Quando Victor era ainda uma criança, sua mãe morreu, vítima de antraz. Foi aí que Fred apareceu. Ele o levou para casa toda noite, o alimentou, o carregou nas costas. Essa, que seria uma comovente história de altruísmo entre um homem e um bebê, é, na verdade, a trajetória seguida por dois chimpanzés — e por isso, talvez, ainda mais admirável. Um estudo recentemente publicado na Revista Science sugere que animais sejam muito mais caridosos do que se imagina.
Pesquisadores já encontraram atitudes de ajuda coletiva em várias espécies, como formigas, saguis e ratos.
O primatologista Christophe Boesch passou a investigar o comportamento dos chimpanzés na selva — e o fez durante 27 anos. No decorrer do estudo, Boesch e sua equipe identificaram entre chimpanzés 18 casos de adoções de órfãos de mãe. Como “adoção” os pesquisadores definiram a prestação de cuidados geralmente maternos por, no mínimo, dois meses — como dividir comida ou esperar que o mais novo o alcance nas caminhadas.
Um dado curioso é que dez em cada 18 adoções eram feitas por machos, que normalmente têm pouco a ver com a criação da prole. E somente em um destes casos, a adoção havia sido feita pelo próprio pai do filhote.
Especialistas, porém, não estão preparados para admitir que o comportamento seja de fato altruísta em sua definição completa, ou seja, fazer o bem sem esperar nada em troca. A antropóloga Joan Silk, da Universidade da Califórnia, admite que existe a possibilidade de que os chimpanzés buscassem algum tipo de compensação mais tarde, como ajuda em caso de conflitos. E o psicólogo Derek Penn, da Universidade de Louisiana, diz que 18 adoções em 27 anos de observações não é um sinal de que o altruísmo seja assim tão forte no mundo animal.
Com informações da Revista Galileu