Plástico e vestígios de produtos químicos perigosos foram encontrados na Antártica, um dos últimos grandes desertos do mundo, de acordo com um novo estudo.
Pesquisadores passaram três meses recolhendo amostras de água e neve de áreas remotas do continente no início deste ano. Elas foram analisadas e os investigadores confirmaram que a maioria continha “químicos perigosos persistentes” ou microplásticos.
As descobertas acontecem em meio à crescente preocupação com a extensão da crise da poluição plástica, que os cientistas alertam como sendo um risco de “contaminação permanente” do planeta.
No início desta semana, a ONU alertou que essa poluição é uma das maiores ameaças ambientais do mundo e disse que, embora 60 países estejam tomando medidas urgentes, mais ações são necessárias.
O novo relatório de pesquisadores do Greenpeace faz parte de uma campanha global para criar o maior santuário oceânico do mundo nos mares ao redor da Antártica. A iniciativa tem intenção de proteger esse frágil ecossistema, que é diretamente afetado pela pesca industrial e por mudanças climáticas.
Frida Bengtsson, da campanha Protect the Antarctic do Greenpeace, disse que as descobertas provaram que mesmo as áreas mais remotas do planeta não estão imunes ao impacto da poluição provocada pelo homem.
“Precisamos de ação na fonte, para acabar com esses poluentes que acabam na Antártica. E precisamos de um santuário oceânico antártico para dar espaço para pinguins, baleias e todo o ecossistema se recuperar das pressões que estão enfrentando”, ela disse.
Sete das oito amostras de água da superfície do mar continham microplásticos, como microfibras. Das nove amostras de neve testadas, sete continham concentrações detectáveis de produtos químicos perigosos persistentes – substâncias polifluoradas alquiladas.
Pesquisadores disseram que os produtos químicos são amplamente utilizados em muitos processos industriais e produtos de consumo e estão ligados a problemas reprodutivos e de desenvolvimento na vida selvagem. Eles disseram que as amostras de neve sugeriam que as substâncias químicas perigosas vieram de chuva ou neve contaminada.
Alex Rogers, especialista em oceanos sustentáveis da Universidade de Oxford, disse que a descoberta de plásticos e produtos químicos nas águas do continente confirmou que os poluentes produzidos pelo homem estão afetando os ecossistemas em todos os cantos do mundo. E ele advertiu que as consequências dessa contaminação generalizada continuam, em grande parte, desconhecidas.
“A grande questão agora é quais serão as consequências reais de termos encontrado esse material aqui? Muitos desses químicos são muito nocivos e, à medida que avançam na cadeia alimentar, podem causar impactos negativos à saúde da vida selvagem e, em última instância, para os seres humanos. Os efeitos dos microplásticos na vida marinha, da mesma forma, em grande parte não são compreendidos ”, disse ele.
Há poucos dados sobre a quantidade de microplástico nas águas da Antártica, e os pesquisadores disseram esperar que este novo estudo leve a um maior entendimento da extensão global dos poluentes químicos e plásticos.
Bengtsson disse: “O plástico foi encontrado em todos os cantos dos oceanos, desde a Antártica até o Ártico, e também no ponto mais profundo do oceano. Precisamos de uma ação urgente para reduzir o fluxo de plástico em nossos mares e precisamos de reservas marinhas em grande escala – como um enorme santuário antártico oceânico que mais de 1,6 milhão de pessoas estão pedindo – para proteger a vida marinha e nossos oceanos para as gerações futuras ”.
As amostras foram coletadas durante uma expedição de três meses do Greenpeace à Antártica, de janeiro a março de 2018.
Uma decisão sobre a proposta do santuário, que está sendo apresentada pela UE e apoiada por grupos de campanha ambiental em todo o mundo, será tomada na próxima reunião da Comissão do Oceano Antártico na Tasmânia, em outubro.