As Magpies, por exemplo, reconhecem seus reflexos no espelho. Os corvos New Caledonian constroem ferramentas e aprendem essas habilidades com os membros mais velhos do grupo. Os papagaios cinzentos africanos são capazes de contar, classificar objetos por cor e forma e aprender palavras humanas.
Porém, poucas pessoas pensam sobre a inteligência das galinhas. Nos últimos anos, os cientistas descobriram que elas possuem habilidades de comunicação semelhantes à de alguns primatas e que utilizam sinais sofisticados para transmitir suas intenções.
Ao tomar decisões, a galinha leva em consideração sua própria experiência e seus conhecimentos prévios. Ela consegue resolver problemas complexos e sentir empatia por indivíduos em perigo.
Estas novas descobertas sobre a mente das galinhas sugerem que certas habilidades cognitivas complexas tradicionalmente atribuídas aos primatas podem ser mais comuns no Reino Animal do que se acreditava.
Isso também tem implicações éticas sobre como a sociedade trata galinhas exploradas em granjas: reconhecer que as elas têm esses traços cognitivos obriga a refletirmos sobre seu sofrimento em sistemas de produção projetados para disponibilizar o máximo possível da carne e ovos de galinhas.
Foi necessário quase um século para os pesquisadores descobrirem o que ocorre no cérebro das galinhas. Os primeiros indícios surgiram a partir de estudos realizados na década de 1920, quando o biólogo norueguês Thorleif Schjelderup-Ebbe estabeleceu que as aves têm um sistema de dominação, revelou a revista científica Scientific American.
O próximo grande avanço para a compreensão da mente das galinhas aconteceu várias décadas depois. Os falecidos Nicholas e Elsie Collias, ambos da Universidade da Califórnia, Los Angeles (EUA), categorizaram as chamadas das aves e determinaram que as galinhas possuem um repertório de cerca de 24 sons diferentes, muitos dos quais parecem ser específicos de certos eventos.
Essas primeiras descobertas sugeriram que mais coisas acontecem no cérebro do tamanho de uma noz dos animais do que se suponha. As vocalizações pareciam codificar informações específicas para evocar uma resposta particular dos espectadores.
Contudo, relacionar esses sons e movimentos ao seu verdadeiro significado tornou-se difícil até a década de 1990.
Surgiu uma revelação verdadeiramente surpreendente: os sons ou movimentos de uma galinha transmitem informações específicas compreendidas por suas companheiras.
Uma galinha não precisa ver um predador aéreo, por exemplo, para se comportar como se estivesse em sua presença, apenas precisa ouvir o alerta de outra ave.
As chamadas das galinhas são “funcionalmente referenciais”, como diriam os behavioristas – o que significa que elas se referem a objetos específicos e acontecimentos da mesma maneira que as palavras usadas pelos humanos o fazem.
As galinhas adaptam suas mensagens para o público. Um galo que vê uma ameaça, por exemplo, faz um ruído de alarme se vê uma fêmea perto, mas fica em silêncio na presença de um macho rival. As fêmeas são igualmente seletivas, apenas enviando um alerta quando têm pintinhos.
Em conjunto, essas descobertas sugeriram que os sons não refletiam apenas o estado interno de uma ave. Em vez disso, as galinhas interpretaram o significado dos eventos e responderam não por reflexos simples, mas com ações bem pensadas. As galinhas, ao que parece, pensam antes de agir – um traço mais tipicamente associado a mamíferos de grandes cérebros do que a aves.
Tudo isso mostra que as galinhas são mais cognitivamente sofisticadas do que se suponha. A lista de habilidades cognitivas das galinhas continua crescendo a cada descoberta científica.
Giorgio Vallortigara, da Universidade de Trento, na Itália, comprovou que os jovens pintinhos têm a capacidade de distinguir números e usar a geometria. Uma pesquisa publicada em 2011 por Joanne Edgar e seus colegas, da Universidade de Bristol, na Inglaterra, apontou a capacidade dos animais de sentir empatia.
As galinhas podem assumir a perspectiva de outras aves – uma habilidade vista em apenas algumas espécies, incluindo corvos, esquilos e, naturalmente, humanos.
A competição dentro do grupo não foi o único fator que pressionou a capacidade mental das aves. Elas também enfrentaram uma série de ameaças externas – incluindo predadores como raposas e águias -e cada uma exigiu uma estratégia de fuga diferente.
Essas condições obrigaram as aves a desenvolver estratégias inteligentes para lidar umas com as outras e com os perigos que as ameaçam, assim como formas de se comunicar sobre diversas situações. Essas características ainda estão presentes nas galinhas domésticas.
O fato de esses animais terem tantas habilidades, e mesmo assim bilhões deles serem consumidos por seres humanos, levanta questões sobre como eles são tratados. As aves que tipicamente vivem em pequenos bandos na natureza possuem uma expectativa de vida de 10 anos enquanto as galinhas criadas pela indústria da carne vivem apenas seis semanas.
Elas são assassinadas ainda muito jovens porque são geneticamente selecionados para um crescimento tão rápido que torna os animais mais velhos suscetíveis a doenças cardíacas, osteoporose e ossos quebrados. As galinhas poedeiras vivem apenas 18 meses em um espaço do tamanho de uma folha de papel.
Infelizmente, isso continuará enquanto as pessoas não se conscientizarem sobre a crueldade por trás de seus pratos e desconhecerem a natureza notável das galinhas.
Os pesquisadores apenas começaram a esclarecer a verdadeira natureza da inteligência das galinhas, mas um fato é certo: essas aves estão longe de ser “estúpidas” como as pessoas acreditavam.