Cientistas fizeram uma descoberta que pode mudar o direcionamento das práticas de proteção a espécies de baleias ameaçadas de extinção. Utilizando novos métodos de análise, eles verificaram que as baleias-francas-austrais, uma das espécies que sofrem mais riscos na natureza, podem viver o dobro do que se acreditava até hoje.
A descoberta, publicada na revista Science Advances e resumida pela Smithsonian Mag, faz das baleias-francas-austrais o mamífero com o segundo maior tempo de vida conhecido, atrás apenas da baleia-da-groenlândia. Os achados e os métodos inovadores usados para alcançá-los deverão ajudar a embasar esforços de conservação daqui para frente.
A novidade desta pesquisa, publicada este mês pela revista, está na forma de se estimar o tempo médio de vida de uma espécie. Métodos anteriores — como a análise da cera do ouvido, que se acumula a cada ano como os anéis de uma árvore — exigiam que as baleias estivessem mortas para fazer a datação. E, como a caça comercial de baleias foi bastante intensa ao longo do século XIX e início do século XX, a maioria dos animais mais velhos e maiores provavelmente ficou fora dos cálculos dos pesquisadores. Assim, grande parte das estimativas de longevidade atuais provavelmente está distorcida por uma super-representação de baleias mais jovens, escreve a equipe no artigo.
“Estávamos pensando nessas baleias de maneira completamente errada,” diz Peter Corkeron, coautor do estudo e ecologista marinho da Griffith University, na Austrália, ao jornal The Guardian. “Isso dificultou nossa capacidade de acertar as práticas de conservação para evitar que essas baleias sejam extintas.”
No novo estudo, os pesquisadores implementaram algumas táticas inovadoras. Usando fotos de baleias-francas dos anos 1970, eles identificaram fêmeas com base em sua aparência e anotaram quando elas pararam de aparecer nas fotos, presumivelmente porque morreram. Em seguida, incorporaram essas informações em modelos estatísticos semelhantes aos usados por companhias de seguros de vida para estimar a expectativa de vida humana.
Os achados sugerem que as baleias-francas-austrais têm uma expectativa de vida mediana de cerca de 73 anos. Mas até 10% delas podem viver até 131 anos — e algumas podem até se aproximar dos 150. Isso é muito mais do que as estimativas anteriores, que sugeriam que esses mamíferos tinham uma expectativa máxima de vida entre 70 e 80 anos.
A descoberta muda o raciocínio envolvido nas práticas de proteção a espécies ameaçadas. “Entender quanto tempo os animais selvagens vivem tem implicações importantes para como protegê-los da melhor forma,” escrevem os coautores do estudo, Peter Corkeron e Greg Breed no The Conversation.
Os métodos utilizados são “bastante impressionantes,” segundo C. Scott Baker, ecologista da Oregon State University, que não participou do estudo. “Eles apresentam um bom argumento para a plausibilidade de seus resultados.”
Os pesquisadores usaram as mesmas técnicas para estimar a expectativa de vida das baleias-francas-do-norte, uma espécie criticamente ameaçada com uma estimativa de apenas 372 indivíduos restantes. O estudo conclui que as baleias-francas-do-norte têm uma expectativa de vida mediana de apenas 22 anos, com os 10% mais longevos superando a idade de 47.
E por que uma diferença tão grande na expectativa de vida entre as espécies de baleias francas? Os cientistas suspeitam que as baleias-francas-do-norte são muito mais vulneráveis por causa do local onde vivem – águas costeiras do Atlântico próximas ao Canadá e aos Estados Unidos, uma região de intensa atividade comercial.
Assim, fica mais clara a diferença dos graus de ameaça por cada tipo de baleia, e a maior urgência em proteger as espécies que têm menos indivíduos vivos e menor expectativa de vida. “Animais que têm vidas muito longas geralmente se reproduzem extremamente devagar e podem passar muitos anos entre os nascimentos. Estratégias de conservação e manejo que não considerem isso terão maior chance de falhar. Isso é especialmente importante, dados os impactos esperados das mudanças climáticas.”
De forma geral, os achados reforçam a ideia de que as baleias ainda estão se recuperando dos danos causados pela caça comercial. “Para alcançar populações saudáveis que incluam animais mais velhos, a recuperação pode levar centenas de anos,” diz Greg Breed. “Para animais que vivem 100 ou 150 anos e dão à luz apenas a um filhote sobrevivente a cada 10 anos, uma recuperação lenta é o esperado.”
Fonte: Um Só Planeta