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ESCLARECIMENTO

Estudo determina as formas subestimadas nas quais a vida selvagem faz parte do ciclo de carbono

Recuperar populações de lontras, lobos, baleias, peixes e outros animais que formam o ecossistema poderia capturar surpreendentes 6.4 bilhões toneladas de CO2 anualmente

11 de abril de 2023
Alexia Vieira dos Santos; Lucas Yaegashi Campana; Anna Luiza Sinzker; Aline Scarmen Uchida
4 min. de leitura
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Foto: Divulgação

Quando as pessoas advertem que a destruição da natureza está contribuindo para a mudança climática, a imagem que frequentemente pensamos são florestas tropicais derrubadas por motosserras e incêndios. Porém, Oswald Schmitz gostaria que você pensasse além dessa imagem também: pense em gnus

Quando as pessoas falam tanto sobre as causas  quanto as soluções para a crise climática, as plantas são geralmente o ponto principal das conversas quando o assunto é sistemas naturais. Faz sentido as pessoas pensarem em plantas primeiro, já que elas consomem CO2 do ar e o transformam em lenha e vegetação.

Por anos, Schmitz, um ecologista da Universidade de Yale, tem trabalhado para chamar a atenção das pessoas para as formas subestimadas nas quais os animais também fazem parte do ciclo do carbono. Há uma década atrás ele ajudou a criar o termo “animar o ciclo de carbono” para chamar atenção para isso.

Agora, ao escrever o em Nature Climate Change, ele expõe sobre  animais selvagens que retornam para seu habitat natural – conhecido como “renaturalização” – o que também pode trazer uma diferença considerável no excedente de carbono. “Espécies selvagens, através da sua interação com o meio ambiente, são a conexão perdida entre biodiversidade e clima”, disse Schmitz, que escreveu o artigo com cientistas parceiros dos Estados Unidos, Canadá, Europa e África do Sul.

Quanto carbono um gnu armazena?

Vamos pegar como exemplo o gnu. Com a sua cabeça quadrada, grandes chifres e quadris esguios, ele se assemelha a um bisão em uma dieta. Hoje em dia, mais de um milhão desses animais atravessam a savana africana, transformando a grama em fezes de gnu à medida que vão avançando. Mas, no início do século XX, as coisas eram bem difíceis para esses animais. Seus números caíram para 300.000 indivíduos devido a uma doença introduzida pelo gado de corte. Conforme  os rebanhos migratórios diminuíram, a grama cresceu descontroladamente e serviu de combustível para incêndios florestais maiores. Isso enviou, junto com a fumaça, mais carbono para a atmosfera.

Como consequência, a região do Serengeti passou de um sumidouro de carbono – que absorve mais carbono do que emite – para uma fonte de carbono, estimam os cientistas. Hoje em dia, com a erradicação da doença e o retorno das manadas de gnus, estas pastagens servem novamente como uma “esponja” para o carbono, armazenando até 4,4 milhões de toneladas a mais de CO2 do que quando o número de gnus se encontrava em seu menor nível.

Para defenderem o seu ponto, Schmitz e seus co-autores não se limitaram a somente um exemplo. Eles se propuseram a quantificar quanto carbono a mais poderia ser absorvido pelos ecossistemas se as principais populações animais fossem protegidas ou recuperadas. O valor total encontrado por eles: surpreendentes 6,4 bilhões de toneladas de CO2 por ano. Isso é aproximadamente um sexto das emissões globais relacionadas à energia em 2021.

Este número foi estimado por cientistas pelo impacto climático em uma variedade na grande formação do ecossistema destes organismos. Há lontras marinhas, boi-almiscarado, bisão, lobos, e gnus, dentre outros. Essas criaturas podem alterar a dinâmica do carbono de diversas formas. No passado, eu discuti a importância de alguns destes animais. Os elefantes das florestas africanas, por exemplo, são reconhecidos pelo melhoramento dos reservatórios de carbono, uma vez que o seu banquete são árvores, criando um espaço para espécies ricas em carbono se espalhassem suas as sementes presentes em seu esterco se alastrassem. Os misticetos estão sendo divulgados como defensores do clima porque o ferro concentrado em suas fezes estimula a absorção de carbono das microalgas.

Mas o efeito dessas baleias gigantes – e das outras espécies examinadas – são menores que dos cardumes de peixes. O aumento do número de baleias no Oceano Antártico pode capturar 620.000 toneladas de CO2, enquanto os peixes ao redor do mundo podem capturar mais de 5,5 bilhões de toneladas, de acordo com o estimado.

Estes números são apenas uma parcela do cenário. Devido à escassez de dados, os cientistas não incluíram um número de espécies que podem operar a  dinâmica carbônica do ecossistema: búfalo africano, rinocerontes brancos, pumas, primatas e macacos, morcegos frugívoros e outros.

Ainda, para Schmitz, a mensagem é clara. “Permitir que espécies de animais alcancem uma densidade ecológica significativa como parte de cenários dinâmicos e marítimos pode provavelmente encurtar o tempo necessário para o marco de redução atmosférica de carbono”.

Tudo isso faz  emergir uma pergunta. Considerando todos, desde os gigantes produtores de combustível fóssil até uma superpotência mundial e benfeitores locais que se comprometem a plantar árvores para ajudar a capturar o carbono, quem começará uma campanha parecida para, digamos assim, espalhar mais lobos na natureza em prol da proteção climática?

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