Cientistas holandeses descobriram que a quantidade de cortisol presente em pelos de cachorros pode indicar o nível de estresse dos animais. Os pesquisadores chegaram a essa conclusão após realizarem análises químicas antes, durante e depois da permanência dos cães em abrigos. Os dados foram apresentados ontem na mais recente edição da revista especializada Scientific Reports.
O cortisol é um hormônio já relacionado ao estresse, que se acumula no cabelo de humanos e também na pelagem de animais. Os cientistas da Universidade de Utrecht decidiram examinar se a medição dessa substância nos pets poderia ajudar a revelar o estado emocional dos bichos e suas variações ao longo do tempo. “Essa técnica tem sido amplamente utilizada em humanos e, agora, é avaliada com outras espécies. Queremos usá-la como um medidor de longo período, para entender alterações emocionais de semanas e até meses”, detalharam os especialistas no artigo.
No estudo, os pesquisadores examinaram pelos de 52 cães de abrigos em quatro momentos: na hora da admissão, após seis semanas no local, 42 dias depois de serem adotados e ao completarem um semestre no novo lar. As taxas de cortisol verificadas antes da entrada no centro de acolhimento também foram comparadas com as de 20 cães domésticos, que eram semelhantes em termos de raça, idade e sexo.
“Fizemos medições diárias por mais de um ano. Após a adoção, os novos tutores cortaram os pelos dos cães e nos enviaram. Eles foram prestativos e entusiasmados, pois queriam entender mais sobre a saúde de seus animais antes da adoção”, explicou, em um comunicado à imprensa, Janneke van der Laan, pesquisadora da Universidade de Utrecht e uma das autoras do estudo. “Além do cortisol na pelagem, medimos a quantidade desse hormônio na urina dos cães. Isso fornece uma imagem de curto prazo, enquanto as medições de pelo revelam o longo prazo”, acrescentou.
Alterações
Nas análises, os cientistas não viram diferenças entre os níveis de cortisol dos cães quando eles entraram no abrigo e o grupo controle de cães domésticos, mas após os seis meses no lar de desabrigados a taxa do hormônio do estresse aumentou em um terço. Nas medições feitas seis semanas e seis meses depois da adoção, os níveis de cortisol caíram, em um número próximo ao da primeira medição. “Sabemos que um abrigo não é um ambiente livre de estresse para cães, mesmo que os membros da equipe façam o possível para alcançar o maior bem-estar possível para esses animais”, explicou Van der Laan. “Mesmo que você organize um lar de animais de rua da melhor maneira possível, ainda há fatores de estresse, como ter que conviver com uma multidão de outros cães e não poder sair com a frequência habitual”, acrescentou a especialista.
Outro resultado que surpreendeu os pesquisadores se refere a níveis mais altos de cortisol em animais menores. “Não temos uma hipótese clara sobre porquê isso acontece, mas é um resultado interessante, que será foco de nossas pesquisas futuras”, adiantou a autora do estudo. Os cientistas também pretendem realizar análises com outros animas que vivem em abrigos, como gatos.
Fonte: Correio Braziliense