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TÉCNICA DE SOBREVIVÊNCIA

Estudo observa que coalas conseguem prever e regular seu corpo para altas temperaturas 

Para eles, a autorregulação da temperatura corporal pode desempenhar um papel mais importante do que táticas comportamentais conhecidas, como abraçar árvores

23 de junho de 2024
Júlia Zanluchi
4 min. de leitura
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Foto: Ilustração | Freepik

Estudo de observação mostrou que os coalas podem regular sua temperatura em um grau maior do que se pensava anteriormente, mas isso pode ser problemático à medida que o aquecimento global se intensifica.

Pela primeira vez, coalas selvagens em liberdade foram observados regulando suas temperaturas corporais antes dos dias mais quentes do verão, baixando suas temperaturas bem abaixo da média durante as condições mais frescas da manhã. O estudo foi publicado na revista Conservation Physiology.

“Isso sugere fortemente que os coalas preveem os dias mais quentes a partir das condições matinais e ajustam suas temperaturas centrais de acordo. Nunca vimos esse tipo de comportamento antes em coalas”, explicou a líder do estudo, Dra. Valentina Mella.

Durante duas semanas no noroeste de Nova Gales do Sul, cientistas da Universidade de Sydney, na Austrália, observaram uma colônia de coalas durante a época mais quente do ano em 2019.

No dia mais quente do estudo em que a temperatura chegou 40,8°C, os cientistas registraram a temperatura corporal mais alta (também 40,8°C) já medida em coalas. No entanto, na mesma manhã, a temperatura mais baixa já registrada para a espécie também foi medida (32,4°C), sugerindo que eles regulam sua temperatura corporal em um grau maior do que se pensava anteriormente.

“Essa autorregulação exige que os coalas individuais prevejam dias de temperatura extrema a partir das condições noturnas e matinais, ajustando a regulação do calor corporal de acordo”, disse Mella. “Nossos resultados indicam que a temperatura do ar e a temperatura corporal dos coalas estão intimamente alinhadas. O que nos surpreendeu foi que os animais autorregulados ‘permitiram’ que suas temperaturas centrais flutuassem com as condições ambientais, uma possível tática adaptativa para reduzir o resfriamento evaporativo, economizando cerca de 18% de água.”

Ela relatou que essa autorregulação da temperatura corporal parece desempenhar um papel mais importante na sobrevivência aos dias mais quentes do que táticas comportamentais conhecidas, como abraçar árvores.

Os coalas geralmente buscam manter sua temperatura corporal central em 36,3 graus dentro de uma faixa de 2,4 graus. “Em dias quentes, parece que uma forma adaptativa de regulação do calor—começando com uma temperatura corporal mais baixa—oferece espaço para deixar a temperatura corporal subir com a temperatura do ar em vez de tentar manter a temperatura estritamente na faixa normal usando água e outras técnicas para se resfriar”, explicou Mella.

No entanto, à medida que as temperaturas aumentam devido às mudanças climáticas de forma mais geral, essa técnica de sobrevivência pode se tornar bastante arriscada. Temperaturas acima de 40 graus podem ser fatais para mamíferos que se alimentam de folhas, como os coalas.

Os coalas têm métodos fisiológicos e comportamentais para gerenciar a temperatura corporal, incluindo sua pelagem altamente isolante, a capacidade de produzir urina concentrada para conservar água e seu baixo metabolismo, que reduz a produção de calor.

Além disso, os coalas também foram observados ofegando e lambendo sua pelagem para facilitar o resfriamento evaporativo. Eles também buscam micro-habitats mais frescos e podem adotar posturas de abraçar árvores para promover a troca de calor com árvores mais frescas.

Trabalhos anteriores dessa equipe de pesquisa também registraram coalas bebendo água livremente disponível durante dias muito quentes, um comportamento que anteriormente era desconhecido. “Embora tenhamos observado coalas abraçando árvores em dias quentes, isso não pareceu diminuir significativamente a temperatura corporal central. Embora isso possa ser parcialmente devido ao tipo de árvores, isso pode não ser uma estratégia central na modulação da temperatura corporal para essa população de coalas”, disse a Mella.

Ela ressaltou que a população de coalas observada é mais velha e, como muitas colônias da espécie, sofre de clamídia.

Os cientistas destacaram que todos os coalas observados no estudo estavam vivos seis meses depois, um sinal de que a modulação da temperatura corporal mais alta do que o esperado é uma técnica de sobrevivência para a espécie.

“Os modelos climáticos globais preveem que o clima seco e quente aumentará e que os eventos de seca aumentarão em frequência, duração e severidade. Isso provavelmente empurrará os coalas e outros mamíferos arborícolas que se alimentam de folhas para seu limite térmico”, finalizou a líder do estudos. “Nossos resultados reforçam a importância das mitigações climáticas para garantir a sobrevivência futura dos coalas.”

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