Cientistas descobriram evidências convincentes de um comportamento de ajuda mútua de longo prazo entre estorninhos africanos, desafiando suposições antigas sobre cooperação entre indivíduos não aparentados no reino animal.
Não é surpresa que os seres humanos frequentemente se ajudem, mesmo quando não são parentes. Basta pensar no apoio mútuo que mantém suas amizades mais antigas firmes ao longo do tempo.
Mas provar que esse tipo de cooperação também ocorre entre animais tem sido muito mais difícil.
Agora, um novo estudo sobre estorninhos africanos oferece evidências sólidas de que isso acontece. Liderada por Alexis Earl, ex-aluna de doutorado no laboratório do professor Dustin Rubenstein, a equipe de pesquisa passou mais de 20 anos observando essas aves. As descobertas revelam que os estorninhos praticam a “reciprocidade” — ou seja, ajudam uns aos outros com a expectativa de que o favor será retribuído no futuro.
“As sociedades de estorninhos não são apenas famílias simples, são muito mais complexas, contendo uma mistura de indivíduos aparentados e não aparentados que vivem juntos, de forma muito parecida com os humanos”, disse Rubenstein.
Ajuda além dos laços familiares
O fato de que animais ajudam parentes diretos — ou seja, seus “parentes de sangue” — com o objetivo de aumentar sua aptidão genética e perpetuar seus genes, já é bem conhecido na comunidade científica. Os estorninhos realmente preferem ajudar seus parentes, mas muitas aves também ajudam indivíduos não aparentados. Earl e seus colegas descobriram que essa ajuda entre não-parentes acontece por meio da formação de relações recíprocas de ajuda, que às vezes duram muitos anos.
Comprovar que esse tipo de comportamento recíproco também ocorre entre indivíduos que não são parentes diretos é difícil, pois exige grandes quantidades de dados coletados ao longo de longos períodos de tempo. O novo artigo, publicado esta semana na revista Nature, baseia-se em 20 anos de pesquisa conduzida por Rubenstein e seus colegas com estorninhos africanos que vivem no clima severo das savanas da África Oriental.
De 2002 a 2021, os pesquisadores estudaram milhares de interações entre centenas dessas aves e coletaram DNA dos indivíduos da população para examinar suas relações genéticas. Combinando dados comportamentais e genéticos de 40 temporadas de reprodução, a equipe pôde fazer perguntas como: as aves ajudavam preferencialmente seus parentes? Elas ajudavam não-parentes mesmo quando parentes estavam disponíveis? E elas retribuíam a ajuda a indivíduos específicos ao longo dos anos?
Amizades no mundo animal
No fim das contas, os pesquisadores descobriram que os ajudantes preferencialmente auxiliavam parentes, mas também ajudavam de forma frequente e consistente certos indivíduos não aparentados — mesmo quando parentes estavam por perto e disponíveis para ajudar. “Muitas dessas aves estão essencialmente formando amizades ao longo do tempo”, disse Rubenstein. “Nosso próximo passo é explorar como essas relações se formam, quanto tempo duram, por que algumas permanecem fortes e outras se desfazem.”
Esses dados se somam a décadas de pesquisas realizadas por Rubenstein, seus colegas e alunos sobre como e por que os animais se socializam. Eles examinaram sociedades animais não apenas em aves, mas também em uma diversidade de espécies ao redor do mundo, incluindo camarões estaladores no Caribe, vespas na África, besouros na Ásia e ratos e lagartos na Austrália.
“Acredito que esse tipo de comportamento de ajuda recíproca provavelmente acontece em muitas sociedades animais — as pessoas só não estudaram essas espécies por tempo suficiente para conseguir detectar isso”, disse Rubenstein.
Traduzido de SciTech Daily.