Uma pesquisa coordenada pelo professor Dalton de Souza Amorim, da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras (FFCLRP) de Ribeirão Preto da USP, traz resultados surpreendentes no que se refere à fauna brasileira. Entre os milhares de insetos coletados, cerca de mil são de novas espécies e até gêneros. Desses insetos, 50 revelaram-se como espécies totalmente novas e uma delas, de um gênero ainda desconhecido, surpreendeu também o pesquisador australiano Daniel Bickel, um dos colaboradores do projeto, pela beleza do exemplar.
O próximo passo do projeto é saber a região exata de cada espécie. Outras 250 já foram selecionadas e sabe-se que também são de novas espécies. Entre as milhares que ainda serão trabalhadas, os pesquisadores acreditam que cerca de 700 também são novas espécies. “Algumas ainda não haviam sido encontradas no Brasil”, revela o professor.
O estudo, financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), dentro do Projeto Biota, levou mais de cinco anos para ser realizado e envolve ainda outros seis pesquisadores – da Universidade Estadual Paulista (Unesp) de Jaboticabal, do Museu de Zoologia da USP e da Universidade Federal do ABC.
Foram coletados insetos e moscas desde o Estado de Santa Catarina até a Paraíba e também no interior do estado de São Paulo, sul de Goiás, oeste de Minas Gerais e Mato Grosso do Sul. “Boa parte do material do estudo veio de outro Projeto Biota da Fapesp, com exemplares coletados basicamente ao longo da Serra do Mar”, conta o professor Amorim. No interior de São Paulo, as coletas foram realizadas nas regiões de Teodoro Sampaio, no Pontal do Paranapanema, Assis, Ribeirão Preto, Sertãozinho, Batatais, Matão. No sul de Minas Gerais em Cabo Verde, Bandeiras e Delfinópolis.
Geografia da biodiversidad
Uma das constatações recebida também com surpresa pelos pesquisadores foi o fato de terem identificado diferenças de até 100% em determinadas espécies entre aquelas encontradas no litoral e as que vivem no interior. Amorim garante que para alguns grupos de insetos existem 100% de separação entre florestas do mar e do interior, “como aqueles mosquitinhos que se alimentam de fungos e folhas em decomposição. O que encontramos na Serra do Mar não é o mesmo que encontramos no interior e vice-versa. São áreas distintas de endemismo”, revela.
Segundo pesquisador, ao longo do tempo foram criadas barreiras. Esses insetos não trocaram genes e foram se diferenciando. Como sobrevivem aquelas que se adaptam, “a fauna do sul de Minas Gerais, na região de Poços de Caldas, por exemplo, é a mesma de Santa Catarina. Achávamos que ela terminava em Campos do Jordão, mas existe um corredor com uma mesma espécie entre essas regiões”.
A partir desta constatação, ele alerta que os programas de proteção dessas áreas de florestas não devem ser os mesmos. “As espécies que estão nas florestas do interior, que são mais secas, estão extremamente ameaçadas em função, principalmente, da cultura da cana de açúcar, da soja e da laranja. A monocultura praticamente dizimou essas florestas, existindo muito poucas áreas protegidas nas regiões em que vivem essas espécies”, revela.
Preservação
Para o pesquisador, a preservação deve levar em consideração toda a biodiversidade. “Ainda não conhecemos a importância ecológica desses insetos, precisaremos de estudos mais detalhado. Contudo, eles fazem parte de um ecossistema”. Mesmo não sendo o objetivo central deste estudo, os resultados, avalia Amorim, são relevantes pois existe um clamor dentro e fora da comunidade acadêmica pela aceleração desses conhecimentos devido à destruição de ambientes naturais.
“Não temos noção da regionalização da fauna. Identificamos que cada região, como Espírito Santo e Rio de Janeiro, por exemplo, tem faunas muito distintas. Saber a distribuição dessas faunas vai apontar em qual local as reservas biológicas devem ser colocadas. O mais urgente é a criação de reservas de florestas no interior”, destaca Amorim.
O próximo passo do grupo é saber a região exata de cada espécie. Até onde uma determinada espécie presente no interior se estende em direção
costa, por exemplo. Se uma espécie da região de Ribeirão Preto vai até Santa Rita do Passa Quatro, ou até Campinas, onde tem um recorte de serrado. “Há várias perguntas sobre o limite de cada espécie que precisamos responder.”
Participaram do projeto “Limites geográficos e fatores causais de endemismos que a Floresta Atlântica indica” sete pesquisadores, mais de 25 alunos de graduação, pós-graduação e pós-doutoramento, além de pesquisadores internacionais, dos Estados Unidos e Austrália.
Fonte: EcoAgência