A Amazônia está passando por mudanças profundas e perigosas em seu ciclo hidrológico. É o que revela um estudo que analisou as variações dos átomos de oxigênio presentes nos anéis de crescimento de árvores da região. A pesquisa cobre o período entre 1980 e 2010.
As árvores crescem de forma circular, criando anéis em seus caules. Ao extrair amostras destes anéis, é possível observar, nos mais centrais, a quais condições a planta foi exposta dezenas ou até centenas de anos antes.
Com base neste princípio, cientistas das Universidades de Leeds e de Leicester, na Inglaterra, e do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA), no Brasil, observaram que as chuvas estão aparecendo apenas nas estações chuvosas, quando se tornam demasiado intensas. Ao mesmo tempo, as estações secas se tornaram mais intensas e duras.
Os dados foram obtidos a partir de amostras de duas espécies: Cedrela odorata, que cresce em áreas de terra firme, e Macrolobium acaciifolium, comum em áreas alagadas.
Chuvas mais intensas e secas prolongadas
A análise demonstrou aumento de 15% a 22% na precipitação durante o período de chuvas. Já na estação seca, foi detectada redução entre 8% e 13% ao longo dos 30 anos observados. Isso confirma uma intensificação da sazonalidade climática na região.
A equipe utilizou o modelo de destilação de Rayleigh para interpretar os dados. O método permite estimar como a umidade atmosférica varia ao longo do trajeto da chuva, com base em alterações nos isótopos de oxigênio.
Esses resultados foram publicados na revista Communications Earth and Environment, na terça-feira (17/06). A abordagem traz uma nova forma de observar mudanças climáticas, mesmo em áreas com escassez de dados meteorológicos.
Riscos para ecossistemas e populações
“Nossa pesquisa demonstra que o ciclo hidrológico da Amazônia está se tornando mais extremo. O aumento das chuvas na estação chuvosa pode levar a inundações mais frequentes e severas, enquanto a redução das chuvas na estação seca agrava as condições, impactando a saúde da floresta e a biodiversidade”, diz o professor Roel Brienen, da Universidade de Leeds.