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SAÚDE

Estudo revela que 86% dos cães com osteoartrite também sofrem de dor muscular

Diagnóstico preciso e abordagem multimodal são essenciais para tratar osteoartrite e dor miofascial

17 de março de 2025
Cláudia Guimarães
5 min. de leitura
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Foto: Ilustração | Freepik

A osteoartrite é uma das doenças mais comuns em cães e uma das principais causas de eutanásia em animais idosos. No entanto, um estudo recente trouxe uma descoberta importante: 86% dos cães com osteoartrite também sofrem de dores musculares, conhecidas como dor miofascial. Mas, o tratamento da dor muscular é diferente do tratamento da dor da osteoartrite. Nesses casos, como o médico-veterinário deve proceder?

A médica-veterinária Maira Formenton, referência na área de Fisiatria Veterinária, é a autora do estudo e explica que, assim como em humanos, cães com osteoartrite podem desenvolver pontos gatilhos e contraturas musculares, que geram dor musculoesquelética significativa. “O estudo demonstrou que a dor muscular pode estar presente independentemente do número de articulações afetadas. Ou seja, mesmo que o cão tenha apenas uma articulação comprometida, ele pode estar sofrendo com dores musculares associadas”, revela.

Além disso, Maira conta que ainda encontrou uma correlação positiva com a idade, ou seja, quanto mais idoso, mais chance do animal ter mais dor muscular, sofrer mais com dor muscular.

Sinais de dor

Maira compartilha que a dor crônica em cães nem sempre se manifesta de forma clara, como o fato de mancar. “Os primeiros sinais podem ser comportamentais, incluindo:

  • Relutância em se movimentar ou brincar;
  • Dificuldade para subir escadas, pular no sofá ou na cama;
  • Mudança nos hábitos de higiene, especialmente em gatos;
  • Sensibilidade ao toque em determinadas áreas do corpo”.

Outro sinal de alerta aos tutores é o animal começar a urinar e defecar em lugares diferentes, porque ele não consegue mais alcançar os locais habituais para isso ou ele tem dor quando sobe na caixa de areia.

Só acomete cães idosos?

A médica-veterinária informa que oito a cada dez pacientes com osteoartrite também têm dor muscular.  Além disso, ela declara que o problema surge não apenas em animais com a idade avançada, mas, sim, desde os cães jovens. “Isso porque existem casos de alterações congênitas, ou seja, o cachorro já nasce com a articulação mal formada, como as displasias coxofemorais, displasia de cotovelo, alterações de joelho, como rupturas de ligamento cruzado cranial e luxações patelares. E, da mesma forma, esses animais mais jovens podem sofrer da dor muscular”, menciona.

Maira comenta que os principais fatores que contribuem para o desenvolvimento tanto da osteoartrite quanto da dor miofascial, além de alterações biomecânicas e conformacionais, são:

  • Raças condrodistróficas, como Dachshund e Bulldog, que possuem conformação corporal predisponente;
  • Obesidade e sedentarismo, que sobrecarregam as articulações e a musculatura.

“Os tutores podem agir preventivamente, mantendo os animais ativos e com peso adequado, reduzindo as chances de desenvolver ou agravar essas condições”, recomenda.

Impacto na qualidade de vida

A profissional destaca que as dores crônicas podem impactar bastante a qualidade de vida dos pacientes e, também, dos tutores. “Muitas vezes, os tutores percebem que seu cão está com a atividade diminuída, está com dificuldade de movimentação, ou não faz mais atividades que vinha fazendo antes, mas, como diferenciar isso de outras síndromes clínicas, como, por exemplo, o problema abdominal? Só é possível por meio de exames diagnósticos feitos pelo veterinário. Então, o profissional vai examinar esse animal e, conhecendo os diagnósticos diferenciais, vai distinguir entre uma síndrome clínica ou, por exemplo, ele não está comendo direito porque o rim dele está com algum problema, ou porque ele está passando mal do intestino e por aí vai”, expõe.

Daí a importância do correto diagnóstico para o tratamento do animal, que, neste quadro, deve ser multimodal, ou seja, requer uma combinação de estratégias para ser eficaz. Entre as principais recomendações de Maira estão:

  • Controle da dor articular e muscular: O uso de medicamentos específicos para aliviar a dor associada à osteoartrite e à dor miofascial é essencial. Como a dor muscular tem características diferentes da dor articular, os tratamentos devem ser ajustados conforme a necessidade do paciente.
  • Terapias complementares para a dor miofascial: A acupuntura ajuda a inativar os pontos gatilhos, reduzindo a dor muscular; massagem terapêutica e alongamento são técnicas para aliviar tensões musculares e melhorar a circulação; a fisioterapia e a reabilitação possuem exercícios específicos para fortalecer a musculatura e restaurar a mobilidade do animal.
  • Controle do peso e incentivo à atividade física: Obesidade e sedentarismo agravam tanto a osteoartrite quanto a dor miofascial. Por isso, manter o animal fisicamente ativo e com um peso adequado reduz a sobrecarga nas articulações e músculos.
  • Identificação e manejo dos pontos gatilhos: Maira destaca que a pesquisa estabeleceu critérios de palpação para identificar os pontos dolorosos na musculatura dos cães. O tratamento desses pontos inclui técnicas de liberação muscular, como acupuntura e fisioterapia.
  • Interrupção do ciclo de dor: A osteoartrite causa sobrecarga nos músculos, que se inflamam e criam novos focos de dor. O tratamento adequado desativa os pontos gatilhos, fortalece a musculatura e melhora a função articular, interrompendo esse ciclo.
  • Abordagem personalizada para cada paciente: Cada cão pode ter uma combinação diferente de dores e dificuldades de locomoção. Assim, o veterinário deve avaliar cada caso individualmente e adaptar o plano terapêutico.

Pontos fortes do estudo

Maira defende que, antes desse estudo, muitos cães com osteoartrite recebiam apenas tratamento para a dor articular e continuavam sofrendo, pois a dor muscular passava despercebida. “Com esse novo conhecimento, tutores e veterinários podem buscar diagnósticos mais precisos e tratamentos mais eficazes”, argumenta e adiciona que o estudo estabeleceu critérios de palpação e diagnóstico para a dor miofascial, permitindo que veterinários reconheçam os sinais desta condição com mais precisão.

Na Medicina Humana, segundo Maira, a dor miofascial já é amplamente estudada e reconhecida, sendo uma das principais causas de dor crônica. “No entanto, na Medicina Veterinária, essa relação ainda era pouco compreendida. O estudo prova que os cães sofrem com dores musculares da mesma forma que os humanos e que essas dores podem ser incapacitantes se não forem tratadas”, observa.

A profissional ainda faz um alerta: “Se um animal apresenta sinais de dor ou mudanças comportamentais, é essencial levá-lo ao veterinário para uma avaliação detalhada. A dor miofascial nos cães é real, tem tratamento e não deve ser ignorada”.

Fonte: Cães&Gatos

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