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ADAPTAÇÃO

Estudo revela como felinos brasileiros reagem às mudanças humanas no meio ambiente

Pesquisa da UNESP mostra que espécies de felinos selvagens respondem de formas distintas à presença de estradas e áreas agrícolas no Brasil

11 de outubro de 2025
Taís Vianna
2 min. de leitura
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Jaguatirica (Leopardus pardalis) no Pantanal. Foto: Sebastian Kennerknecht

Um novo estudo guiado por pesquisadores da Universidade Estadual Paulista (UNESP) mostrou que os felinos selvagens brasileiros não se comportam da mesma maneira diante das transformações impostas pelo ser humano no meio ambiente. A equipe analisou mais de 14 mil registros de nove espécies e descobriu que enquanto onças-pardas e jaguarundis conseguem se adaptar melhor a áreas agrícolas e estradas, espécies como o gato-maracajá e o gato-do-mato-pequeno dependem quase exclusivamente de florestas preservadas.

“Descobrimos que não podemos tratar todos os felinos da mesma forma. Cada espécie tem uma estratégia diferente para lidar com as mudanças na paisagem”, explicou Vanessa Bejarano Alegre, primeira autora do estudo e pesquisadora do Laboratório de Ecologia Espacial e Conservação (LEEC) da UNESP.

artigo, publicado na revista Biological Conservation, combinou dados abertos de plataformas como GBIF e iNaturalist com mapas de cobertura do solo e redes rodoviárias. A abordagem revelou que o impacto humano é altamente variável entre as espécies.

Segundo o estudo, o gato-de-geoffroy (Leopardus geoffroyi), classificado como espécie generalista – um grupo que também abrange as onças-pardas (Puma concolor) e o jaguarundi (Herpailurus yagouaroundi) –, mostrou-se avesso a áreas modificadas, comportamento típico de um especialista florestal. Já todas as três espécies (gato-maracajá, gato-do-mato-pequeno e gato-do-mato-grande) consideradas dependentes de floresta foram encontradas próximas a áreas agrícolas, o que pode indicar que seus últimos refúgios estão isolados por plantações.

Outro ponto apresentado foi a diferença na relação com as áreas de estradas. Dados apontaram que 35,8% dos registros de gato de-geoffroy foram encontrados a menos de 10 metros de rodovias – quase um terço dos casos – e apenas 0,001% dos gatos-do-mato-pequeno toleram essa proximidade – uma diferença de mais de 3.500 vezes. Já as onças pintadas, por sua vez, mesmo sendo grandes predadores e possuindo uma capacidade de percorrer longas distâncias, evitam ao máximo as estradas – um padrão analisado pelos pesquisadores que avaliaram a presença delas apenas em horários de baixo tráfego.

Os resultados apontam que políticas de conservação devem levar em conta as particularidades de cada espécie. Corredores agroflorestais, por exemplo, podem favorecer felinos generalistas, mas são insuficientes para proteger os especialistas, que necessitam de grandes áreas contínuas de vegetação nativa.

Além de trazer orientações práticas para órgãos ambientais, o trabalho reforça o valor dos dados abertos na conservação da biodiversidade. “Essa abordagem mostra como informações públicas podem apoiar decisões em larga escala, especialmente em regiões tropicais onde o monitoramento de campo é difícil”, destaca Milton Cezar Ribeiro, coautor do estudo. As conclusões devem contribuir diretamente para os Planos de Ação Nacional do ICMBio voltados à conservação de felinos no país.

Fonte: O Eco

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