(da Redação)
Vacas precisam ter amigos, e quando privadas desta necessidade básica, sua capacidade mental sofre consequências. A pesquisadora de bem estar animal Charlotte Gaillard da Universidade de British Columbia esclareceu essa questão e trouxe uma visão sobre como as vacas aprendem, especialmente durante a crucial idade de crescimento. As informações são da Care2.
O recente estudo examinou as diferenças de aprendizado entre vacas com níveis variados de socialização. Os resultados mostraram que as vacas, como todas as espécies sociais, precisam de interação para se desenvolverem e prosperar.
Nas fazendas de exploração de vacas para extração de leite, elas são separadas de suas mães e confinadas em celas individuais, o que consiste no maior ofensor ao seu desenvolvimento e, possivelmente e muitas vezes, impossibilita até a sua sobrevivência. O estudo de Gaillard demonstra que não são apenas as crianças humanas que sofrem com o confinamento solitário. Vacas são criaturas sociais, e quando impedidas desse convívio e de amizades, elas apresentam uma performance pior em testes de desenvolvimento cognitivo.
Segundo a reportagem, até hoje não foram realizados muitos estudos sobre o comportamento das vacas, e não se tem conhecimento de estudos anteriores sobre a relação entre sua performance cognitiva e a convivência com companheiros durante a fase de crescimento. A falta de investigação é devido ao fato das vacas, como animais de muitas outras espécies, serem consideradas meros objetos perante a maioria esmagadora da sociedade, que nomeia esses animais simplesmente como “gado” e lhes atribui termos funcionais como “leite”, “carne”, “couro” ou “trabalho”.
Os testes, que analisaram bezerros criados sozinhos e outros acompanhados, entre as idades de quatro a oito semanas, consistiam em levar os animais a associar diferentes quadrados coloridos com recompensas de alimentos, bem como colocá-los em um recinto com um objeto não familiar para ver o quanto eles se dispunham a interagir com o mesmo, seja lambendo-o, cheirando-o ou empurrando-o.
Os resultados mostraram que as vacas que cresciam mais socialmente envolvidas com outros animais eram mais capazes de formar laços e criar amizades, e também eram hábeis para lidar com os testes com maior facilidade e confiança. As vacas criadas isoladas, por sua vez, apresentaram dificuldade com as tarefas complexas, e quando um objeto desconhecido era colocado próximo delas, elas nunca eram capazes de se acostumar com sua presença e demonstravam ansiedade crescente, agindo de maneira temerosa e incerta sobre o que ocorria ao seu redor.
Animais não humanos podem ter vidas sociais plenas, e seu bem estar depende de quanto eles são capazes de interagir e engajar-se com companheiros e com o meio em que vivem. Nos locais onde são criados, a maioria dos bezerros fica confinada a pequenos espaços onde choram, pedindo para se reunir com suas mães e irmãos.
A reportagem relembra que as vacas não são simples máquinas que podem suportar as práticas cruéis e abomináveis a que são submetidas pelos humanos. Elas são seres sencientes, pulsantes, que experienciam a dor e o sofrimento.
Inclusive, algumas vacas que tiveram a oportunidade de serem enviadas a santuários ao invés de serem mortas pela indústria do consumo humano provam que nesses locais elas podem expressar plenamente suas personalidades complexas e emoções, e têm liberdade para desenvolver suas habilidades cognitivas à sua maneira, assim como fazer amigos e desfrutar da companhia de seus pares. Um exemplo disso são as vacas Sweety e Tricia, ambas portadoras de cegueira, que tornaram-se melhores amigas após terem vivido a 350 milhas de distância, conforme publicado recentemente pela ANDA. Elas são o perfeito testemunho de que ter amigos é importante para as vacas não só para o aprendizado, mas também pelo afeto.