Às vezes tidos como “valentões” da vida marinha selvagem, golfinhos já foram observados sendo violentos com seus próprios filhotes e com filhotes de outras espécies. Cientistas têm visto golfinhos-nariz-de-garrafa (Tursiops truncatus) “sacaneando” peixes-boi bebês e estão em busca de uma explicação para este comportamento hostil.
Em um estudo publicado no último dia 10 de janeiro no periódico PLOS One, os pesquisadores documentaram 10 interações agressivas desses cetáceos em relação a filhotes de peixe-boi-da-Antilhas (Trichechus manatus manatus), visando tanto órfãos quanto aqueles que estavam com suas mães.
Os ataques foram registrados em Belize ao longo de um período de 21 anos, de 1999 a 2020, com a maioria ocorrendo entre 2015 e 2020. Mas o comportamento violento dos golfinhos não ocorre só por lá.
“Em todo o mundo, vemos golfinhos-nariz-de-garrafa literalmente agindo como babacas e sendo violentos com outras espécies”, afirma um dos autores do estudo, Jeremy Kiszka, professor de ciências biológicas na Universidade Internacional da Flórida, nos Estados Unidos, ao site Live Science.
Provas das agressões aos filhotes
Segundo contou o líder da pesquisa, Eric Angel Ramos, um cientista da Fundação Internacional para a Natureza e Sustentabilidade (FINS), os golfinhos não comem peixes-boi; por isso, ainda não está claro por que eles agem dessa forma com outra espécie.
“É provável que eles fiquem bastante curiosos quando encontram peixes-boi, e, como os golfinhos frequentemente são agressivos entre si, eles exibem esse comportamento com outras espécies”, supõe Ramos.
Os golfinhos, que iniciaram todas as interações flagradas pela equipe de cientistas, foram vistos tentando separar filhotes de suas mães, assim como assediando, mordendo esses bebês e colidindo contra eles.
Além das gravações, exames de saúde em filhotes de peixe-boi órfãos em um centro de reabilitação provaram as agressões. Os especialistas encontraram nos bebês marcas de mordidas com espaçamento indicativo dos dentes dos golfinhos-nariz-de-garrafa.
Kiszka se diz confiante em afirmar que os ataques tivessem como propósito matar os filhotes de peixe-boi. Segundo ele, os golfinhos podem agir de forma agressiva em relação a esses e outros animais marinhos porque os percebem como concorrentes por alimentos, espaço ou recursos.
Se os ecossistemas desses animais se degradarem devido às mudanças climáticas e atividades humanas, há uma maior chance de sobreposição dos habitats, resultando em um aumento dessas hostilidades, conforme o pesquisador.
As interações agressivas entre peixes-boi e golfinhos ocorreram ao longo de muitos anos, então é provável serem mais comuns do que os cientistas pensavam anteriormente. Isso é especialmente preocupante, pois o peixes-boi das Antilhas estão ameaçados em sua área de distribuição, que ocorre em ambientes marinhos, salobros e de água doce do sudeste do Texas ao nordeste do Brasil.
Em Belize, os peixes-boi estão ameaçados por colisões com embarcações, mesmo que lá exista uma população mais ampla da espécie. Entender os ataques dos golfinhos ao grupo pode ajudar conservacionistas a proteger filhotes e adultos. “Qualquer fonte adicional de mortalidade é algo com o qual devemos nos preocupar”, diz Kiszka.
Fonte: Galileu