentes próximos’ do ser humano que eles têm direito à sua integridade física, mas sim porque, como qualquer outro ser senciente, eles não têm que ser sacrificados para benefício de outros. A medida é benvinda, mas o raciocínio por trás dela é equivocado.