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COMPORTAMENTO

Estudo mostra que aves marinhas podem usar fenômenos naturais a seu favor

Elas enfrentam furacões para buscar alimentos no mar devido ao aumento de animais marinhos na superfície 

29 de julho de 2024
Júlia Zanluchi
2 min. de leitura
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Foto: Christoph Moning | Wikimedia Commons

As freiras-das-desertas, uma espécie de ave marinha nativa da desabitada Ilha do Bugio em Portugal, foram observadas seguindo ativamente furacões através do Oceano Atlântico. Este comportamento, detalhado em um estudo recente pelo biólogo Francesco Ventura e sua equipe da Instituição Oceanográfica Woods Hole, em Massachusetts (EUA), destoa do comportamento usual das aves em fortes tempestades.

Tipicamente, as aves evitam furacões devido à ameaça de ventos fortes e condições meteorológicas severas. No entanto, o estudo de Ventura, publicado na revista Current Biology, revela que os freiras-das-desertas exploram os furacões para aprimorar suas capacidades de caça.

Ao rastrear as aves com dispositivos GPS durante as temporadas de furacões do Atlântico em 2015, 2016, 2017 e 2019, os autores descobriram que essas aves perseguem as tempestades por até cinco dias e cobrem distâncias superiores a 2.400 quilômetros.

A estratégia por trás desse comportamento incomum reside nas perturbações oceânicas causadas pelos furacões. À medida que as tempestades se movem pelo oceano, elas agitam as águas, causando uma mistura entre as águas superficiais e as mais profundas. Essa mistura traz lulas, pequenos peixes e crustáceos — fontes primárias de alimento para as freiras — à superfície, tornando-os mais acessíveis.

As freiras-das-desertas não apenas seguem as tempestades, mas navegam através delas com precisão, voando ao redor dos furacões em um padrão horário, muitas vezes por mais de 24 horas continuamente, enfrentando velocidades de vento de até 100 km/h e ondas de até 8 metros de altura. Após essas perseguições exaustivas, eles retornam aos seus ninhos localizados nos penhascos da Ilha do Bugio, fazendo breves pausas para descansar durante o dia.

Essa descoberta é significativa, pois demonstra um exemplo notável de como os animais se adaptam a condições extremas, transformando ameaças potenciais em oportunidades.

Segundo Ventura, essa descoberta foi tão surpreendente que quase parecia inacreditável a princípio. As percepções do estudo sugerem que os freiras-das-desertas são excepcionalmente habilidosas em usar fenômenos naturais a seu favor.

As implicações desse comportamento se estendem além das freiras-das-desertas. Don Lyons, diretor de Ciência da Conservação do Audubon Seabird Institute, observa que outros animais também podem se beneficiar das águas ricas em nutrientes agitadas pelos furacões.

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